Zoneamento na Praia do Tucunaré causa discussão entre ambientalistas e pescadores

Preservação de tartarugas e tracajás no maior balneário de Marabá causa discussão e deve se acirrar no verão que está começando

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Pescadores e profissionais que utilizam a Praia do Tucunaré, em Marabá, como roteiro turístico, começam o verão de 2018 engasgados com o zoneamento que está sendo feito na Praia do Tucunaré por um grupo de entidades como Conselho Municipal de Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Ibama e Universidade Federal do Pará, por exemplo. Segundo as autoridades, uma parte da praia do Tucunaré deverá ser isolada a fim de ser transformada em reserva ambiental para a criação e preservação de quelônios (filhotes de tartarugas e tracajás).

A polêmica foi levada esta semana à Câmara Municipal, mas não houve consenso. Filiados à Colônia de Pescadores Z-30 reclamam que estão sendo proibidos de pescar e até mesmo passar em um braço do Rio Tocantins que fica atrás da Praia do Tucunaré e que é muito propício para peixes. Donos de barracas na praia temem que sejam proibidos de promover festas com música durante a noite.

O presidente da Câmara Municipal, Pedro Corrêa, disse que é preciso resolver o entrave, visando sempre dar voz aos movimentos envolvidos e à pluralidade de ideias e opiniões.

Anísio Araújo, presidente da Colônia Z-30, disse que querem entender como vai funcionar o projeto de proteção dos quelônios que, na visão dele, quer cercear a atividade de pesca próximo à praia. “Estão querendo colocar o projeto no local de trabalho de várias pessoas na praia, como rabeteiros, pescadores e dificultar o turismo”, opinou.

João Batista Campelo disse que é pescador em Marabá há 30 anos e lamentou que tenha sido impedido pela Guarda Municipal  de pescar. “Se não vamos para o rio pescar, como vamos sobreviver? Só sabemos fazer isso”.

Para Batista, o projeto Quelônios do Tocantins deveria se estabelecer em uma área mais afastada da cidade e em uma praia que não tivesse tanto apelo para o turismo.

Quelônios-10

Representante do IBAMA, Roberto José Scarpari disse que é importante ampliar o conhecimento e observou que o instituto que ele representa está preocupado com os balneários e também com a atividade dos pescadores, mas, principalmente, com a questão da biodiversidade. De acordo com ele, a ideia não é parar tudo, mas dar suporte à questão da sustentabilidade. “Existe um projeto de proteção dos quelônios, mas não queremos proibir a pesca no rio”, salientou.

Jorge Bichara, presidente do COMAM (Conselho Municipal de Meio Ambiente), explicou que o projeto que havia sido implantado inicialmente para proteção de quelônios estava parado há 3 anos e lamentou que muitos trabalhadores dos rios acabam pescando quelônios. “Temos um grupo de entidades que está à frente do projeto de preservação, e não uma ONG específica. Podemos ampliar a discussão, mas há de se ter um meio termo”.

O professor José Pedro de Azevedo Martins, da Unifesspa, salientou que a discussão sobre esse tema não se esgota com uma reunião e que é preciso que se saiba o que está sendo discutido. Para ele, a discórdia não existe, pois o que se quer é a garantia das gerações futuras. “Estamos falando de uma unidade de conservação que está em vias de criação, com ligação com o IBAMA, UNIFESSPA e COMAM, com um projeto que luta pela biodiversidade do Rio Tocantins nesse trecho”.

O professor ainda expôs que é preciso discutir um zoneamento da área da Praia do Tucunaré. Ele se dispôs a apresentar a proposta de zoneamento na Câmara, com os mapas dos locais, reconhecendo os locais de passagem dos cardumes em certas áreas para garantia da continuidade da pesca.

Rubens Sampaio, secretário de Meio Ambiente de Marabá, falou que não existe uma proibição de pesca, sendo que o período é definido por lei federal. “Queremos discutir o zoneamento, e queremos criar uma unidade de preservação”.

Por outro lado, o vereador Ilker Moraes falou que o povoamento e a preservação de quelônios são necessárias, mas que também deve-se pensar em um projeto com a mesma proporção para produção de peixes para os pescadores. O vereador questionou se a área escolhida para a implantação do projeto é a mais adequada. “Por que não se pensar em um repovoamento como um todo, num projeto maior, em outra área?”, indagou Ilker.

Moraes lembrou que a falta de saneamento em Marabá e em outras cidades da região lança nos rios os dejetos e causa poluição. “A JBS é a grande poluidora do rio Itacaiunas, e precisamos entrar no debate e na questão central do problema ambiental”.

O vereador Gílson Dias reconheceu que o tema é importante para Marabá e região e rememorou que a Praia do Tucunaré sempre foi um berçário natural de quelônios em Marabá. “A natureza fez com que os quelônios desovassem no local. A sustentabilidade é necessária, mas não pode sobreviver com a morte do meio ambiente”.

Cabo Rodrigo usou a palavra e disse que é importante a sustentabilidade e que a sobrevivência dos pescadores também deve ser levada em consideração. Para ele, faltou diálogo entre os pescadores e as instituições do projeto para que exista um consenso que se acabe com o conflito.

Pedro Corrêa disse que a Câmara sempre foi uma administradora de conflitos, que também são importantes para amadurecer ideais. Para ele, não se pode tomar medidas sem ouvir pessoas dos dois lados envolvidos. Os pescadores esperaram a reunião com a Semma sobre o assunto e a reunião não aconteceu. Esse momento era preciso. Se existe uma colônia e uma associação é preciso que sejam inseridas na discussão. Temos a preocupação da sustentabilidade, mas também com a questão da sobrevivência do individuo.

Outras reuniões técnicas serão realizadas nas próximas semanas para encontrar um meio termo para que o projeto seja implantado sem inviabilizar a sustentabilidade das famílias que dependem da pesca neste setor.

Ulisses Pompeu – de Marabá