Em ano “terrivelmente bom”, Prefeitura de Canaã arrecada mais de R$ 1 bilhão livres

Ela foi a que mais enriqueceu no Brasil e já arrecada muito mais que duas capitais de estado. Se ano passado Canaã dos Carajás acochou Marabá, este ano deve passar como trator para alcançar posto de 3ª mais rica do PA. Próxima “vítima” a ser atropelada é Parauapebas.

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Nenhuma prefeitura brasileira, entre as 5.568 existentes, experimentou aumento de receita em 2020 com a mesma intensidade de Canaã dos Carajás. No ano que tinha tudo para dar errado, do ponto de vista financeiro, por conta das inúmeras paralisações de quase tudo pela pandemia de coronavírus, a prefeitura da “Terra Prometida” quase não deu conta de receber tanto dinheiro em seu cofre. E detalhe: apesar de ainda não ter prestado contas aos órgãos de controle externo, o Blog do Zé Dudu descobriu que o faturamento líquido, aquele já livre de deduções legais, totalizou R$ 1.014.276.213,66. E vá já se acostumado a cifras tão impronunciáveis assim: números extensos como esses passarão a fazer parte do cotidiano de Canaã.

A informação é exclusiva do Blog e não será encontrada no portal de transparência do município, que informa outro valor o qual padece de ajuste contábil. A receita líquida arrecadada pela prefeitura consta da prestação de contas da Câmara de Canaã dos Carajás, que utiliza o valor como parâmetro para cálculo da despesa com pessoal da Casa.

A escalada da arrecadação de 2020 em relação a 2019, quando a receita líquida municipal foi de exatos R$ 631.572.568,02, é de arrepiante 60,6% — a segunda prefeitura que mais viu crescer a receita, proporcionalmente, foi a vizinha Parauapebas, mas na taxa de tímidos 21,7%. Há três anos consecutivos o Blog do Zé Dudu registra os recordes do governo de Canaã dos Carajás como o financeiramente mais próspero do país.

Um dos mais jovens municípios brasileiros, Canaã agora é o mais novo integrante do seleto grupo de prefeituras bilionárias do país, composto por 95 nomes. E como previu o Blog em matéria do início de janeiro (relembre aqui), a briga pelo posto de 3ª prefeitura mais rica do Pará — antes pertencente a Marabá de forma isolada e tranquila — foi decidida nos “acréscimos”. A Prefeitura de Marabá segue sendo a titular da posição, mas acabou de ser destronada este mês.

A diferença de receita líquida entre a centenária Marabá — que é avó da jovem Canaã dos Carajás — e a neta foi de apenas R$ 6,5 milhões. A Prefeitura de Marabá arrecadou, líquidos, R$ 1.020.693.025,53. Os números bilionários de ambas as prefeituras poderiam passar despercebidos não fosse o fato de Marabá (com cerca de 300 mil habitantes) governar para cinco vezes mais moradores que Canaã (que extraoficialmente chega a 60 mil) com praticamente o mesmo tanto de dinheiro disponível. Além disso, a prefeitura da Terra Prometida já arrecada mais que a de duas capitais: Rio Branco-AC (R$ 927.921.087,20) e Macapá-AP (R$ 887.360.857,29).

E qual o segredo de Canaã dos Carajás?

A “carta na manga” para o faturamento de Canaã ter enlouquecido em 2020 chama-se mineradora multinacional Vale, sem a presença da qual a cidade seria mais um daqueles vilarejos perdidos no mapa do extenso e subdesenvolvido estado do Pará. A Vale foca com carinho seus negócios na Serra Sul de Carajás, cuja extensão de terras situa-se dentro do município. É aí que a empresa fará o maior investimento publicamente anunciado até 2024.

Hoje, a Prefeitura de Canaã dos Carajás surfa na onda do avanço da produção física da mais que bem-sucedida mina S11D, que à medida que produz milhões de toneladas de minério de ferro para a Vale, rende à administração municipal compensação financeira conhecida pelo chamego de royalties de mineração.

Essa compensação tem deixado felicíssima e bilionária há quase três décadas a Prefeitura de Parauapebas e, desde 2004, a Prefeitura de Canaã, que começou faturando compensação sobre a exploração de cobre e, desde 2017, recebe mesada multimilionária mensal sobre a lavra do minério de ferro. A diferença entre Parauapebas e Canaã é que a prefeitura do primeiro município demorou 32 anos, desde o primeiro carregamento de minério de ferro, para cruzar R$ 1 bilhão líquidos, ao passo que Canaã demorou apenas 4 anos para avançar o imponente sinal.

No ano doloroso de pandemia para milhares de famílias do Brasil e do mundo, a Vale prosperou como nunca antes no Pará e a Prefeitura de Canaã dos Carajás provou que, em poucos anos, alcança e supera seu município-mãe, Parauapebas, em arrecadação. A taca vai começar pela avó, Marabá, que é mãe de Parauapebas. É um verdadeiro exemplo da família “moderna” brasileira, unida pela fofoca de prosperidade da boa vizinhança, mas separada por uma mesma amante transnacional de garimpo e que oferece prazeres distintos em compensação, literalmente.