Marabá: Secretário de Desenvolvimento do Estado afirma que não veio anunciar ferrovia e sim um projeto

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Por Eleutério Gomes – De Marabá

Com capacidade para 200 pessoas, o auditório do Senai, na Nova Marabá, ficou lotado na noite de ontem, quinta-feira (17), durante a Reunião Técnica da Ferrovia Paraense, a Fepasa. O assunto atraiu a atenção de micro, pequenos e grandes empresários, políticos, empreendedores, dirigentes sindicais e representantes do agronegócio, assim como de outros setores produtivos. A exposição foi feita pelo secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, que, com o auxílio de um telão, forneceu detalhes do empreendimento, contou como surgiu o embrião da ferrovia e fez um relatório dos avanços conquistados pelo projeto até o momento.

Segundo ele, a Fepasa foi concebida em 2014 pela Pavan Engenharia, que apresentou o PMI – Procedimento de Manifestação de Interesse – ao Estado e o governo viu no projeto a oportunidade de desenvolver um grande trabalho na área de logística, o que resultará em crescimento econômico e social.

Após a exposição, um dos questionamentos feitos foi em relação aos impactos sobre as comunidades tradicionais localizadas nos municípios que serão cortados pela estrada de ferro, Adnan respondeu que o traçado da ferrovia foi cuidadosamente planejado de forma a não passar por áreas indígenas ou quilombolas, tampouco florestas densas. “Essas sempre foram alguma das preocupações do governo do Estado, de ter um empreendimento que respeitasse as comunidades tradicionais e com o menor impacto possível”, afirmou.

Esperança

Antes da reunião, em entrevista aos meios de Comunicação locais, Adnan disse que o projeto foi apresentado ao governo como uma parceria público-privada (PPP) e avançou muito nos últimos meses, chegando ao momento da realização de reuniões técnicas nas cidades que estão no traçado da ferrovia. A finalidade dessas reuniões, detalhou ele, é apresentar o projeto para a sociedade.  “Ninguém veio aqui anunciar ferrovia, é bom deixar bem claro. Não estou aqui para anunciar nenhum investimento, estou aqui para anunciar um projeto que nós temos esperança que se realize”, esclareceu, adiantando que há empresas interessadas e que está havendo a prospecção de cargas, pois, “não existe ferrovia sem investidor e, muito menos, sem cargas. “Estimamos que os próximos passos serão também exitosos”, disse.

Adnan Demachki também deixou claro que um projeto dessa envergadura não pode ter cor partidária, não pode ter paternidade. É um projeto que integra o Pará todo, de norte a sul, passa por 23 municípios e todos têm de entender que “não tem pai, não é do governo, é da sociedade, é do Estado”.

Sem imediatismo

Também alertou que não é um projeto a ser realizado em curto prazo. “Nós, brasileiros, somos imediatistas, queremos tudo para hoje e para amanhã. Mas, as grandes nações, as nações
evoluídas, cresceram e evoluíram com planejamento, com projetos de médio e longo prazo”. “Viemos interagir com a população de Marabá, falar do projeto, ouvir sugestões, ouvir as demandas, ouvir críticas e o que for necessário para que possamos apresentar os editais de licitação que estamos construindo a fim de apresentar, se Deus quiser, em novembro, e leiloar a concessão, se Deus quiser, em março do ano que vem”, explicou ele.

Sobre a busca de investidores para viabilizar economicamente a efetivação do projeto, Adnan disse que já existem interessados estrangeiros, explicando que essa busca está sendo feita lá fora porque as grandes empresas nacionais estão todas envolvidas na Operação Lava Jato e, legalmente, não pode participar da licitação do tamanho da que vai ser feita para a Fepasa.

Todos pela ferrovia

“Existem empresas interessadas, mas temos muitos desafios pela frente. Então, nós viemos pedir o apoio da sociedade de Marabá, nada vai vir de cima para baixo, nada cai do céu. Se a gente quer
construir algo tem de ser em conjunto”, salientou ele. Demachki apelou para que as lideranças se unam e disse que não se pode mais continuar com as divisões políticas. O Estado, segundo ele, tem grandes projetos que, por picuinha política, não avançam. “Os projetos grandiosos têm de ter participação de todos, a união de todos, porque são de estado, não são de governo, não são de um partido. Viemos pedir, com muita humildade, o apoio das lideranças aqui de Marabá, para que esse projeto possa avançar e aí, com certeza, atender, se Deus quiser, tanto a nossa geração quanto nossos filhos no futuro”, encerrou.

Transformação

Também em conversa com jornalistas, o presidente da Acim (Associação Comercial e Industrial de Marabá), Ítalo Ipojucan Costa, indagado sobre que expectativa tem sobre a Fepasa, disse que espera uma transformação do Estado em termos de ofertar para o mundo empreendedor e para o mundo produtor uma logística competitiva que faz do Pará uma rota alternativa do escoamento de produção.  Com um detalhe, que esse escoamento possa ser atrelado com a agregação de valores da cadeia produtiva, transformando a nossa região e atraindo novos modelos. Sem projetos estruturantes é impossível perseguir algum resultado, isso é extremante essencial para que saibamos onde estamos e onde queremos chegar, que caminho trilhar para chegar”, disse
Ipojucan.

