A vida perpetuada numa árvore que embeleza e encanta em Parauapebas

Alexandre Torres partiu, mas será sempre lembrado por todos os que o amaram e a quem também dedicou tanto amor

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Na terça-feira retrasada, dia 9 de março de 2021, um pé de Ipê foi plantado no Mirante da Pedra da Harpia, na Floresta Nacional de Carajás. Daqui a dois anos, quando ele começar a dar as primeiras flores, elas estarão com uma cor especial, alegres e cheias de vida, exatamente como era Alexandre Sousa Torres, cujas cinzas foram colocadas na raiz da árvore. 

Xandão, como era carinhosamente chamado pela família e pela legião de amigos que deixou em Parauapebas, partiu do mundo material às 23h do dia 5 passado, em um hospital de Belém, após ter vencido uma pancreatite, uma cirurgia de vesícula e a covid-19. Já sem forças físicas, perdeu apenas para uma bactéria multirresistente.

Mas ele era assim, forte, determinado, ao mesmo tempo solícito, solidário, amigo-irmão. É assim que o definem as pessoas que conviveram com ele: mãe, irmãos, amigos e até dirigentes de entidades a quem ele ajudava em silêncio, sem propaganda, sem marketing pessoal.

“Mana, quando eu morrer quero que dois desejos sejam realizados: um é que o meu corpo seja cremado e as cinzas sejam espalhadas na Floresta Nacional de Carajás; o outro é que você continue ajudando as entidades que hoje eu ajudo, todos os meses,” disse Xandão à irmã Adriana, há muito anos, quando ainda era bem jovem.

Um sonho

Filho de piauiense com maranhense, Alexandre Torres nasceu em Belém, capital do Pará, mas aos seis anos de idade mudou-se com a família para Parauapebas. O pai, Valdivino de Barra Torres – já falecido e um dos pioneiros –, chegou à cidade nos primórdios da descoberta da grande jazida de ferro do Carajás, onde trabalhou com pesquisas geológicas. A mãe, Honorina Oliveira Sousa Torres, além de Xandão, deu à luz a Adriano, Aparecido, Alan, Valdivino Jr., e Adriana. A família veio morar na Serra dos Carajás, na Vila de N-5, durante a implantação do Projeto Ferro Carajás.

Inspirado no pai, desde muito jovem Xandão sonhava em “trabalhar na Vale”. Assim, em 1995, mudou-se para São Luís, onde estudou, entrou na universidade e retornou no ano de 2000, formado em Administração, indo atrás do sonho.

Após trabalhar em algumas empreiteiras da mineradora multinacional, ele foi gerente do Docenorte, o clube da Vale. Daí para entrar na empresa, foi um pulo. Em 2005, Xandão já era “funcionário da Vale” e orgulhava-se disso e da empresa, cuja camisa vestia com lealdade e empregando toda a sua competência no dia a dia.

Ultimamente, trabalhava na função de Analista Master, e, a cada folga de campo, viajava para São Luís. Ia passar os dias com dona Honorina, de quem cuidava e recomendava que fosse bem cuidada, sempre.

Via-crúcis

No dia 5 de fevereiro, foi internado no Hospital Yutaka Takeda, na Serra dos Carajás, com pancreatite. No mesmo dia, diagnosticado com cálculo na vesícula e removido para a capital em uma Unidade de Terapia Intensiva aérea, foi internado no Hospital Adventista de Belém.

Passou por tratamento e, no dia 10, foi submetido a cirurgia. O procedimento foi bem sucedido e, no dia 11, ele recebeu alta. Estava contente com o resultado, chegou a ligar, do hotel, para parentes e amigos, informando que no dia seguinte retornaria a Parauapebas.

Entretanto, no mesmo dia, à noite, sentiu dificuldades respiratórias e muita secreção. Comunicou ao enfermeiro da Vale, que o acompanhava desde que saiu de Parauapebas. O profissional de saúde imediatamente providenciou o retorno dele ao Hospital Adventista, onde Xandão foi diagnosticado com covid-19, tendo 50 por cento dos pulmões comprometidos. 

Teve de ser intubado e ficou até o dia 2 de março nessa condição, em um dos leitos de UTI destinados a pacientes de covid-19, quando foi declarado curado da doença.

Muito enfraquecido, foi transferido para outra UTI, na qual ficou até o dia 4, quando foi retirado o respirador. Ainda foi submetido a uma traqueostomia, para a colocação de ventilação mecânica, uma vez que, com o organismo ainda muito fraco, não conseguia respirar sozinho.

No entanto, no mesmo dia, foi atacado por uma bactéria multirresistente, contra a qual os médicos usaram de todos os recursos e medicamentos possíveis, mas também perderam a batalha. Xandão partiu para outro plano às 23h do dia 5, uma sexta-feira.

Desejo realizado e homenagem

No dia 9, por volta das 12h30, o desejo de Xandão foi realizado por familiares e amigos. Na Pedra da Harpia, em plena Floresta Nacional de Carajás, parte das cinzas dele foram jogadas ao vento, como ele pediu a Adriana. 

A outra parte, foi colocada nas raízes de uma muda de Ipê, plantada especialmente naquela ocasião, como forma de perpetuar, na planta, a lembrança de Xandão. Dentro de 30 dias, amigos dele estarão novamente na Pedra da Harpia, dessa vez para colocar ali, naquele pé de Ipê, uma placa em sua homenagem.

Um desses amigos é Wagner Santos, que conviveu com Xandão desde a infância em Parauapebas, nos anos 1980, e com quem tinha forte laço afetivo, assim como todos que provavam da amizade de Alexandre.

Para Wagner, a realização do desejo de um grande amigo foi “uma emoção que não dá para descrever”, ter participado com a família e alguns amigos de infância do espalhamento das cinzas na Floresta Nacional do Carajás, “uma floresta que ele tanto amou”.

“O Alexandre é um ser de luz, que aqui cumpriu a sua missão. Ele ajudava muita gente, ajudou muitos pais de família a conseguirem um emprego, ajudou também muitas famílias carentes, mas não divulgava esse trabalho, e isso era muito bonito. Agora, ele vai ajudar mais ainda lá, com os nossos irmãos de luz,” afirma o amigo.

Por Eleuterio Gomes – de Marabá