Plebiscito: preconceito caboclo

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Por Demerval Moreno (*)
Parece que desenterraram a machadinha de guerra lá pras bandas de Moju. Nossos conterrâneos vêm pra cima da gente com a faca nos dentes. Não era essa a ideia quando começamos essa “luta” pelo Estado de Carajás e pelo Tapajós.

Para desqualificar o ideal impregnado no profundo do sentimento separatista, cunharam para nós uma designação preconceituosa: FORASTEIROS.

Primeiro os forasteiros eram os brasileiros de Minas, da Bahia, do Maranhão, do Piauí, do Espírito Santo, Rio, São Paulo e outros tantos Estados da Federação que “emprestaram” seus filhos trabalhadores para vir desbravar esta região em épocas difíceis; depois nós, paraenses de RG e DNA também fomos colocados na mesma condição. Nós, por ventura, somos daqui. Já eles, são homens e mulheres que chegaram aqui movidos pelas oportunidades que um lugar “virgem” poderia oferecer. Mais que caçar um tesouro acharam também a malária, a hepatite, febre tifóide, entre outras tantas endemias. Mas, claro, também descobriram ouro, ferro, manganês, níquel, cobre. Era para ser nos, os paraenses, os descobridores das riquezas do Pará. Mas nossos governantes nunca se preocuparam em nos preparar para isso. Educação sem qualidade, escolas piratas, professores remando contra a correnteza das tendências, fazendo das tripas coração para nos dar pelo menos o básico. Por isso foi preciso virem os médicos, os engenheiros, os fazendeiros, OS FORASTEIROS para desbravar as terras ricas e ajudar o povo pobre a ter contato com um mínimo de dignidade. Conheço médico que quase morreu doente na região para salvar vidas indigentes, filhos órfãos do estado, perdidos por essas bandas.

São essas besteiras que a gente fala que incomoda a elite intelectual a serviço de um Pará que escraviza o povo destituído de uma quase presença de espírito e auto-estima. Não temos amor próprio. Não temos perspectivas. Restou um sotaque de beira de rio e uma cor que define nossa pele queimada de sol. Carregamos impregnado nas mãos o pitiú dos peixes de água doce, perfume da lida e da luta pela sobrevivência. Essas besteiras podem ser resolvidas com um banho de educação. O que nos move rumo a um novo amanhecer são outros odores. A corrupção que não permite o dinheiro chegar aos mais necessitados; a ladroagem que tira o pouco da boca dos pobres; o descaso que mata os doentes longe dos hospitais. Não enxerguem apenas nossas besteiras, venham ver também os enormes socavões nas estradas, os imensos buracos na história, as incomensuráveis mazelas e os dolorosos desejos de uma saúde que nos cure essa dor. Venham aqui e avaliem se o que queremos é legítimo ou não. Tenho convicto em meu coração de comedor de pupunha que ao descobrirem que os que nos separa há tempos não é uma linha cheia de curvas em um mapa, por certo apoiarão a nossa labuta por melhores dias. Venham e vejam o que é ser deserdado, esquecido, abandonado, rejeitado. Venham e vejam o que é NÃO TER GOVERNO.

Não queremos guerra, sumanos. Basta sentir como dói esse preconceito para saber que não será saborosa essa batalha. O que nos faz FORASTEIROS é terem nos deixado de FORA dos benefícios a que temos direito. Nossa luta é fruto da EXCLUSÃO, forjada nas filas dos enfermos, nas madrugadas grávidas de sonho e angústia.

Já faz tempo que não somos paraenses. Já faz anos que tiraram de nós a cidadania. Esses mineiros, baianos, maranhenses, cariocas, paulistas forasteiros, já faz tempo que não são de Minas, Bahia, Maranhão, Rio, São Paulo. Estão aqui e são daqui agora, como também somos daqui os paraenses que há muito não sabem o que é sentir um ABRAÇO CABÔCLO, o RESPEITO CABÔCLO.

Pelo menos a possibilidade de sermos LIVRES despertou em nossos conterrâneos um sentimento: esse PRECONCEITO CABÔCLO. Por pior que seja, já prestam atenção em nós!

* – Demerval Moreno é paraense.

