Por determinação da Justiça, Sem Terra começam a deixar as fazendas Cedro e Fortaleza, no município de Marabá

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Por Lima Rodrigues, de Marabá-PA

De forma pacífica, as famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) estão deixando, nesta segunda-feira (27), às áreas das fazendas Cedro e Fortaleza, que vinham sendo ocupadas desde 2009, na BR 155, entre Marabá e Eldorado do Carajás, no sudeste do Pará. A determinação de reintegração de posse das fazendas, na área denominada Assentamento Helenira Rezende, partiu do Tribunal de Justiça do Pará.

As duas fazendas pertencem ao Grupo Santa Bárbara. A operação de despejo começou por volta de 7h15 da manhã, comandada pelo Ten-Cel. Sérgio Neves, do Comando de Missões Especiais. “Tudo será feito com toda tranquilidade possível. Vocês têm até às 18h de quarta-feira (29) para deixarem as áreas das duas fazenda. Quem ainda não recolheu seu material, comece a desmontar seus barracos, sem atropelo”, disse o coronel, acrescentando que “as tropas da PM permanecerão no local até a quarta-feira (29) para garantir a segurança total da reintegração de posse”.

As ordens judiciais, do Juiz Arnaldo José Mazutti, titular da 3ª Vara Agrária de Marabá foram lidas pelos oficiais de justiça Roberto Sousa e Ederaldo Sousa. Outros dois oficiais de justiça também acompanharam a operação de despejo: Claudionor Santos e Rafael Benevides. No momento da leitura estavam presentes policiais da Tropa de Choque, representantes do Incra, do Ministério do Desenvolvimento Social, da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), e um grupo de trabalhadores Sem Terra.

A leitura foi feita por volta das 8h bem no meio da BR 155, que chegou a ficar fechada por quase duas horas, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, até que a operação de despejo começasse de fato. A rodovia foi liberada às 10h15. A operação contou também com o apoio do Comando de Missões Especiais (Coordenação); Comando do Policiamento Regional, Grupamento Tático Operacional, Polícia Civil e o apoio de um helicóptero.

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Inicialmente, os Sem Terra pretendiam montar os barracos nas áreas de 20 metros nas laterais da rodovia, pertencente ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mas depois foram convencidos pelo coronel Neves que teriam que ir para outro local. Segundo ele, “a ordem da justiça determinava que ninguém poderia ficar nas áreas próximas às fazendas reintegradas”.

As lideranças do MST concordaram e o pessoal deu prosseguimento ao desmonte dos barracos, cujo trabalho havia se iniciado ainda no dia anterior. Durante à noite e madrugada várias famílias embalavam seus pertences em caixas ou sacos, já com a meta de deixar o local pacificamente. Aqueles que moram em casas de alvenarias ainda têm até quarta-feira para derrubar suas residências e fazer o aproveitamento de tijolos e telhas. “As negociações envolvendo a Fazenda Santa Bárbara e o Incra vinham se arrastando, mas agora chegou esta ação de despejo e temos que cumprir porque se não sairmos numa boa, a polícia militar pode derrubar tudo com a ajuda de tratores”, afirmou Ayala Ferreira, da Coordenação Regional do MST no Pará. Ela disse que a coordenação não sabia para onde levar as famílias despejadas das fazendas Cedro e Fortaleza e que aguardava uma resposta do Incra sobre o assunto.

Ayala Ferreira informou, ainda, que as famílias dos Sem Terra estavam produzindo na área vários produtos, como, por exemplo, banana, mandioca, feijão e até leite para alimentação das famílias e comercialização na região.

O agricultor Manoel Messias Barbosa, conhecido por “Goiano”, 67 anos, casado e pai de 11 filhos, chegou ao local ainda de madrugada e disse que obedeceria a ordem de despejo. “Decisão da justiça tem que ser cumprida. Não vamos entrar em confronto com a polícia. Vamos é tentar encontrar outra área para a gente produzir e criar as nossas famílias”, disse ele, de forma serena.

O presidente da Fazenda Santa Bárbara, Cleiton Custódio, informou que a justiça foi feita. “Esperamos quase nove anos por esta decisão. Agora, estamos vendo ela ser cumprida de forma pacífica. Perdemos casas, maquinários, pesquisas genéticas na área da agropecuária, mas vamos voltar a produzir tudo isto aqui na fazenda, além de gerar emprego na região”, destacou.

AgroSB
Em nota, a assessoria de imprensa do Grupo AgroSB informou que a empresa tem cinco grupos de fazendas no Pará, que abrigam mais de 1.000 colaboradores e geram mais de 20 mil empregos diretos. Segundo a nota, “por causa das invasões, a empresa se viu privada de produzir em áreas que adquiriu em conformidade com a legislação”. E prossegue: “Na tentativa de equacionar o conflito agrário na região, a empresa aceitou dialogar com o Incra para aquisição dessas fazendas, mas o processo estende-se há mais de três anos sem sucesso.”

Ainda de acordo com a nota oficial, “a AgroSB sempre buscou na Justiça os seus direitos e a retomada das fazendas ocupadas ilegalmente”. “Aliado a seu compromisso ambiental, a empresa mantém escolas em suas fazendas, proporcionando o desenvolvimento da população da região ligada direta ou indiretamente às suas atividades”.

A nota da AgroSB conclui dizendo que agora “iniciará imediatamente a reconstrução do seu projeto de pecuária e agricultura, com a geração de centenas de empregos em Marabá e cidades vizinhas, proporcionando renda e dignidade aos trabalhadores, além de educação para eles e seus filhos. O comércio regional também será beneficiado com a compra de máquinas, equipamentos e insumos, assim como os municípios devido ao recolhimento de tributos. Os benefícios são, assim, de todos, incluindo o estado do Pará”.

Você que mora em Parauapebas poderá ver cobertura em vídeo das reintegrações de posse das Fazendas Cedro e Fortaleza no Programa Conexão Rural, do apresentador Lima Rodrigues no próximo domingo, às 9h30, pela RedeTV.