Apoios de governadores para Lula e Bolsonaro podem ou não mudar o desfecho do segundo turno?

Depende da capacidade e da estratégia que cada apoiador adotar
À esquerda, Garcia em ato de apoio a Bolsonaro e Tarcísio em SP. À direita, Lula com Helder Barbalho, governador do Pará. Montagem - Bruno Santos/Folhapress e Ricardo Stuckert

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Brasília – No segundo turno das eleições gerais desse ano, a declaração de apoio de governadores eleitos no primeiro turno pode ou não mudar a decisão do eleitor de votar em Lula ou Bolsonaro? Mas não só os governadores, e os prefeitos das grandes capitais?

Há dois tabus a serem quebrados em 2022. Nunca um presidente disputando a reeleição perdeu e nunca houve virada do segundo lugar do primeiro turno após a apuração do segundo turno.

O cientista político Jairo Nicolau, pesquisador da FGV/FCPDOC anota que: “Os apoios (políticos) não são tão efetivos assim. Na média, vemos pelos números que não fazem muita diferença. Os eleitores já têm uma pré-disposição a determinado candidato. O apoio não tem a capacidade de fazer com que aqueles que tenham sentimentos negativos por um candidato mudem o seu voto. Sobretudo quando estamos há mais de um mês de campanha e as pessoas têm suas posições cristalizadas”, afirma.

Ele tem razão em parte. Não há qualquer garantia que o apoio político se transforme em votos nas urnas.

Entretanto, Nicolau, não está levando em consideração que numa eleição altamente polarizada, não é no eleitor que já está com o voto cristalizado o objeto das estratégias para a obtenção de novos votos e sim, os milhões de votos que estão soltos devido a alta abstenção dessas eleições que somados aos votos brancos e nulos, definirá a eleição, o que certamente quebrará pelo menos um dos dois tabus que persistem na história política da eleições brasileiras.

É uma questão de aritmética simples. Com uma abstenção que atingiu 20,95% do total de eleitores — uma das maiores já registrada —, esses dados representam um universo de votos. Em números precisos, a abstenção chegou a 32.770.982 milhões de votos. Foram 3.487.874 milhões de votos nulos e 1.964.779 milhão de votos em branco, tudo somado, o total atinge 36.455.635 milhões de votos.

No quadro, está demonstrado a diferença que Bolsonaro precisa superar para se reeleger

Naturalmente, a caça aos votos é direcionada a esse eleitorado e o poder de articulação de governadores, prefeitos, vereadores e ainda, senadores, deputados federais e estaduais comprometidos em agir, podem operar o “milagre da logística” e “convencimento através de promessas”, que ao cabo pode fazer a diferença e “animar” esses 36 milhões de eleitores relapsos.

Apoios políticos

O presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu eleger nove governadores com seu apoio em primeiro turno no primeiro turno. Já Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve seis governadores eleitos em primeiro turno com seu apoio político.

Romeu Zema (MG) e Bolsonaro (Reprodução) e Claudio Castro (RJ) e o presidente (Alan Santos/Presidência da República)

Três candidatos do PT conseguiram a eleição no primeiro turno, Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, Elmano de Freitas, no Ceará, e Rafael Fonteles, no Piauí. Além deles, outros três lulistas saíram vitoriosos da urna: Clécio Nunes (SD), no Amapá, Carlos Brandão (PSB), no Maranhão, e Helder Barbalho (MDB), no Pará.

Elmano de Freitas (CE), Fátima Bezerra (RN) e Rafael Fonteles (PI) foram eleitos governadores em primeiro turno com apoio de Lula

No Paraná, o bolsonarista Ratinho (PSD) derrotou o ex-senador Roberto Requião (PT). Também reeleito no primeiro turno com ampla vantagem, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), contou com o apoio de Bolsonaro durante sua campanha.

