Fundo soberano da Noruega avalia vender participação na Rio Tinto, controladora da MRN, em Óbidos, no Pará

A possibilidade de desinvestimento, mostra a preocupação do maior fundo soberano do mundo com problemas ambientais na Amazônia em função da exploração de bauxita no Pará

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O jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou, nesta quarta-feira (4), matéria em que afirma que o Conselho de Ética do gigantesco fundo soberano da Noruega avalia recomendar que o investidor venda sua participação multibilionária na mineradora australiana Rio Tinto. A possibilidade de desinvestimento ocorre devido a preocupações com danos ambientais à Amazônia brasileira e sua participação na Mineração Rio do Norte (MRN), que explora a maior mina de bauxita do mundo no município de Oriximiná, no oeste do Pará, dentro da Floresta Nacional Saracá-Taquera, disseram ao jornal fontes familiarizadas com o assunto.

A Norsk Hydro, controla a Alunorte, cujo capital pertence ao fundo soberano norueguês, é a maior refinaria de alumina do mundo fora da China. A fábrica está localizada na cidade de Barcarena, no estado do Pará, Norte do Brasil. Tem uma capacidade anual de produção de 6,3 milhões de toneladas de alumina, com cerca de 8 mil funcionários entre empregados da Hydro e prestadores de serviços terceirizados trabalhando na planta.

Em 2021, a multinacional norueguesa Norsk Hydro se tornou alvo de uma ação coletiva protocolada desta vez na Holanda por cerca de 40 mil brasileiros afetados pela produção de alumínio em Barcarena e Abaetetuba, nordeste do estado do Pará.

A ação busca compensações às 11 mil famílias afetadas pelos empreendimentos instalados no estado, pelo que a ação chama de “disposição incorreta de rejeitos tóxicos no rio Murucupi, bem como por outros efeitos da presença das instalações da Norsk Hydro na região”.

O caso Hydro teve repercussão internacional depois do despejo de rejeitos tóxicos da refinaria da Norsk Hydro em Barcarena, no nordeste do Pará, em 2018. À época, a força das chuvas fez com que comunidades de Barcarena, no entorno da mineradora, e vilas de Abaetetuba fossem inundadas por águas avermelhadas, contaminadas com bauxita.

O conselho, que atua como consultor do fundo, informou à Rio Tinto no início do ano que está avaliando a mineradora por causa dos danos causados por suas operações na Amazônia brasileira, de acordo com uma carta vista pelo jornal norte-americano, mas que se refere a operação em Óbidos.

No documento, enviado em janeiro, o conselho pediu à Rio Tinto que comentasse sua recomendação preliminar para excluir a empresa do fundo norueguês de US$ 1,6 trilhão (R$ 8,037 trilhões de reais na cotação de hoje). Desde então, a mineradora e o conselho têm mantido discussões, mas uma decisão final ainda não foi tomada, disseram as fontes.

O conselho, que é independente, desempenha um papel importante para o maior fundo soberano do mundo. Seu trabalho é examinar os investimentos feitos pelo Norges Bank Investment Management, o operador do fundo, para garantir que eles estejam em conformidade com um conjunto rigoroso de diretrizes éticas. Em seguida, ele pode fazer recomendações para excluir empresas do fundo ou colocá-las em uma lista de observação.

O Fundo Soberano da Noruega é o maior doador do Fundo Amazônia no Brasil. A Norges detém, em média, uma participação de 1,5% nas empresas de capital aberto listadas do mundo. Nos últimos anos, aumentou os desinvestimentos relacionados a fatores ambientais, sociais e de governança corporativa. Seus movimentos são observados de perto por outros fundos de riqueza soberana e grandes grupos de capital.

O Norges Bank tem seguido todas as recomendações relacionadas ao meio ambiente desde 2015, garante o conselho.

Entrar na lista negra do fundo seria um golpe para a Rio Tinto, a segunda maior mineradora do mundo em valor de mercado. Em 31 de dezembro, o Norges era um dos maiores acionistas da empresa, com uma participação de 2,24% avaliada em cerca de US$ 2,7 bilhões.

A venda de ações pelo Norges pode ser um revés para os esforços da Rio Tinto para melhorar sua reputação depois de ter explodido dois antigos abrigos de rocha na Austrália em 2020. A empresa pediu desculpas e tomou medidas para tentar restaurar a confiança da comunidade indígena local.

As preocupações do conselho com a Rio Tinto se concentraram no desmatamento e em sua participação na Mineração Rio do Norte (MRN), em Óbidos. Mas, não só.

A MRN afirma ser a maior produtora de bauxita do Brasil, que é usada para fabricar alumínio, com uma produção de cerca de 12 milhões de toneladas por ano.

A Rio Tinto detém 22% da MRN. Seus outros acionistas são a Glencore, com uma participação de 45%, e a mineradora australiana South32, que detém 33% do capital.

A South32 também está em discussões com o Conselho de Ética do fundo norueguês, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Em 31 de dezembro, o Norges possuía uma participação de 2.16% na South32 no valor de US $ 223 milhões.

O fundo norueguês se desfez da Glencore, ao lado de outros, em 2020 por causa de preocupações com a produção de carvão térmico.

Avaliação

Kjell Kristian Dørum, conselheiro-chefe do colegiado, confirmou que a Rio Tinto e a South32 estão sendo avaliadas, mas se recusou a fazer mais comentários. O Norges não quis comentar.

Um representante da South32 também se recusou a falar sobre o assunto.

Um porta-voz da Rio Tinto disse que a empresa não gerencia a MRN, mas que a mesma está trabalhando para melhorar seu desempenho ambiental e social. A Rio Tinto continuará a apoiar esses esforços, inclusive fornecendo assistência técnica, acrescentou o porta-voz.

A MRN disse que as atividades de mineração na área em que opera estão sujeitas a uma rigorosa estrutura de licenciamento ambiental e que opera em estrita conformidade com as leis e regulamentos brasileiros.

A empresa implementa procedimentos para evitar e mitigar impactos ambientais e tem um programa para restaurar as áreas mineradas o mais próximo possível de sua condição original, acrescentou um porta-voz da companhia.

Essa não é a primeira vez que a Rio Tinto entra na mira do Conselho de Ética. O Norges vendeu sua participação na empresa em 2008, citando os danos ambientais causados pela mina de Grasberg, na Indonésia, na qual a Rio Tinto detinha uma participação. A mineradora foi autorizada a voltar ao fundo em 2019, depois que a empresa vendeu sua participação em Grasberg por US$ 3,5 bilhões.

A Noruega tem seu próprio histórico de envolvimento na Amazônia. A Norsk Hydro, empresa norueguesa de alumínio e energia renovável apoiada pelo estado norueguês, era parcialmente proprietária da MRN e continua a obter bauxita dessas operações. Os porta-vozes da Hydro e do Ministério do Comércio, Indústria e Pesca da Noruega, que detém a participação na empresa, não quiseram comentar. Com informações do The Wall Street Journal.

A Norsk Hydro opera uma planta industrial de produção de alumínio em Barcarena, no Pará, próximo a capital Belém, onde será realizado no ano que vem a COP 30 — a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A cúpula sobre o clima será realizada em Belém, entre 10 e 21 de novembro de 2025.

Fonte: The Wall Street Journal

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

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