Decorridos mais de cem dias desde que assumiram seus postos de comando nos milhares de municípios espalhados Brasil afora, “novos” e “velhos” administradores públicos já arquitetam uma marcha de protestos a Brasília, com o objetivo de sensibilizar os líderes do Congresso e o próprio governo federal, a reavaliar a proposta de “perdão” das dívidas existentes nas prefeituras.
A peregrinação pode criar um “afrouxamento” na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), impondo mudanças significativas na correção dos valores dos encargos cobrados sobre a burocracia que tanto usufruem quando, não mais, farra com o dinheiro do povo e aumento no nível de corrupção.
Insatisfeitos com a crise econômica mundial, que tem provocado queda significativa na arrecadação de impostos das cidades, os políticos tem desperdiçado dinheiro do contribuinte com contratações de cargos de confiança desnecessários. Diante dos holofotes da imprensa, eles vivem pregando a estabilização e o saneamento das contas dos Estados e Municípios, atualmente com déficits em torno da casa dos 106 bilhões de reais e 50 bilhões de reais, respectivamente.
Sabe-se inclusive que, com a proximidade das eleições presidenciais do ano que vem, o leque de alianças entre os partidos tende a ser ampliado e, junto dele, os pedidos por mais verbas serão inevitáveis, colocando o governo federal numa encruzilhada.
O gesto dos atuais prefeitos em espernear junto da imprensa contra a crise nada tem de novidade, pois o círculo vicioso dos gastos continua rolando solto nas administrações municipais. Se estivessem efetivamente empenhados em lutar contra as dificuldades originadas pelo atual momento econômico, começariam pelo corte no número de cargos de confiança, muitos deles hoje ocupados por gente inútil e oportunista.
Mas, infelizmente, falta a maioria desses gestores, consciência, transparência nos atos e cultura suficiente para que se posicionem contrários aos vícios irmanados dentro da esfera pública. Junto deles estão mordomias, verbas indenizatórias e tantos outros benefícios pagos com o dinheiro do contribuinte, por meio de repasses de verbas alocadas nas prefeituras.
Se a crise dos municípios se agravar a primeira vítima acabará sendo o funcionário público, que poderá não receber seu pagamento em dia. Junto dele virão as deficiências ou o próprio colapso dos serviços essenciais à população, como é o caso da saúde, educação, saneamento básico e segurança dos munícipes.
Já os vereadores e prefeitos, por terem foro privilegiado e verbas exclusivamente destinadas a seus custeios, continuarão recebendo sem maiores percalços.Tudo em nome da legitimidade e da manutenção da ordem que tanto se vangloriam, vez ou outra.
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Radical se transforma em moderado – Por Ivanildo Vilanova
Radical se transforma em moderado
Se quiser jogar bem no outro time
Ou acopla-se aos moldes do regime
Ou por outra depois tu é cassado
Quando não ele fica deslumbrado
Com mulheres, passeios e prazer
Mordomia, jetom, luxo e lazer
Tudo isso é efêmero, mas ilude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
O ministro, o prefeito, o deputado
Com direito a chofer e secretária
Segurança, assessor, estagiária
Gabinete com ar condicionado
Vai lembrar-se do proletariado
Com favela e cortiço pra viver
Ou será que não vai se aborrecer
Com esgoto, favela, mofo e grude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
E o mártir que tem convicção
De arriscar sua vida, seu emprego
A família, o futuro, o sossego
Por um povo, um projeto, uma nação
Um Sandino tentou mas foi em vão
Um Guevara esforçou-se por fazer
Hoje em dia é difícil aparecer
Marighela, Lamarca ou Robin Hood
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Que fará um sujeito agitador
Bóia-fria, sem-terra, piqueteiro
Camarada, comuna, companheiro
Se um dia tornar-se senador
Vindo até se eleger governador
Qual será o seu novo proceder
Vai mudar, mentir ou vai manter
As promessas que fez de forma rude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Quem tem honra, da mesma não se aparta
É querer liberdade pra o Nordeste
É Xanana Gusmão do Timor Leste
Enfrentando os exércitos de Jacarta
Boutros Ghali primando pela carta
Que o Pentágono queria prescrever
É qualquer palestino a combater
Um Netanyahu ou Ehud
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
No período que o adolescente
Quer mudar o planeta e o País
Através dos arroubos juvenis
Vira líder, orador e dirigente
Mas se um dia ele vira presidente
O que foi nunca mais poderá ser
Aí diz que o remédio é esquecer
As loucuras que fez na juventude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Todo jovem a princípio é sectário
É o atuante grevista, condutor
Exaltado, anti-yankee, pregador
Um perfeito revolucionário
Cresce, casa-se e torna secretário
E aí o que trata de fazer
Leva logo a família a conhecer
Disneylândia, Washington e Hollywood
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Quem vivia de luta e de vigília
Invasão, pichamento e barricada
Através disso aí fez uma escada
Pra chegar aos tapetes de Brasília
Vai pensar no progresso da família
E o que faz pra do posto não descer
Nunca falta quem queira se vender
Sempre acha um covarde que lhe ajude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Dirigido não é o dirigente
E dominante não é o dominado
Se quem vive debaixo é revoltado
Quando sobe ele fica diferente
Compreendo a fraqueza dessa gente
Submissa ao desejo de vencer
Quem sou eu pra ser dono da virtude
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder
Eu já vi muita gente amarelar
Por pressão covardia ou por dinheiro
Jornalista, cantor e violeiro
Metalúrgico, político e militar
Só Luís Carlos Prestes foi sem par
Defendeu sua tese até morrer
E Gregório Bezerra sem temer
Levou seus ideais ao ataúde
Não conheço esquerdista que não mude
Quando pega nas rédeas do poder…
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IVANILDO VILANOVA
Trecho da faixa dois do CD Improvisos do Brasil. Mesmo autor da letra de “Nordeste Independente”, musica gravada por Elba Ramalho. Ivanildo Vilanova, advogado, é considerado um dos maiores repentistas do País. Filho do violeiro José Faustino.