Quase 190 dólares por tonelada na última terça-feira (20), um dia após a mineradora Vale apresentar seu balanço. Só nesta (23) estão sendo computadas as fortes emoções da semana no mercado do minério de ferro, que viveu seu apogeu em novo “boom” arrebatador dez anos depois do que experimentara em 15 de fevereiro de 2011, quando a principal commodity da praça tocou 190,70 dólares. Nas últimas 72 horas, o preço disparou a 189,61 dólares e as repercussões disso para o Pará serão saborosas mais adiante. As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu.
O principal produto da cesta econômica do Pará está em franco progresso, ao menos no quesito preço. A média de cotação da tonelada para janeiro deste ano, por exemplo, fechou em 169,63 dólares, considerando-se o produto de referência com teor médio de 62%. A valorização média é quase o dobro de janeiro do ano passado, quando ficou em 95,76 dólares.
Vale lembrar, contudo, que o minério de ferro extraído no Pará — precisamente em Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis — tem grau de pureza que gira entre 66% e 67%, o que rende bonificação à mineradora Vale a cada faixa de 1% acima do teor de referência. Para os municípios paraenses, importa a compensação financeira, que aumenta conforme o preço do minério sobe e, também, quando a produção física se eleva. A combinação perfeita para ampliação do caixa das prefeituras locais são o aumento da cotação do produto no mercado internacional e o aumento da produção.
Se, por exemplo, o preço se estabilizasse na média de 190 dólares por tonelada durante um mês inteiro, e Parauapebas conseguisse produzir nesse mês em questão 15 milhões de toneladas de ferro, o royalty a ser recebido pela prefeitura local seria de R$ 200 milhões — e aqui não se considera o fator cotação do dólar. Atualmente, a Prefeitura de Parauapebas está num patamar de recebimento de R$ 102,5 milhões por mês, com a tonelada média a 160 dólares e a produção nominal em 8 milhões de toneladas.
Carajás não aguenta China
Como se trata de commodity dependente do “humor” externo (cotação de moeda internacional, demanda externa e previsões econômicas de médio prazo), sobretudo de um único país, o minério de ferro não obedece a regras religiosas, e o preço pode cair inesperadamente. Todavia, analistas de mercado começaram a espalhar durante a semana que o minério do Brasil e da Austrália já não estão dando conta de suprir a gulodice da China, que despertou da pandemia de Covid-19 com um espantoso crescimento de 18,3% nos primeiros três meses deste ano, recalibrando sua poderosa indústria de aço para seguir sustentando o setor da construção, que não para de se expandir.
A Vale, maior fornecedora de minério de alto teor à China, produziu menos do que o previsto no último trimestre devido à menor produtividade em S11D e incêndio em um carregador de navio. Isso sinaliza ao mercado que a recuperação após o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, tem sido mais lenta que o esperado.