Rachada: Quatro candidatos disputam comando da bancada evangélica

Frente Parlamentar Evangélica é uma das mais influentes e tem peso importante nas votações

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Brasília – Na quarta-feira, 1º de fevereiro, paralelamente à posse dos deputados e senadores para mais uma legislatura no Congresso Nacional, as 10h, antes da eleição da Mesa Diretora para o biênio 2023-2024, marcada para as 18h, foi convocada a eleição da Frente Parlamentar Evangélica — uma das mais influentes do Parlamento — que, de forma inédita, está rachada, com quatro candidatos disputando a presidência.

Segundo o atual dirigente da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que convocou a eleição, não houve consenso sobre comando da Frente Parlamentar e quatro disputam o cargo.

O sinal de racha é tão evidente que tradicionalmente, a Frente Parlamentar Evangélica escolhe o líder sem necessidade de votação. “Nunca ocorreu uma disputa dessa natureza”, admirou-se Cavalcante, completando: “Fiz reuniões com todos os interessados e, até o momento, nenhum sinalizou a possibilidade de composição. Não houve entendimento, ninguém cedeu”, disse.

Fundada em 2003, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional escolhe, a cada dois anos, um parlamentar como líder. Desta vez, rachas políticos se refletem na disputa. Divergências entre a relação com o governo Lula (PT) e o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados dividem os candidatos ao posto.

O mandato que se inicia nesta semana terá uma novidade para a comunidade parlamentar evangélica: Carlos Viana, que deseja comandar a bancada de fiéis no Congresso, presidirá uma nova frente voltada apenas para o Senado. Nesta legislatura, a estimativa é de que os evangélicos sejam 102 deputados e 13 senadores, o equivalente a 20% da Câmara e 16% do Senado.

Candidatos

O deputado federal Silas Câmara, ligado à Assembleia de Deus de Belém do Pará, e Otoni de Paula, pastor da Assembleia de Deus de Madureira, no Rio de Janeiro, despontam como os favoritos.

Silas já presidiu a Frente Parlamentar Evangélica em 2019 e 2020 e tem o apoio do Republicanos, que conta com 19 parlamentares evangélicos. Com bom trânsito entre os diferentes segmentos, ele mediou um acordo entre Sóstenes e o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), ligado ao ramo paulista da mesma igreja de Otoni, que evitou um racha na bancada, no ano passado.

Recentemente, o deputado começou uma aproximação com o governo Lula e se reuniu com o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. Os dois posaram para foto nas redes sociais.

Otoni também tenta romper com o passado recente e radical no bolsonarismo e se apresenta como um nome com melhor diálogo com o novo governo. Ele compareceu às posses de ministros do MDB nomeados por Lula e criticou o silêncio do ex-presidente Jair Bolsonaro diante das manifestações antidemocráticas que sucederam a eleição. Já Carlos Viana, da Igreja Batista, e Eli Borges, da Assembleia de Deus e atual porta-voz da Frente, mantêm o discurso de oposição construtiva, sem concessões.

O segmento foi um dos pilares do antigo governo e se engajou na campanha à reeleição de Bolsonaro à Presidência.

O PL, partido do ex-presidente, abriu mão da vice-presidência da Casa a fim de costurar o apoio à eleição de Rogério Marinho (PL-RN) para o comando do Senado. O nome que se apresentava era o de Sóstenes Cavalcante, mas o presidente do Republicanos, Márcio Pereira, deve ficar com oposto na chapa.

Há dois proeminentes evangélicos na bancada evangélica que são da bancada do Pará. O deputado federal reeleito Olival Marques (MDB) e o senador Zequinha Marinho (PL). Os dois congressistas não foram localizados para manifestar opinião sobre a disputa.

O racha na Frente, enfraquece o apoio que já havia sido anunciado pela Frente Parlamentar Evangélica à candidatura de Arthur Lira, candidato à reeleição para o comando da Câmara, em dezembro. Na época, a bancada entregou ao deputado um manifesto com prioridades para o novo mandato. O documento abordava cinco projetos de lei alinhados às bandeiras do grupo, como a priorização da pauta de costumes. Entre eles, o Estatuto do Nascituro, texto que coloca o direito à vida como inviolável desde a concepção, impedindo o aborto até mesmo nos casos hoje permitidos por lei.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.