Economia Verde e empreendedorismo são discutidos com ministro e empresário em encontro da FPE

Joaquim Leite será o chefe da delegação brasileira na COP-26
Dep. fed. Joaquim Passarinho (esq.), senador Antonio Anastasia, Pedro Lima, CEO Grupo 3 Corações, dep. Marco Bertaiolli, ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e Nabil Sahyoun, presidente do Instituto Unidos pelo Brasil

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Brasília – O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, participou nesta terça-feira (26) da rodada de palestras promovida pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) , em parceria com o Instituto Unidos pelo Brasil. Ele chefiará a delegação brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021 (COP-26), na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro.

O segundo convidado, presidente do grupo Grupo 3corações – o maior grupo de café do Brasil –, Pedro Lima, falou sobre as dificuldades encontradas para os empreendedores no país, a necessidade de promoção de iniciativas a favor do setor produtivo e a importância da iniciativa promovida pela parceria entre a FPE e o Instituto.

Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, em encontro na FPE

Às vésperas da conferência global sobre o clima, e um dia após o lançamento do Programa Nacional de Crescimento Verde, o ministro disse que o Brasil demonstrará na COP-26 as oportunidades criadas pelo mercado de carbono para que as demais nações cooperem para atingir a meta de reduções de emissões que agravam o aquecimento do planeta.

Segundo Leite, a iniciativa vai oferecer financiamentos e subsídios para incentivar projetos e atividades econômicas sustentáveis, priorizar a concessão de licenças ambientais e gerar os chamados “empregos verdes”. Com o pacote de incentivos, o objetivo é neutralizar a emissão de carbono pelo país até 2050.

O novo programa contará com recursos nacionais e internacionais, públicos ou privados, reembolsáveis e não reembolsáveis, fundos de impacto e investimentos de risco. Hoje, já existem linhas de crédito de bancos públicos – Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, por exemplo – que chegam a R$ 400 bilhões para projetos sustentáveis. O recurso contempla áreas de conservação e restauração florestal, saneamento, gestão de resíduos, ecoturismo, agricultura, energia renovável, mobilidade urbana, entre outras iniciativas empreendedoras.

“O maior desafio dos ‘negócios verdes’ é desfazer a ideia de que as ações do governo têm caráter apenas punitivo. Por isso, em outra direção, vamos incentivar, apoiar e priorizar os projetos verdes, para que promovam empreendedorismo e inovação sustentável, mostrando ao mundo que o futuro verde está aqui, no Brasil,” enfatizou Joaquim Leite durante cerimônia de lançamento do programa, realizada na última segunda-feira (25), no Palácio do Planalto.

O planejamento, a execução e o monitoramento de resultados do programa Crescimento Verde serão conduzidos por um comitê de governança, semelhante ao que ocorre com o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). 

O chamado Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e Crescimento Verde (CIMV) – antigo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima – tomará decisões integradas, como a criação de critérios para os projetos sustentáveis, observando, por exemplo, as características de cada região do Brasil e dos biomas.

“[O comitê] trará mais transversalidade à agenda verde, que agora está em onze ministérios, catalisando recursos, reforçando a agenda verde como uma das principais políticas públicas do Governo Federal,” pontuou Leite.

Na FPE, o ministro destacou que o Brasil chega na COP-26 como a maior potência verde do mundo. “O Brasil será bastante ambicioso nas negociações. Já fiz reuniões com mais de 60 países nos últimos dois meses,“ revelou.

Ele elogiou a iniciativa da FPE, que disse ser um espaço adequado para agilizar e discutir o empreendedorismo verde, relatando que, entre as estratégias para as negociações na COP-26, está a venda de “carbono verde”. “Entendemos como uma oportunidade de mercado o gás de carbono global. Podemos ser exportadores de carbono; o Brasil vai gerar créditos com o carbono,” aguarda o ministro.

“Podemos esperar uma direção de como será o mercado de carbono. Ou entramos no jogo do clima, ou entramos no jogo comercial. Estamos deixando claro que estamos no jogo do clima”, disse o ministro. E concluiu: “O Brasil será proativo e construtivo na tentativa de buscar a negociação e consensos”.