10 comentários em “Plebiscito: preconceito caboclo

  1. Desembargador Responder

    E uma piada ver essas pessoas contra a divisão do estado,façam uma pesquisa com a população de Belém e região e pergunte a eles onde fica redenção,xinguara,santa Maria das barreiras,são Felix do Xingu.a maioria nem sabe que essas cidades ficam no para.agora ficam ai com esse discurso contra a divisão.o governo do estado explorou por décadas a região Sul e sudeste do estado e retorno nada,descaso total…. Sim pra divisao do estado

  2. Brasileiro Responder

    Apoio completamente o Demerval e o autor desse blog.

    Eu administro um fórum com quase 2000 membros e tenho vários moderadores subordinados e sei quando uma pessoa se diverte as custas de outras pessoas. Em outro fórum internacional com 500.000 mil membros eu denunciei a postura de usuários PARAENSES praticando crime de preconceito CONTRA PESSOAS DE OUTROS ESTADOS (principalmente do Maranhão) e ganhei a causa porque quem chama o irmão de pátria de forasteiro merece é CADEIA por prática de preconceito e difamação (dois crimes e talvez devessemos incluir falsidade ideológica nele).

    A postura de quem chama outros brasileiros de forasteiros no intuito de chamar de ladrão é indigna e desonrada.

    Por isso além de apoiar a divisão do estado APOIO que se DENUNCIE PRÁTICAS DE PRECONCEITO E DIFAMAÇÃO como formas de CRIME E AGRESSÃO nos órgãos competentes.

    Fazer campanha é uma coisa, já fazer ignorância pura para proteger a fraqueza de um estado omisso é outra completamente diferente. Vergonha para o estado do Pará e para quem defende a cegueira pois eu penso que o Pará também não merece falsos defensores com mel na língua e veneno na presa que xingam CIDADÃOS de outros estados para que se vote contra uma campanha legítima.

    São “defensores de fachada” e testas de ferro que são os mais fáceis de serem manipulados e os que pensam que o problema é simplório a ponto de poder colocar culpa em forasteiros invisíveis.

    Vamos ficar alertas porque tem gente USANDO O PARÁ para proteger a própria fraqueza interior.

  3. wanderley mota Responder

    nós daqui do sul e sudeste,nessa referência à casa,somos a “edicula”.

    zé dudu aproveito para lhe parabenizar pelo espaço democrático e… tô sabendo sábado a festa é toda sua felicidades sempre,muitos anos de vida,geladaaaaaa!!!

  4. Marcos Responder

    Cara, eu sou nascido e criado na região sudeste do Pará, e não vejo motivo para separação, o que acontece aqui é a mesma coisa que acontece em qualquer outra região do país. E se formos nos basear por esse lado o Brasil já teria uns cem estados, pois essas mazelas existem em todo território nacional. Eu proponho que essa elite forasteira voltem para os seu estados e proponham por lá uma divisão para que eles usufruam das mordomias e ter status, de senhores do novo estado, e aos paraenses conterrâneos que tenham brio pelo seu estado e não caiam nas promessa de forasteiros, e sim chegem-se a eles( os forasteiros) e proponham união em pról de um estado grande e forte, pois os mutiladores do estado alheio são todos politicos que sempre entiveram na base de apoio do governo estadual, seja ela de qualquer partido e tiveram todas as oportunidades de trazer melhorias para a região e não o fizeram. E depois se serem eleitos( com os votos dos paraenses inocentes) e jurar compromisso de cidadão paraense, eleito para defender as causas do Estado, agora viram as costaspara o estado, traindo o povo humilde ( e eu me incluo nele) que os elegeu iludidos com promessas de melhorias para a região, é por isso e por outras e muitos mais que sou contra a DIVISÃO DO PARÁ.
    Não vou dizer que a região é um paraiso, pois estaria mentindo, mais também não é nenhuma Somália, ou outro pais pobre do mundo afora, como é o discurso dos esquartejadoress do Estado alheio…..

