Helder inicia maratona na região mais rica do Pará e com prefeituras falidas

40% dos prefeitos da região, os quais devem bater perna atrás do governador, gastaram mais do estipulado em lei com servidores; municípios padecem em saúde, educação, saneamento.

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O governador Helder Barbalho começou nesta terça-feira (2) a despachar de Marabá, capital itinerante do Pará até o próximo dia 5. Como parte do cumprimento de sua promessa de campanha, de fazer uma gestão presente por todo o estado, Helder já passou por Santarém, no oeste do Pará, e ainda vai despachar em Breves, no região do Marajó.

Em Marabá, o governador atende a demandas específicas da mesorregião composta por 39 municípios que se estendem por 297.365,72 quilômetros quadrados, uma área dentro da qual caberiam duas Inglaterras e uma Bélgica. Nesse pedaço de terra, marcado por desmatamento, violência e conflitos por posse de terra, moram 1,97 milhão de habitantes, entre os quais 1,17 milhão de eleitores. É muito mais gente que a população do Tocantins.

Sai do sudeste do Pará a maior parte da produção de riquezas do estado. De acordo com a última medição de Produto Interno Bruto (PIB) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os 39 municípios da mesorregião produzem anualmente R$ 45,82 bilhões em riquezas, o equivalente a 33% da produção de todo o Pará. Só em produtos agrícolas são, em média, R$ 3,07 bilhões por ano, além da vantagem de contar com 13,99 milhões de cabeças de gado, um rebanho superior ao de 22 estados do país.

É nesse pedaço de terras que estão, também, três dos dez municípios que mais dão lucro ao Brasil na balança comercial: Parauapebas e Canaã dos Carajás, com sua força na produção de minério de ferro de alto teor, tão cobiçado pelos chineses; e Marabá, potência na produção de cobre e outras commodities de elevado apreço na Europa e no Oriente Médio. Os maiores produtores de recursos minerais da nação são esses municípios, que, juntos, movimentaram aproximadamente R$ 36,5 bilhões no ano passado, de acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Ricas e falidas, governador

Das dez prefeituras mais ricas do Pará em 2018, cinco estavam no sudeste paraense (Parauapebas, Marabá, Canaã dos Carajás, Tucuruí e Paragominas). No entanto, dos 39 governos municipais, 40% estão com a corda no pescoço porque não conseguem arrecadar a contento a ponto de sustentar as extravagantes despesas como folha de pagamento. Há 15 prefeituras na mesorregião, entre 35 que entregaram prestação de contas do ano passado, enforcadas com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — e muitas assim estão desde que seu gestor assumiu o comando em 2017.

A Prefeitura de Rondon do Pará tem o caso mais dramático. A administração local consome 73,5% da receita corrente líquida com a folha de pagamento. As prefeituras de Pau D’Arco (67,93%), Tucuruí (64,47%), Itupiranga (61,53%) e Cumaru do Norte (61,51%) também estão na forca, quase à beira de uma “intervenção estatal” para conseguirem sobreviver. Tucuruí, a mais rica entre elas, até tem recursos financeiros, mas os exageros político-administrativos têm deixado a “Capital da Energia” à beira da falência.

Nesta quarta-feira (3), o governador visita Parauapebas, o município que mais produz riquezas e cuja prefeitura foi a 4ª que mais arrecadou na Região Norte no ano passado, depois das capitais Manaus (AM), Belém e Porto Velho (RO), de acordo com o Tesouro Nacional. Em Parauapebas, Helder encontrará um recorte do caldeirão de problemas de que padecem os municípios da mesorregião.

Parauapebas está inundado em desemprego (são cerca de 45 mil desempregados, embora muitos trabalhadores até estejam ocupados, mas na informalidade) e o esgoto corre, vergonhosamente, a céu a aberto, bem debaixo do nariz de 90% dos moradores da área urbana. Os indicadores de saúde, educação e ensino superior são precários e, mesmo diante de uma receita colossal, o município não oferece desenvolvimento social a contento. A pobreza disparou esta década e já atinge 63 mil cidadãos, de acordo com o Cadastro Único do Ministério da Cidadania.

Helder, que sabidamente tem apreço pela região, terá dias de muito abacaxi para descascar com os prefeitos, muitos dos quais governam para milhares de cidadãos que vivem em situação de miséria e até passam fome numa das regiões economicamente mais bem-sucedidas da nação.