Dentre os pontos importantes que serão tratados no encontro global, Leite explicou que existe um acordo de financiamento de US$ 100 bilhões de dólares criado pelo G7 para ajudar as demais nações a criar os fundamentos de suas economias verdes. “Mas temos conversado com representantes de outros países e demonstrado que 100 milhões não vão ser suficientes para fazer a transformação da economia convencional para a economia verde,” adiantou.

Ele citou o exemplo recente no qual fatores climáticos extraordinários obrigaram o Reino Unido a reativar suas termelétricas movidas a carvão mineral a um custo de £ 1 trilhão de libras esterlinas.

Coordenador da FPE na Câmara, o deputado federal Joaquim Passarinho (PSD-PA) destacou que os 26 milhões de brasileiros que moram na Amazônia aguardam o dia em que terão seus direitos respeitados e possam empreender sem a tutela do estado.

“Políticas da economia verde devem levar em consideração a particularidade da vida dos habitantes da nossa Amazônia. A floresta, para ser mantida em pé, custa dinheiro. Quem pagará por isso?”, cobrou.

Membros da FPE e empresários convidados

O ministro convidou os empresários a participarem dos debates na COP-26, levando suas experiências e contribuições ao evento. Será agendado um painel transmitido em tempo real no estande do Brasil, com a participação dos empresários.

Pedro Lima, presidente do Grupo 3corações, no encontro da FPE

As dificuldades de empreender no Brasil

O outro destaque da reunião desta terça foi a palestra do empresário que preside o Grupo 3corações, o maior do ramo no Brasil, com presença em todo o país. A saga começou quando João Alves de Lima começa a vender café verde em São Miguel (RN) e dá início às atividades do grupo em 1959, nessa época lançando a sua primeira marca de café – o Café Nossa Senhora de Fátima.

Em 1984, os filhos Pedro, Paulo e Vicente Lima assumem o comando da empresa, iniciando o processo de modernização tecnológica e ampliação do mercado.

Pedro Lima contou a história da empresa e a sua trajetória pessoal, destacando mensagens sobre liderança, gestão, financiamento do negócio e criação de valor. Sobre sucessão empresarial, o empreendedor ressaltou o papel das novas gerações para a prosperidade do negócio.

“Um negócio tem que se perpetuar. As novas gerações precisam entregar mais do que receberam. É preciso ter esse compromisso. Os sucessores têm que continuar gerando prosperidade. Esse é que é o negócio da vida,” frisou.

O empresário também salientou: “O empreendedor fomenta a economia e é um dos pilares do emprego no Brasil. O empreendedorismo brasileiro está sufocado, temos que trabalhar juntos para convencer o parlamento brasileiro da importância do empreendedor brasileiro”.

Após as palestras, os parlamentares debateram com os convidados alguns avanços já conseguidos para fortalecer o empreendedorismo e um melhor ambiente de negócios no país, com a aprovação de matérias importantes na agenda de votações do Congresso Nacional.O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) ressaltou a importância de discutir as situações de trabalho no parlamento. Ele destacou os benefícios da reforma trabalhista aprovada no Congresso. “A Reforma Trabalhista no Brasil teve apoio dos parlamentares e reduziu em 80% o valor das ações trabalhistas”, disse. “Nós precisamos ficar atentos, porque há uma reação de questionar o que é aprovado pelo parlamento,” alertou.

Para o Senador Antônio Anastasia (PSD-MG), áreas do poder público aparentam ter “raiva do lucro, como se fosse algo negativo”. Na avaliação do parlamentar, isso é uma “ideia medieval”. “Me parece vital para o nosso oxigênio a construção de grupos de empresários sérios, em articulação com poderes públicos, para dialogarem. Nem tudo que o empresário falar vai prevalecer, ou vice-versa, obviamente,” disse sobre o esforço para melhorar o empreendedorismo.

Por Val-André Mutran – de Brasília