Rosa Weber assume STF e Bolsonaro prefere participar de live em São Paulo

Mandato será de apenas um ano por força da aposentadoria em 2023. Ela é gaúcha de Porto Alegre, ingressou na magistratura em 1976, como juíza do Trabalho substituta
A ministra Rosa Weber assumiu nesta segunda-feira (12), a presidência do Supremo Tribunal Federal

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Brasília – A ministra Rosa Weber, que chegou ao cargo por indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), assumiu nesta segunda-feira (12), a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Indiferente à cerimônia, o presidente Jair Bolsonaro (PL), viajou para São Paulo e participa de uma live para um podcast de uma organização religiosa.

A ministra será a terceira mulher a comandar a Corte Suprema, mas ficará no posto por apenas um ano, uma vez que se aposentará em outubro do ano que vem, quando completa 75 anos.

Apesar da ausência de Bolsonaro, outros integrantes do governo federal estiveram na cerimônia, como os ministros Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicações), Anderson Torres (Justiça) e o advogado-geral da União, Bruno Bianco. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também compareceram.

Cármen Lucia foi a primeira a discursar e disse que Rosa, de quem é amiga pessoal, assume o cargo em tempos “de luto e desassossego”. A ministra afirmou ainda que “a democracia se realiza para garantir liberdade, trabalho, pão e paz para todos: “E ainda há no mundo e no Brasil fome de comida, de justiça e de esperança.”

Rosa Weber é gaúcha de Porto Alegre, ingressou na magistratura em 1976, como juíza do Trabalho substituta. Foi indicada ao STF em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff (PT). Ao ser eleita, afirmou que pretende desempenhar a função com serenidade e apoio dos demais ministros, sempre na defesa da integridade e da soberania da Constituição e do regime democrático.

De perfil discreto e reservado, a ministra chega à presidência do STF com a expectativa entre os demais ministros de dar uma condução “institucional” à Corte.

Diferentemente dos outros 10 colegas que integram a Corte Suprema, Weber não concede entrevistas, não tem perfil em redes sociais e só fala nos autos, como deve ser um ministro do STF.

Ela foi elogiada ao assumir a tarefa. “Estou certo de que a ministra Rosa Weber, que possui longa experiência judiciária (e administrativa), eis que já dirigiu o TRT da 4ª Região e o Tribunal Superior Eleitoral -— será uma notável presidente do Supremo Tribunal Federal, pois reúne todos os atributos que permitem nela reconhecer a figura de uma grande magistrada!”, disse, por meio de nota, o ministro aposentado Celso de Mello.

O ex-presidente da Corte ainda classificou a atuação de Rosa junto ao STF como “brilhante, firme, competente, altamente qualificada, digna e serena no desempenho isento e impessoal da jurisdição”.

A ministra vem dando decisões importantes que contrariam os interesses do governo ou do próprio presidente. Na mais recente delas, na última quinta-feira, ela deu continuidade a um pedido de investigação feito por parlamentares de oposição contra Bolsonaro, em razão de uma reunião com embaixadores estrangeiros ocorrida em julho na qual o presidente fez novamente ataques sem provas às urnas eletrônicas. A Procuradoria Geral da República pediu o arquivamento do caso, mas Rosa Weber não acatou.

Em 2021, duas decisões de Rosa Weber contrariaram frontalmente políticas do governo. Em abril, ela suspendeu trechos de decretos presidenciais que facilitariam a compra e porte de armas, uma das principais bandeiras do presidente. Em novembro, mandou suspender a execução das “emendas de relator”, que compõem o “orçamento secreto”, usado pelo governo para turbinar as emendas parlamentares de aliados no Congresso.

Posteriormente, com o compromisso de maior transparência na divulgação das emendas e dos parlamentares que as indicam, os pagamentos foram liberados.

Até em processo contra Bolsonaro que ela mandou arquivar houve decisão gerando desgaste ao governo. Em março deste ano, contrariando a praxe de encerrar uma investigação quando há um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Rosa Weber rejeitou o arquivamento do inquérito que apurava a suspeita de prevaricação de Bolsonaro no caso do processo de compra da vacina indiana Covaxin. Semanas depois, porém, ela decidiu aceitar o recurso da PGR para encerrar o processo.

Durante a CPI da Covid, que investigou entre outras coisas o processo de aquisição da Covaxin pelo Ministério da Saúde, ela suspendeu a convocação de governadores. Enquanto funcionou a CPI, a base do governo tentou investigar irregularidades nos estados, como forma de tirar o foco do governo federal, mas a oposição, em maioria na comissão, frustrou a estratégia. Para isso, contou em parte com a ajuda da decisão da ministra.

Rosa Weber tomou algumas decisões relacionadas ao combate à pandemia. Em fevereiro de 2021, quando as mortes cresciam no Brasil, ela atendeu os estados de São Paulo, Bahia e Maranhão e determinou que o Ministério da Saúde analisasse imediatamente pedidos de habilitação de novos leitos de UTI. Em janeiro de 2022, durante o recesso do STF, quando pôde atuar em processos de outros ministros, ela deu um despacho numa ação relatada por Luís Roberto Barroso e deu cinco dias para o Ministério da Saúde explicar uma nota técnica que atacava as vacinas contra a Covid-19 e defendia o uso da hidroxicloroquina, remédio comprovadamente ineficaz no combate à doença.

Em relação à política ambiental do governo, marcada pela desregulamentação, Rosa mandou suspender em outubro de 2020 a validade da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que permitiu a exploração de áreas de restingas e manguezais, decisão que depois foi mantida pelo plenário do STF. Rosa Weber também é relatora de outras ações que tratam da questão ambiental, mas sem decisão ainda. É o caso de uma contra decreto de Bolsonaro estabelecendo que as multas ambientais devem ser revistas em audiências por um núcleo de conciliação ambiental. E de outra que aponta omissões do governo federal na gestão do Fundo da Amazônia.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.