Vale e Sinobras usam cautela para evitar fiasco de Alpa e Aline

Empresas estão alinhadas para apresentar projeto de aciaria ainda sem nome, valores e produção. Fracassos do passado assombram a mineradora

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Alpa, Aline, Cevital e parceria com a chinesa CCCC. Esses nomes são de projetos anunciados para Marabá pela Vale nos últimos 14 anos e que não saíram do papel. Um a um eles sucumbiram, embora tenham atraído milhares de pessoas em busca de emprego para a cidade, causando prejuízos para empresários. Hoje, a empresa mantém uma legião de ateus – pessoas que não acreditam mais em suas promessas.

Em um desses projetos, a mineradora se juntou à Sinobras, empresa instalada no Distrito Industrial de Marabá e que iniciou, em 2008, a produção de aços longos para construção civil. Juntas, elas anunciaram ao governo estadual, em novembro de 2009, que criariam o Projeto Aline, para produzir laminados a quente (capacidade de 710 mil toneladas por ano), laminados a frio (capacidade de 450 mil t/ano) e galvanizados (capacidade de 150 mil t/ano), com as placas de aço fornecidas pela Alpa (que nunca sairia do papel). O custo estimado para o Aline seria de 750 milhões de dólares à época.

De todos esses, o mais badalado e que virou lenda e maldição em Marabá, ao mesmo tempo, foi a Alpa (Aços Laminados do Pará), com a previsão da construção de um complexo siderúrgico de 5,2 bilhões de reais, capazes de mudar radicalmente a economia do município. A mineradora até começou a obra, mas paralisou tudo após a fase de terraplanagem, alegando que sem a hidrovia do Rio Tocantins, prometida pelo governo federal, o projeto ficaria inviável.

Pois bem. Passados 14 anos, a Vale volta a anunciar outro projeto siderúrgico em parceria com a Sinobras. Desta vez, não há divulgação de valores e nem sequer a nova empresa tem nome. Ambas as parceiras a tratam, por enquanto, como “Nova Aciaria”, e só. De vez em quando divulgam informações pouco esclarecedoras sobre os estudos, mas garantem que estão prosperando.

Mas assim como no passado, Vale e Sinobras reconhecem que esse novo projeto só seria viabilizado se outro, que depende exclusivamente da Vale, for levado a cabo. Trata-se da Tecnored, uma siderúrgica que promete produzir 250 mil toneladas de gusa verde, com start-up previsto para 2025 e investimentos da ordem de R$ 1,6 bilhão. As obras estão em andamento, embora lentamente. 

Esse projeto, aliás, foi alardeado pela mineradora, inclusive com a vinda de seu presidente a Marabá para anunciar ao prefeito Tião Miranda e ao governador Helder Barbalho o seu lançamento, mas virou um tiro pela culatra. Os dois gestores, ao analisarem as dimensões do projeto e a pouca quantidade de empregos que geraria, foram contundentes com a empresa e seu presidente. Resgataram as promessas da Alpa e cobraram algo que fosse mais impactante para a economia local. Foi só depois disso que nasceu o projeto da Nova Aciaria.

E para ele, Vale e Sinobras atuam com tanta cautela que têm colaboradores de ambos os lados participando de reuniões bilaterais periodicamente para avaliar viabilidade, macroprocessos, rota de produção, capacidade produtiva, características e qualidade dos produtos, integração com o Projeto Tecnored e as primeiras opções de layout.

O acordo assinado no início deste ano entre a Vale e Sinobras prevê as garantias para o desenvolvimento do projeto que vão desde a qualidade e quantidade do gusa a ser fornecido (matéria-prima para aciaria), até o acesso às informações técnicas para o desenvolvimento integrado dos projetos e as garantias financeiras. A Sinobras é a responsável pelo desenvolvimento da engenharia, implantação e operação da planta. A previsão para o início da produção da nova aciaria é após o startup da Tecnored, previsto para o segundo semestre de 2025.

Além de gerar novos empregos e renda, a Nova Aciaria irá (ou iria) garantir o suprimento de aço necessário para o novo laminador da Sinobras.

A mais recente reunião entre técnicos da Vale e Sinobras ocorreu em julho deste ano. Após esta etapa, anunciaram que estavam discutindo, então, detalhes como a construção da planta, layout, custos envolvidos, possíveis sinergias como compartilhamento de infraestrutura, tecnologia e conhecimento técnico para otimização de custos e produtividade, além das etapas do processo de licenciamento ambiental, matérias-primas que serão utilizadas e riscos e desafios.

Caso se confirme e essa Nova Aciaria seja concretizada, as duas empresas creem que vão oferecer condições para implantação do profetizado e sonhado polo metal mecânico em Marabá.

Nova Aciaria ou seja lá qual nome a empresa tiver, no futuro, a Vale não tem mais margem de erro em sua relação com Marabá. É preciso fazer o Projeto Tecnored dar certo e transformar a siderúrgica sem nome em algo grande, viável e que gere muitos empregos para lhe tirar do Purgatório das Promessas que se meteu.

2 comentários em “Vale e Sinobras usam cautela para evitar fiasco de Alpa e Aline

  1. Gilson xavier Responder

    Na apresentação do tecnored, estive presente, e uma frase que me chamou a atenção foi do governador: “A Vale sabe o que é melhor para o Pará”. Penso que quem sabe o quê melhor para o Pará é o Paraense, e não os burocratas da Vale, que ficam no Rio de Janeiro …

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