No Acre, com um discurso bastante alinhado ao do presidente Bolsonaro, Gladson Cameli (PP) também conseguiu se reeleger. Ibaneis Rocha (MDB), no Distrito Federal, engrossa a lista de governadores bolsonaristas eleitos.

Em Goiás, Ronaldo Caiado (UB) levou o governo de Goiás, vencendo Gustavo Mendanha (Patriota). Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) derrotou Alexandre Kalil (PSD) por larga vantagem.

Em Roraima, o governador reeleito, Antonio Denarium (PP), também ganhou a disputa. Bolsonaro ainda conseguiu eleger aliados no Rio de Janeiro, com Cláudio Castro (PL), e Tocantins, com Wanderley Barbosa (Republicanos).

Em parte desses estados, os vitoriosos do primeiro turno tiveram mais votos que os candidatos a presidente que apoiam. Isso significa que, em tese, podem ajudar a “transferir” votos. Ou seja, são estados onde há margem de crescimento por causa dessas alianças eleitorais. Quais são os apoios que potencialmente mais podem beneficiar Bolsonaro e Lula?

Lula tem, na sua base de apoios para o segundo turno, o governador mais bem votado do Brasil: Helder Barbalho (MDB), do Pará, que somou mais de 70,41% dos votos no estado. Lula teve 51,22% dos votos válidos no estado. Já o presidente Jair Bolsonaro tem ao seu lado o segundo governador mais bem votado, Ratinho Junior (PSD), que obteve 69,6% dos votos no Paraná. Bolsonaro teve 55,26% dos votos válidos dos paranaenses.

Helder e Ratinho não só foram líderes na votação para o governo, mas foram também os dois candidatos às gestões estaduais que mais superaram os presidenciáveis líderes dentro de seus estados. Helder fez 673,5 mil votos a mais do que Lula no Pará, enquanto Ratinho somou 614,6 mil votos a mais do que Bolsonaro no Paraná.

Mas, para Bolsonaro, o apoio do governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), pode ser ainda mais importante. Em Minas, o atual presidente foi derrotado por Lula: 48,29% para o petista contra 43,60% dos votos para Bolsonaro. Mas Zema, que apoia o presidente, foi eleito com 56,2% dos votos válidos. A diferença entre Zema e Bolsonaro foi de 854,8 mil votos. Tradicionalmente, quem tem mais votos em Minas acaba ganhando a disputa nacional.

Outro estado em que o apoio do governador pode ser decisivo para Bolsonaro é o Rio de Janeiro. O governador reeleito Cláudio Castro (PL) teve 58,7% dos votos válidos e Bolsonaro, 51,1%. Em termos numéricos, Castro teve 99 mil votos a mais que o presidente.

Já Lula tem o apoio de ao menos mais um governador eleito que teve uma votação bem mais expressiva que a do petista. No Amapá, Clécio Luís somou 53,7% dos votos e Lula ficou com 45,7%. Mas, como o Amapá é um estado pequeno, essa diferença, na prática, não é tão expressiva: são 24,7 mil votos.

Pará, Paraná, Minas, Rio e Amapá são cinco dos sete estados em que o vencedor na disputa pelo governo teve mais votos do que o presidenciável mais votado localmente. Os outros são Mato Grosso e Tocantins.

A “guerra dos apoios” entre Lula e Bolsonaro foi deflagrada logo após o fim do primeiro turno da eleição. Os dois presidenciáveis passaram a receber (e exibir) o suporte tanto de candidatos derrotados quanto de governadores que venceram no primeiro turno, além de concorrentes ao Senado, cuja eleição já se encerrou no dia 2 de outubro. Tanto Lula quanto Bolsonaro fizeram atos de campanha ao lado dos apoiadores, para mostrar a força nacional de suas candidaturas.

O que as pesquisas não conseguem captar, muito provavelmente porque as amostras com que trabalham são pequenas e a margem de erro é imprecisa, é o fato que a doze dias das eleições a disputa está em empate técnico e qualquer um dos dois candidatos pode ser o vencedor.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

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