Empresas beneficiadoras de castanha-do-pará unem-se para valorizar o produto no exterior

As Mesas Executivas de Exportação, iniciativa organizada pela ApexBrasil, buscam promover as exportações do setor que contribui para a manutenção da floresta em pé
Castanha do Pará descascada, com casca e o ouriço onde as amêndoas se formam

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A ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) realizou, nesta terça-feira (6), em Belém, uma etapa das Mesas Executivas de Exportação, iniciativa na qual busca promover as exportações de setores que contribuem para a manutenção da floresta em pé. Empresas produtoras de castanhas do Pará participam da primeira reunião da Mesa Executiva de Exportação do setor, no Escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos na capital paraense.

A iniciativa, liderada pela agência, tem como objetivo promover a internacionalização do setor, removendo os gargalos para o comércio exterior e gerar mais renda para as comunidades locais.

A castanha-do-pará é um produto da sociobiodiversidade. Extraída por comunidades locais, em áreas de manejo florestal, a oleaginosa não é só uma opção de lanche saudável e rico em selênio, mas também uma fonte de renda para quem mantém a floresta em pé.

Apesar de ser uma espécie nativa da Amazônia, o Brasil tem uma baixa participação nas exportações da amêndoa. Em 2022, o país foi origem de metade das vendas do produto com casca no mundo, que somaram US$ 25,5 milhões. Quando se trata do produto beneficiado — sem casca —, contudo, cujo mercado internacional representa um valor 12 vezes maior, as castanhas brasileiras são menos de 10% do total.

O desafio para os produtores brasileiros é justamente reverter esse cenário, levando o produto beneficiado para consumidores de alto poder aquisitivo, dispostos a remunerar a produção da sociobiodiversidade. Para discutir o tema e pensar em como superar os entraves para essas exportações, empresas e cooperativas do setor participarão ao longo de 2024 da Mesa Executiva de Exportação de castanhas. Juntos, com apoio da ApexBrasil, buscarão soluções para problemas comuns.

De acordo com o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, ex-governador e ex-senador do Acre, um dos estados amazônicos entre os maiores produtores de castanha do Pará do Brasil, a inauguração do programa vai ao encontro de um dos objetivos da Agência, que é descentralizar as exportações brasileiras, estimulando a região Norte, que hoje corresponde a apenas 8,5% do total exportado pelo país.

“Esse Programa busca aproximar o empresariado amazônico dos mercados internacionais, organizando o setor produtivo em torno de desafios comuns e trazendo os compradores do mundo todo para conhecer o potencial dos produtos da floresta, que apresentam alto valor agregado”, explica.

Salo Coslovsky, representante do Amazônia 2030, que é parceiro na iniciativa, também está com altas expectativas sobre o projeto. “As Mesas Executivas de Exportação são uma das iniciativas mais inovadoras e promissoras de apoio à bioeconomia atualmente em curso na Amazônia brasileira. Elas colocam os produtores de vanguarda no comando, usam a exportação para impor um sarrafo alto de competitividade, e criam incentivos para que setor público consiga ajudar o setor privado a superar seus gargalos mais críticos”, defende.

Da aldeia para o mundo

Uma das participantes da Mesa Executiva de Exportação de Castanha é Elisângela Dell-Armelina, gerente de produção da cooperativa Coopaiter, criada em 2017. Formada por cerca de 200 famílias do povo indígena Paiter Suruí, de Rondônia, a missão do grupo é agregar valor para os produtos da floresta e de atividades tradicionais, buscando alternativas de renda para a população.

Atualmente, um dos focos da cooperativa é ampliar o mercado da castanha-do-pará. Desde 2019, eles possuem uma agroindústria, em que beneficiam e embalam o produto, e, desde 2021, buscam mercados internacionais, com apoio da ApexBrasil.

Dell-Armelina conta que a Coopaiter tem enfrentado o desafio de exportar produtos da marca, com a identidade indígena, original da Amazônia, já que o interesse de muitos compradores internacionais é trabalhar na modalidade “private label” (marca privada, na tradução do inglês). “A gente busca mercados conscientes da importância da conservação da Amazônia”, explica.

O objetivo da cooperativa é fugir do modelo commodity, de alta escala. “A gente vislumbra que as empresas percebam que ao comercializar com a cooperativa elas estão adquirindo não apenas o produto, mas também toda a parte social e ambiental que vem com ele, tanto da preservação da floresta como do povo que cuida dela”, defende.

A castanha do Pará é um dos alimentos produzidos pela floresta mais ricos em selênio — poderoso antioxidante que combate o câncer

Valor agregado: manter a floresta em pé

O proprietário e CEO da empresa Castanhas Ouro Verde, Ítalo Toneto, começou a exportar há pouco tempo, mas também já está engajado nas reuniões para impulsionar a internacionalização do setor. Em 2020, a empresa com sede em Rondônia participou do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), da ApexBrasil, e em 2022 começaram as primeiras vendas para o exterior.

Agora, o empresário quer trabalhar com as outras empresas do setor para conquistar novos mercados, com foco no valor agregado do produto. “Que todos estejamos trabalhando com castanhas de qualidade, e que a gente consiga se posicionar de acordo com a importância socioeconômica do setor, já que a castanha é a principal renda do extrativista, indígena, quilombola, que a colhe”, ressalta.

Para ele, um dos gargalos que o setor encara é a falta de parâmetros para demonstrar a qualidade das castanhas, como já acontece com produtos com cacau. Ele explica que já possui certificações para exportar para mercados como Estados Unidos, União Europeia e China, mas ainda enfrente a baixa valorização do produto por parte dos compradores.

De acordo com Toneto, os importadores deveriam precificar as castanhas do Brasil levando em conta seus atributos ambientais únicos. “Não é um produto que eu possa plantar. Depende 100% da natureza, não há manipulação da produção. É um produto da sociobiodivercidade que ajuda diretamente no combate ao desmatamento”. Ele lembra que quem está na mata extraindo castanhas é quem denuncia os madeireiros e desmatadores, já que ele depende da floresta preservada para o seu sustento.

Mesas Executivas: diálogos para estimular o crescimento sustentável

A fim de preparar as empresas e cooperativas da região para ampliar a presença no mercado internacional, a ApexBrasil lançou a Mesas Executiva de Exportação de castanhas. Essa estrutura setorial visa propiciar a identificação, priorização e remoção dos gargalos que dificultam as exportações do setor.

A mesa de diálogo constitui-se como fórum permanente, com encontros mensais, que reúnem empresas e cooperativas, representantes da ApexBrasil e parceiros. O intuito da Agência é que os participantes contribuam coletivamente para resolver problemas que precedem a exportação.

Após as empresas e cooperativas priorizarem os entraves à exportação, a ApexBrasil e parceiros do projeto, como o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Serviço Florestal Brasileiro, o projeto Amazônia 2030, o Observatório da Castanha da Amazônia, Embrapa, SEBRAE, Sistema CNA/Senar, Sistema OCB e universidades, buscarão corrigir os entraves com soluções de curto e médio-prazo.

Para saber mais sobre as Mesas Executivas, acesse o estudo sobre as Mesas elaborado pelo projeto Amazônia 2030.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.