Marabá registrou 248 acidentes de trânsito em 2016, com saldo negativo de 47 mortes

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Por Eleutério Gomes – De Marabá

O Anuário Estatístico de Acidentes de Trânsito – 2016, do Departamento Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (DMTU), ao qual o blog teve acesso com exclusividade, informa que no ano passado foram registradas 248 ocorrências nas ruas de Marabá, com um saldo negativo de 47 mortes, quase quatro a cada mês.

As causas prováveis desses acidentes foram: falta de atenção, 55,7%; distância de segmento, 24,4%; desobediência à sinalização, 11,4%; ultrapassagem indevida, 3,25%; ingestão de álcool, 1,21%; e outros, 4,04%.

Percorrendo as ruas de Marabá não é difícil saber os motivos pelos quais a falta de atenção é a campeã das causas dos acidentes. O que mais se vê são condutores falando ao celular enquanto dirigem, digitando mensagens, virando a cabeça para falar com o interlocutor que está no banco de trás, casais brigando e até – pasme leitor – motociclista digitando no celular com a moto em alta velocidade.

Quanto aos tipos de acidentes, a colisão lateral sai na frente, com 48,37%, seguida de colisão traseira, 32,9%; colisão frontal, 12,19%; colisão com objeto fixo (poste, árvore, muro, parede) 1,2%; atropelamento, 1,2%; colisão com bicicleta 0,81%; e outros, 3,25%.

A colisão traseira é irmã da distância de segmento, ou distância mínima entre a frente de um veículo e a traseira do outro. O que também não é difícil de ver no trânsito marabaense. Não raramente, é fácil perceber veículos quase colados uns aos outros, o que resulta em batidas, sobretudo quando o condutor da frente precisa frear bruscamente para, por exemplo, evitar um atropelamento.

O dia da semana em que mais aconteceram acidentes, no ano passado, foi terça-feira, 17,07%; depois vêm: sexta-feira, 15,85%; quarta-feira, 15,04%; quinta-feira, 15,04%; segunda-feira, 14,63%; sábado, 13%; e domingo, 9,35%.

Foi no Núcleo Nova Marabá onde ocorreu a maioria dos acidentes, 129 ou 52,03%. Depois vêm: Cidade Nova, 34,55%; Velha Marabá, 11,38%; 1,22%; e Morada Nova, 0,81%.

Quanto ao turno, 38,21% dos acidentes aconteceram à tarde; 34,55%, pela manhã; e 27,23%, à noite.

Prejuízos chegam a R$ 45 bilhões anuais aos cofres públicos. Motociclistas lotam UTIs

No Brasil, conforme levantamento da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), baseado em dados de 2008 a 2015, a Previdência Social e o SUS (Sistema Único de Saúde) amargam um prejuízo médio de R$ 45 bilhões ao ano, pela internação hospitalar na rede pública e pela concessão de aposentadoria por invalidez, em consequência dos acidentes de trânsito.

E são as ocorrências envolvendo motocicletas que fazem mais vítimas, 75%, embora a frota de motos do país corresponda a apenas 26% do total dos veículos em circulação. Número este que destoa em Marabá, onde, de acordo com o levantamento de 2016, do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), do total de 104.857 veículos registrados no município até 31 de dezembro, 57. 644 (54,97%) eram motos.

O Anuário do DMTU de 2016 não cita o percentual de carros nem de motos envolvidos nos acidentes, mas os dados de 2015 mostram que, dos 330 acidentes ocorridos naquele ano, 168 (51%) envolveram com carros; e 162 (49%), motos.

As perdas, entretanto, não se referem somente à Previdência e ao SUS. Nas casas de saúde pública País afora, sobretudo as que oferecem atendimento de média alta complexidade, vítimas de acidentes de trânsito, muitas das quais com grandes traumas, têm preferência no atendimento, pela situação de risco de morte.

Mas isso acaba por fazer crescerem as filas de espera de outros pacientes que também precisam de atendimento e, na maioria das vezes, têm de recorrer ao erário municipal, que custeia o TFD (Tratamento Fora do Domicílio). Mais prejuízo financeiro.

