Marabá dá à luz, por dia, 4 filhos de crianças e adolescentes

Para cada dez nascimentos em 2018, Hospital Materno Infantil realizou um procedimento de curetagem

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O número de partos realizados na maior maternidade do interior do Pará é impressionante. São mais de 5.000 meninos e meninas que nascem por ano. Outro número mais que impressiona, alarma: apenas em 2018 um grupo de 1.548 crianças e adolescentes ficaram grávidas e procuraram o Hospital Materno Infantil de Marabá para realizar parto ou até mesmo curetagem (procedimento para limpar o útero de restos de abortamento).

Dados do próprio HMI levantados pela Reportagem do blog nesta terça-feira, dia 8, apontam que em 2017 houve 1.490 atendimentos em gestantes consideradas crianças ou adolescentes no HMI, enquanto em 2018 esse número cresceu para 1.548. Por mês, aparecem na maternidade cerca de 129 meninas, uma média de 4,3 por dia.

Os números são preocupantes, uma vez No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre dez e 19 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada três mulheres casadas com idades entre 20 e 24 anos, uma se casou antes de completar a maioridade. Ou seja, os números locais são mais alarmantes que a média nacional.

O número de crianças e adolescente que engravidam e chegam ao HMI só perde para a faixa etária de 20 a 24 anos e de 25 a 29 (1.777 e 1.564, respectivamente).

Judite Luz Dias, de 16 anos, conta que teve o primeiro filho em outubro do ano passado e desde então sua vida mudou radicalmente. As festas, baladas e filmes com os amigos estão suspensos desde que chegou Sofia, sua primeira filha. “Foi uma gravidez que eu não estava esperando. A partir de agora, não faço mais sexo sem preservativo. De jeito nenhum”, diz, reconhecendo o peso da responsabilidade.

PREVENÇÃO AGORA É LEI

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 13.798, que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990) artigo instituindo a data de 1º de fevereiro para início da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. A decisão foi publicada na edição do dia 4 deste mês de janeiro do Diário Oficial da União.

Segundo a lei, nesse período, atividades de cunho preventivo e educativo deverão ser desenvolvidas conjuntamente pelo poder público e por organizações da sociedade civil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente define como criança quem tem até 12 anos incompletos e como adolescente, quem tem idade entre 12 e 18 anos.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em fevereiro do ano passado revelam que, na América Latina e no Caribe, a taxa de gravidez entre adolescentes é a segunda mais alta do mundo, superada apenas pela média da África Subsaariana. Na América Latina e no Caribe, ocorrem anualmente, em média, 66,5 nascimentos para cada 1 mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, enquanto o índice mundial é de 46 nascimentos entre cada 1 mil meninas.

Levantamento do Ministério da Saúde fechado em 2017 informa que, somente em 2015, foram 546.529 os nascidos vivos de mães com idade entre 10 e 19 anos. A taxa apresentou, em 11 anos, queda de 17% no Brasil, conforme a base do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), já que, em 2004, foram registrados 661.290 nascimentos.

Naquele ano, o número de crianças nascidas de mães adolescentes nessa faixa etária representou 18% dos 3 milhões de nascidos vivos no país. O balanço do ministério mostra que a região com maior prevalência de gravidez precoce, em 2015, foi o Nordeste (180.072 – 32%), seguida pelo Sudeste (179.213 – 32%).

O número de parto cesáreo ainda é preocupante em Marabá. Entre janeiro a novembro do ano passado foram registrados 2.619 partos normais, contra 1.887 cesáreos. Parte da culpa os médicos colocam na falta de um pré-natal adequado nas unidades de saúde dos municípios onde residem as parturientes.

Ulisses Pompeu – de Marabá