Municípios ricos do Pará estão entre piores do Brasil em governança

Integrantes da elite do PIB nacional, Marabá, Parauapebas, Barcarena e Tucuruí vão de mal a pior em desempenho social e são arrastados para final da fila entre 163 municípios brasileiros.

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Um estudo recém-elaborado pelo Conselho Federal de Administração (CFA) mostrou que a governança dos municípios endinheirados do Pará está totalmente incompatível com o Produto Interno Bruto (PIB) que eles detêm. Esses municípios literalmente levaram pau em um ranking do Conselho, que compilou dados de diversos indicadores como saúde, educação, finanças e transparência, com base temporal mais frequente dos anos 2017, 2018 e 2019. De 163 localidades com mais de 100 mil habitantes e na faixa de maior PIB por pessoa do Brasil, os paraenses estão entre os dez piores.

As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu, que analisou o Índice de Governança Municipal (IGM) do CFA. O índice tem nota que vai de 0 a 10, e quanto mais próximo de 10, mais eficiente é a gestão de políticas públicas do lugar. O Conselho agrupou os municípios em oito grupos, sendo o G8 o mais elevado. Para estar nele, o município precisa ter, no mínimo, 100 mil habitantes e produção de riquezas por pessoa superior a R$ 28.636,00.

É o caso de Parauapebas, Marabá, Barcarena e Tucuruí. O problema é que eles quatro, os únicos paraenses no pelotão de elite do estudo, são praticamente os piores colocados no ranking nacional, que, para totalizar a pontuação geral de governança, leva em conta as dimensões finanças, gestão e desempenho social.

Enquanto os três primeiros colocados do Brasil — todos do estado de São Paulo — ostentam notas que partem de 8, os paraenses patinam entre a metade e menos da metade disso. Indaiatuba (8,11), Jundiaí (8,05) e São José do Rio Preto (8,01) parecem ilhas de desenvolvimento e prosperidade quando comparados aos principais centros urbanos do interior amazônico.

No final da fila

Marabá, município mais bem colocado dos quatro, é, ainda assim, o 10º pior do país na lista de 163 nomes. Com nota geral de 4,28, o município até que vai bem em finanças (6,07 pontos) e gestão (6,18), mas desaba quando o assunto é desempenho social, dimensão que traz consigo itens como educação, saúde, saneamento, segurança e vulnerabilidade social. Aqui, o município mais importante do interior paraense não chega sequer a 1 ponto — a nota é de vergonhoso 0,6.

A situação de Parauapebas é ainda mais delicada. O hoje mais próspero município brasileiro para trabalho temporário na construção civil não consegue traduzir todo o seu vigor econômico em políticas públicas eficientes para seus mais de 200 mil habitantes. Por isso, seu índice geral de governança é de 3,96, o 6º pior entre os municípios ricos. Parauapebas é razoável em finanças (4,74) e gestão (4,75), mas vai mal em desempenho social (2,38).

Pior que Parauapebas só mesmo Tucuruí (com IGM de 3,19) e Barcarena (com IGM de 3,12). Eles, assim como os demais representantes paraenses do G8, foram péssimos em desempenho social, um claro calo no sapato do Pará. Tucuruí é o 3º pior do Brasil na classificação do Conselho Federal de Administração e Barcarena, o vice-campeão no título de troféu de pior dos piores.

Os índices baixos conquistados pelos polos de riqueza do estado são clarividente sinal de que o PIB elevado não diz muita coisa quando contraposto aos serviços sociais básicos que deveriam chegar com eficiência à população. A apresentação de indicadores ruins em quaisquer estudos onde eles apareçam não consegue tapar o sol com peneira, simplesmente porque economicamente o Pará e alguns de seus municípios vão bem. É chegada a hora da transformação social urgente.