Senado aprova novo seguro obrigatório para veículos e autoriza em mais R$ 15,7 bilhões limite para as despesas da União

Governistas comemoraram a aprovação que vai à sanção do presidente Lula
Líder do governo no Senado Federal, senador Jaques Wagner (PT-BA) encaminhou a orientação à bancada

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Em apertada votação no Plenário do Senado na sessão de quarta-feira (8), o governo conseguiu o número mínimo de votos necessários para a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP n° 233/2023), que cria o novo seguro obrigatório para veículos (SPVAT), semelhante ao antigo Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres (DPVAT) e segue para a sanção da Presidência da República.

Foram 41 votos a favor, o mínimo necessário para esse tipo de proposição, e 28 contrários. Além do — novo DPVAT, os senadores mantiveram a emenda “jabuti“ (trecho inserido no texto original, sem relação com o objeto do projeto) — o que está virando “moda” em votações importantes —, e incomoda a sociedade, colocando em dúvida a credibilidade do trabalho legislativo.

Painel eletrônico, registrado o placar de votação

O texto do Projeto de Lei Complementar n° 233/2023, de iniciativa do governo, também aumenta em R$ 15,7 bilhões, em razão do de o “jabuti”, o limite para as despesas da União. Aprovado nessa terça-feira (7) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e enviado ao Plenário em regime de urgência, o projeto foi relatado pelo líder do governo, senador Jaques Wagner (PT-BA), paralelamente à intensas negociações de bastidores para a aprovação da matéria.

O líder Jaques Wagner destacou o caráter solidário do novo suporte “para quem não tem seguro contratado”. O texto cria o Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT). De acordo com a proposição, o SPVAT deve ser cobrado anualmente dos proprietários de automóveis e motocicletas e usado para pagar indenizações por acidentes. A Caixa Econômica Federal será a administradora do fundo desses recursos.

“É um seguro solidário. O valor deve ser entre R$ 50 e R$ 60 por ano. É para ajudar aqueles que não conseguem um seguro privado”, explicou Wagner.

Alterações no projeto original

A Câmara dos Deputados alterou o texto original proposto pelo Poder Executivo para ampliar a lista de despesas a serem cobertas pelo SPVAT. O rol passa a contemplar assistência médica e suplementar, como fisioterapia, medicamentos, equipamentos ortopédicos, órteses e próteses. Também passam a ser pagos serviços funerários e despesas com a reabilitação profissional de vítimas que ficarem parcialmente inválidas. Os deputados incluíram ainda a possibilidade de pedidos de indenização e assinatura de documentos por meio eletrônico.

O texto recebeu 30 emendas na CCJ do Senado. O senador Wagner acatou apenas uma delas, de redação, proposta pelos senadores Marcos do Val (Podemos-ES) e Rogério Carvalho (PT-SE). A alteração deixa claro que o cônjuge e os herdeiros da vítima devem receber indenização por morte e reembolso de despesas com serviços funerários. A vítima recebe as demais coberturas: invalidez permanente e reembolso por despesas com fisioterapia, medicamentos, equipamentos ortopédicos, órteses, próteses e reabilitação profissional.

Durante a votação na CCJ, o relator informou que o presidente Lula irá vetar o item que cria uma multa de trânsito por atraso no pagamento do SPVAT. Ele classificou a previsão de multa como uma penalização excessiva colocada pelos deputados durante a tramitação do projeto na Câmara.

Nas discussões em Plenário, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) apresentou um destaque para que o SPVAT fosse considerado obrigatório apenas para os proprietários que não tenham cobertura de outros seguros. Essa alteração foi rejeitada por 33 votos a 27.

Após o anúncio do final da votação, os governantes comemoraram a aprovação da matéria

Mudança fragiliza Arcabouço fiscal

Além de criar o SPVAT, o projeto altera e fragiliza o novo arcabouço fiscal (Lei Complementar n° 200, de 2023). O texto antecipa em dois meses a permissão para a abertura de crédito suplementar em caso de superávit fiscal. Segundo Wagner, a mudança permitiria uma elevação de 0,8% nas despesas da União, o equivalente a uma estimativa de R$ 15,7 bilhões.

Parte do dinheiro pode ser usada para compensar o corte de emendas parlamentares ao Orçamento (Lei 14.822, de 2024). Na mensagem de veto parcial ao texto do Orçamento (VET 4/2024), o presidente Lula suspendeu uma dotação de R$ 5,6 bilhões prevista para o pagamento de despesas sugeridas por comissões permanentes das duas Casas.

Conforme disse Wagner, a aprovação da matéria permite que o valor de R$ 3,6 bilhões seja usado para compensar o corte de emendas imposto pelo VET 4/2024. O veto ao Orçamento está na pauta de uma sessão deliberativa do Congresso, marcada para esta quinta-feira (9).

O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), afirmou que a alteração no arcabouço fiscal é apenas uma antecipação de valores. Randolfe disse que a liberação desses valores é necessária para pagar despesas de universidades e ajudar o governo a viabilizar programas sociais e a construção de hospitais.

A oposição ainda apresentou um destaque para tentar tirar do projeto os itens de alteração no arcabouço. Levado a votação, porém, o destaque foi rejeitado por 43 votos a 25 e o texto foi mantido conforme o relatório de Jaques Wagner.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.