Alepa aprova projeto que reconhece comunidades tradicionais da Serra Pelada

De autoria do deputado Chamonzinho, texto declara sua história, memória, tradições, saberes e fazeres como Patrimônio Cultural Imaterial Do Pará

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Foi aprovado nesta terça-feira (6), pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), o Projeto de Lei 390/2021, de autoria do deputado estadual Chamonzinho, que reconhece como de especial interesse para o estado as comunidades tradicionais remanescentes e descendentes de garimpeiros do Garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis. 

Segundo o texto, passam a ser considerados como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado sua história, memória, tradições, saberes e fazeres, retirando-lhes a invisibilidade que a injustiça histórica lhe legou. O projeto visa legitimar e dar visibilidade aos saberes, fazeres e cultura dos descendentes de garimpeiros do que já foi o maior garimpo a céu aberto do mundo.

“Precisamos manter nossa memória e trajetória vivas, valorizar e reconhecer esse povo que é tão importante para nosso estado e nosso país. A história da Serra Pelada une-se à história do povo brasileiro, marcando com trabalho, dedicação e muita esperança o desejo por realizar sonhos,” enfatizou Chamonzinho.

O trabalho do deputado pelo reconhecimento e valorização dos garimpeiros faz parte de sua história política, com atuação firme por melhores condições de vida, reconhecimento e dando voz às demandas da classe. Ele também foi autor do PL que instituiu o Dia Estadual do Garimpeiro, comemorado anualmente em 11 de dezembro.

Em Curionópolis, cidade que nasceu por conta do garimpo da Serra Pelada, os filhos e netos dos garimpeiros que há 40 anos chegaram na localidade em busca do sonho dourado, reconhecem mais essa conquista como uma valorização de sua história. 

“É muito importante para todos nós vermos nossa história ser respeitada. Meu pai chegou aqui sem nada, com muitos sonhos. Construiu nossa família, lutou muito e hoje amamos e trabalhamos para ver nossa região cada vez melhor,” relembrou Rosangela Pereira, filha de Manoel Pereira, garimpeiro de Serra Pelada.

Justificativa

Em meados da década de 1980, o garimpo de Serra Pelada era a maior mina a céu aberto do mundo e maior produção de ouro, distante e imersa na selva amazônica, com a maior aglomeração de trabalhadores – surgindo daí a metáfora comumente usada de formigueiro humano ou de cenários bíblicos. Esses superlativos são insuficientes, apesar de significativos, para compreender outras dimensões vivenciadas pelos diversos sujeitos que fizeram parte dessas imagens. Essa tensão entre lembrança e esquecimento faz parte do processo de constituição de lembranças produzidas no campo dos enfrentamentos atuais.

Remanescentes desses grupos de garimpeiros, em considerável número, continuam morando, ainda hoje, em Serra Pelada, com suas famílias. São homens e mulheres que ali viveram e testemunharam o esplendor e a decadência da atividade garimpeira humana, e cujos descendentes se esforçam em manter viva essa memória tão rica para a história da atividade minerária nacional, sobretudo paraense.

Também devem ser realçadas, historicamente, as relações de trabalho e as condições de vida dos trabalhadores do garimpo de Serra Pelada, no sudeste do Pará, a partir da rememoração, alimentada pela imprensa, pesquisadores e relatos de garimpeiros. Partindo das vivências dos trabalhadores, é possível compreender seu vínculo com o poder instituído e com os demais garimpeiros.

Vale lembrar que algumas cidades surgiram ou cresceram em função da existência de áreas de exploração do ouro. Eldorado dos Carajás e Curionópolis, por exemplo que se constituem em aglomerados urbanos, têm suas histórias ligadas à existência de Serra Pelada, especialmente Curionópolis, onde se localiza a Serra Pelada, hoje distrito municipal, e onde residem as comunidades tradicionais remanescentes e descendentes de garimpeiros.