Número de homicídios no Pará disparou mais de 100% entre 2007 e 2017, revela Atlas

Alguém é assassinado aqui no estado a cada uma hora e 55 minutos, em média. Se fosse um país, Pará seria o 3º mais violento do mundo, atrás de El Salvador e Jamaica.

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O Pará é um dos estados mais violentos do Brasil, e a cada ano a situação piora. O número de assassinatos, que foram 2.194 em 2007, saltou para absurdos 4.575 dez anos após, um terrível aumento de 108,5%. Em média, um paraense é executado a cada uma hora e 55 minutos. Os dados foram divulgados na manhã desta quarta-feira (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por meio do quentíssimo “Atlas da Violência 2019”, que traz o panorama dos homicídios registrados no país a partir de números consolidados do Ministério da Saúde.

A criminalidade virou um câncer em metástase, tratado historicamente com medidas paliativas, enquanto o estado não atua na raiz do problema e, por isso, segue agonizando em mazelas que o condenam ao subdesenvolvimento, como educação pública precária, saúde ruim, falta de saneamento básico, desemprego, favelização e má distribuição de renda. O empobrecimento social do Pará é causa e consequência de sua violência.

O Blog do Zé Dudu fez a leitura das 116 páginas do estudo, que multifaceta a violência por cor, gênero, faixa etária e tipo. Nos números gerais absolutos, em 2017, o Pará só não foi mais letal que Bahia (7.487 homicídios), Rio de Janeiro (6.416), Ceará (5.433), Pernambuco (5.419) e São Paulo (4.631). É como se o estado estivesse numa guerra constante, em que anualmente o número de vítimas só aumenta. De acordo com o Ipea, 7 de cada 100 assassinatos no Brasil ocorrem no Pará. Em 2017, o país viu serem mortas pelo crime 65,6 mil habitantes.

Aqui no estado, as mortes por arma de fogo são as mais comuns e totalizaram 3.362 registros em 2017, o equivalente a 143% a mais que em dez anos atrás.

Mais letal que 3 países

Em termos proporcionais ao total da população, a taxa de homicídios avançou de 30,3 casos por 100 mil habitantes para 54,7 por 100 mil entre 2007 e 2017, inchaço de 80,7% no período. Se fosse um país, o Pará só não seria mais violento que El Salvador (60 assassinatos por 100 mil habitantes) e Jamaica (56 por 100 mil). O Rio Grande do Norte é o estado mais violento do Brasil, com 62,8 homicídios por 100 mil, enquanto São Paulo é o menos, com 10,3 por 100 mil.

Juventude perdida

A situação é ainda mais drástica no Pará quando a pesquisa recorta a faixa etária da população. E os jovens — grupo com entre 15 e 29 anos — são os mais suscetíveis à violência. Em 2017, foram assassinados 2.451 jovens paraenses, 94% a mais em relação a 2007. A taxa de homicídio nessa faixa etária chega a impressionantes 105,3 casos para cada grupo de 100 mil indivíduos. E atinge assustadores 195 registros em cada grupo de 100 mil, se forem considerados os do sexo masculino.

Violência contra a mulher

Ao todo, 311 mulheres foram assassinadas no Pará em 2017 ante 144 em 2007. É um triste “progresso” de 116% nos indicadores de letalidade. Entre as mulheres negras, o crescimento dos homicídios chegou a 155%, passando de 112 casos para 286 na década. De acordo com o Atlas da Violência 2019, o estado chegou a 2017 em seu pior nível de violência contra pessoas do sexo feminino e os números encontram-se em franco crescimento.