No Hospital Regional Público do Sudeste do Pará “Dr. Geraldo Veloso”, em Marabá, que dispõe de 115 leitos, entre Unidades de Internação e Unidade de Terapia Intensiva e atende a pacientes de 22 municípios da região, no ano passado 3.385 pacientes foram internados e, desse total, 2.031 (60%) eram vítimas de acidentes de trânsito, desses, 1.624 (79,96%) relacionadas a traumas com motocicleta; e 407 (20,94%) com carros.

Muitos dos acidentados com motos são vítimas de múltiplas fraturas, o chamado paciente politraumatizado, que necessita de uma abordagem multidisciplinar envolvendo, com isso, várias especialidades médicas, como a Ortopedia-Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Geral e Cirurgia Vascular.

A maioria apresenta fraturas nos membros inferiores (tíbia, fíbula e fêmur) e superiores, além de traumatismo cranioencefálico (TCE). E, dependendo da gravidade do caso, é possível que muitas vítimas de trânsito fiquem com sequelas, algumas permanentes.

Com isso, precisam de acompanhamento ambulatorial no HR, a partir de sessões de reabilitação com fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, além do atendimento médico.

Em fevereiro deste ano, dos 20 leitos de UTI do Hospital Regional, cerca de 50% foram ocupados por vítimas de acidente com motocicletas.

Segundo o diretor-geral do HRSP, Valdemir Girato, geralmente, as vítimas de acidente de trânsito apresentam múltiplas fraturas, o que aumenta os custos para tratamento e faz com que elas tenham uma permanência mais longa no hospital, “inviabilizando o alto giro de cirurgias eletivas, como as de hérnia de disco e pedra na vesícula, em idosos, e em casos de menor complexidade”.

Autossuficiência exagerada, má formação e excessos são ingredientes mortais

Rogério Matias da Silva, do setor de Educação para o Trânsito do DMTU, tem mais de 15 anos de departamento e diz que no “trânsito se vê de tudo”, apesar das campanhas educativas com as quais os governos investem milhares de reais.

Ele é de opinião as pessoas muitas vezes se acham muito autossuficientes a ponto de pregarem que o errado é que está certo: “A gente chega a ouvir a asneira de gente que diz, ‘eu dirijo até melhor quando bebo (álcool)’”.

“Para evitar esses números de vítimas fatais no trânsito, as pessoas deveriam pensar, em primeiro lugar, em si mesmas, ter maior responsabilidade com a própria vida”, afirma Rogério, acrescentando que, em seguida, esses mesmos condutores deveriam ser mais responsáveis também “com a vida do próximo”.

Para ele, a esperança está nas futuras gerações, em educar as crianças, que são os condutores do futuro. “Eu aposto muito nisso, creio que os motoristas do futuro vão mudar esse cenário [de mortes no trânsito]. Eu sou um entusiasta da educação para o trânsito e otimista quanto a isso”.

O engenheiro e perito criminal Guidoval Pantoja Girard pilota motocicleta há mais de 30 anos e afirma que nunca sofreu um acidente. Para ele, um dos fatores pelos quais motociclistas se acidentam diariamente – muitos dos quais morrem – é a má formação. “O condutor pode até passar pelos trâmites legais para obter a Carteira Nacional de Habilitação, efetuar os testes e tudo mais, mas isso não significa que ele está preparado para pilotar”, opina Girard. Outro fator apontado por ele é o excesso de velocidade, quando o condutor ignora as regras de trânsito, ignora o perigo, “acha que é muito bom piloto e corre muito”.

“O próprio Código de Trânsito Brasileiro diz que você tem de adequar a velocidade do seu veículo à condição da via. Aqui nós não temos estradas, boas pistas, então a atenção tem de ser redobrada. Vacilou, cai”, adverte o perito, acrescentando que um terceiro fator, este também muito grave, é pilotar após haver ingerido bebida alcoólica. “Moto e álcool não combinam”, conclui.