  5. Paulo Sérgio Responder

    Caro, Zé Dudu, mostre que tu criaste esse blog, para servir de debate, entre os contra e os prós.
    Depois de ler esse artigo do Sr. Demerval Moreno, publica esse da também paraense.
    Amarílis Tupiassu

    Indigna já só a ideia de reduzir o Pará a Belém e Zona do Salgado. Coisa de político-forasteiro mal-agradecido. O cara chega à casa alheia, que o acolhe com hospitalidade, e se revela um aproveitador. Entra, fuça a geladeira, abanca-se no melhor sofá, escancara as portas dos quartos, e a gente sabe: é um folgado. Chora, estremece por seu estado de nascença, enquanto explora e desdiz do Pará, de que só pensa em chupar tudo, até o Estado inteiro, se deixarmos.

    O retalhador do estado (dos outros) chega e se espalha feito água. Abanca-se, invade a cozinha, destampa, tem o desplante de meter o dedo na panela, antes do dono da casa, lambuza as mãos, lambe os dedos. Como nós, os paraenses somos cordiais, ele confunde cordialidade com liberalidade. Vem, vai ficando, mergulha de unhas e garras afiadas em terras e política. Espalhado, o aproveitador, pronto, enriqueceu, encheu a pança. Fez-se fazendeiro, político de muito papo (balofo), o cara de pau. Alguns não dispensam trabalho escravo e agora dão de posar de redentores da miséria do Pará, como se só no Pará houvesse miséria. E cadê? Ih, já nas altas cúpulas, armando discórdia, querendo porque querendo dividir o estado do Pará, ‘disque’ porque é estado imenso e pobre, como se os miniestados brasileiros fossem paradisíacos reinos de felicidade, nenhum faminto sem teto, nenhum drogado, saúde e escola nos trinques, nada de tráfico e exploração de menores. Balela de retalhador!

    O retalhador (do estado alheio) tem no cérebro sinal de divisão. Só quer dividir, não seu estado, onde o espertalhão não conseguiu levantar a crista. No Pará, não se contenta em ser fazendeirão, explorador de miseráveis. “Quero um estado pra mim, Assembléia Legislativa, rumas de assessores, Tribunal de Contas com obsceno auxílio-moradia, mesmo que eu tenha casa própria”.

    E o retalhador já quer governar o estado (dos outros), quer reino e magnífica corte própria, algo comum nestas terras brasílicas dominadas por quadrilhas de políticos cara de pau, porque os dignos, vergonha na cara, os que lutam a valer por um Brasil de união, ordem e progresso, estes raros políticos dão uma de éticos e não põem a boca no trombone.

    Não, o Pará não é casa de engorda e enriquecimento de esquartejador da terra dos outros. Mas o pior é que eles se juntam até a certos políticos paraenses, que, em vez de dizer não decisivo e absoluto à divisão, ficam em cima do muro. É que os muristas, paraenses também não são flor que se cheire. Incrível que políticos paraenses admitam o roubo oficial das ricas terras do Pará. Pendurados no muro, os muristas paraenses só pensam na engorda de seus vastos currais e não em defesa e união.

    Sim, quem quer esfacelar o Pará? Deputados de longe que lambem os beiços por se apoderar do Marajó, do Tapajós, de Carajás. Risíveis os argumentos separatistas: “A imensidão do Pará impede seu progresso”. Nada! Papo de político! É vasta a miséria dos estados pequenos e do Brasil mal governado. Dividir vem da omissão de políticos do Pará, eles em ânsias por suas lasquinhas. Separatista daqui e de fora quer é feudo, castelo, mais poder. O mapa do Pará lembra um buldogue. Ele precisa de brio, amor-próprio, rosnar, se quiserem reduzi-lo em retalho. O Pará quer paz e união. Vamos calar os esquartejadores que boiam, do fracasso em seus estados, ao sonho de esfacelar o Pará. Vamos dizer não a mais essa mutreta de político espertalhão.
    Ninguém, niguém mesmo tem o direito de invadir a casa alheia e depois de ser bem recebido e ter sucesso na casa alheia, tentar diminui-la tirando-lhe tudo o quem ela tem de melhor.

  6. negreiros Responder

    Valeu Demerval. Somos gente trabalhadora, com nossa propiá identidade que queremos crescer com a criação de novos estados. Quem conhece o sul e sudeste do pará sabe que precisamos fazer a nossa propiá historia. Carajás já!

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