Sobre o fato de ser sempre otimista e um grande incentivador do desenvolvimento regional, Ítalo disse que seu papel é identificar, provocar e fazer com que essa chama não apague: “Fico indo a Brasília, ao governo no Estado, provocando as situações. Um projeto como esse é de estado não é de governo. Os governos passam, o projeto de estado é aquele que veio para consertar, que veio para colocar o Estado dentro de uma dinâmica diferenciada e aí não tem cara nem pai, tem a sua busca”.

Irreversível

Para o secretário municipal de Indústria, Comércio, Ciência, Tecnologia e Mineração, Ricardo Pugliese, a Ferrovia Paraense vai ser fundamental para o modelo de logística que está sendo implantado no Norte do Brasil. “Agora, por força de lei, o escoamento da produção da região que fica acima do paralelo 16, que passa acima de Brasília (DF), tem de ser feito pelo Norte, porque os portos do Sudeste estão sobrecarregados”, explicou.

“Então, com a fronteira agrícola caminhando na nossa direção, invadindo o Pará com todo o grão, como a soja e o milho, chegando em larga escala, com o projeto de mineração, em Santana, na  região do Araguaia, a ferrovia vai ajudar esse processo de escoamento”, detalha Pugliese, afirmando que a ferrovia está num processo bastante avançado de viabilidade econômica, já tem parceiros bem identificados na China, na Coreia e no Brasil. “A gente tem certeza de que essa é uma situação quase irreversível”, disse.

Carga garantida

O vice-governador José da Cruz Marinho – Zequinha Marinho – que tem origem no sul do Estado, disse que a produção daquela região do Estado mais a de Mato Grosso vai ajudar muito a movimentar a ferrovia, “O Mato Grosso tem de escoar a produção dele, que passa pela nossa porta. Entra pela BR-158, vem até Redenção, pega a PA-287, chega a Conceição do Araguaia, atravessa na ponte, vai para o Estado do Tocantins e lá para a plataforma de logística de Colinas”, detalhou ele. “Já com a ferrovia acaba toda essa confusão de caminhão. Na safra da soja e do milho são mais de mil caminhões por dia durante quatro meses seguidos. Você imagina o que significa isso? A gente articula com eles a ferrovia o que é mil pode virar 6 mil e aí não precisa mais de caminhão”, projeta Zequinha.

O vice-governador diz que a ferrovia pode incentivar também os produtores de Mato Grosso de uma maneira tremenda: “Aquela região na divisa de Santana do Araguaia, Vila Rica, Porto Alegre do Norte, Confresa, tem 4,5 milhões de hectares com aptidão para plantio de grãos. De repente isso aí dispara e a gente vai ter de atender tudo isso e aí já viabiliza a carga”, calcula ele, acrescentando que grande preocupação não é construir a ferrovia: “Tendo dinheiro e investidor, se constrói, mas, fazer uma ferrovia sem ter carga não tem sentido. É a carga que vai fazer a ferrovia acontecer”, concluiu.

A reunião técnica contou ainda com a presença do secretário de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Giovanni Queiroz; do prefeito de Marabá, Tião Miranda, e do vice Toni Cunha; do pecuarista Maurício Fraga, direto do Sindicato Rural de Marabá; e dos deputados estaduais Gesmar Costa e João Chamon Neto, além de lideranças locais e dos municípios da região.

FERROVIA PARAENSE EM DADOS

Extensão – 1.312 quilômetros.
Trecho 1 – Marabá—Barcarena – 759 quilômetros.
Trecho 2 – Marabá—Santana do Araguaia – 553 quilômetros.
Capacidade de carga – 1.700.000 toneladas por ano.
Interligação com a Ferrovia Norte–Sul, via Rondon do Pará–Açailândia (MA).
Custo estimado – R$ 14 bilhões.
Geração de empregos – 6 mil empregos diretos e 32 mil indiretos durante a execução da obra.
Municípios atendidos pela ferrovia – Abaetetuba, Abel Figueiredo, Acará, Barcarena, Bom Jesus do Tocantins, Dom Eliseu, Eldorado dos Carajás, Ipixuna do Pará, Marabá, Moju, Nova Ipixuna, Paragominas, Pau D’Arco, Piçarra, Redenção, Rio Maria, Rondon do Pará, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, Tailândia, Tomé Açu, Ulianópolis e Xinguara.

Próximas Reuniões Técnicas – Paragominas, Barcarena e Belém.

3 comentários em “Marabá: Secretário de Desenvolvimento do Estado afirma que não veio anunciar ferrovia e sim um projeto

  1. José Sena Senna Responder

    Um projeto de Estado, mais que isso, um projeto estruturante e que deve merecer o apoio de toda sociedade paraense, especialmente, do empresariado.
    A despeito das grandes obras anunciadas e não iniciadas no Pará, a ferrovia paraense, assim que tiver as obras iniciadas se colocará como alavancagem de outros grandes projetos para essa sofrida região paraense. Portanto, exige de toda classe política e empresarial empenho e articulação para sua implementação.
    O esforço do Governo do Estado, através do Secretário Adnam, é de conclamar o povo paraense para perceber a importância dessa obra para o Pará e para o Brasil. É um projeto arrojado que mostra acima de tudo que, enquanto alguns descreem do projeto, o Estado do Pará tem potencial para se tornar o Estado de maior importância para o Brasil, em vez de ficar de pires na mão esperando por “milagres” econômicos.

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