Homem invade festa aos gritos de “aqui é Bolsonaro” e mata dirigente petista no Paraná

Vítima trocou tiros, atingiu agressor, que está internado em UTI no Paraná, em estado grave

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Brasília – A intolerância política escalou o grau máximo nesse fim de semana, numa prosaica festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR). O guarda municipal e dirigente petista Marcelo Aloizio Arruda, foi morto a tiros quando comemorava seus 50 anos entre familiares e amigos. A festa foi invadida pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, aos gritos de “aqui é Bolsonaro!”, segundo informações de testemunhas à Polícia Civil do Paraná.

Ainda de acordo com boletim de ocorrência da polícia paranaense, houve troca de tiros, Guaranho disparou três vezes contra Arruda, que revidou com três tiros. A polícia havia divulgado inicialmente que Guaranho tinha morrido por causa dos disparos, mas depois corrigiu a informação e disse que ele está sob custódia em um hospital da região. Não há detalhes sobre o estado de saúde dele, que é grave. Segundo as pessoas ouvidas pela polícia, os dois não se conheciam até o momento do crime, na noite de sábado (09).

A festa de aniversário ocorria na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu. A temática da festa era petista, cuja decoração tinha foto de Lula e símbolos do PT. Marcelo Arruda era pai de quatro filhos, entre eles um bebê, e havia concorrido na eleição de 2020 ao cargo de vice-prefeito de Foz do Iguaçu.

Segundo a Polícia Civil do Paraná, Guaranho, de 38 anos, foi duas vezes ao local da festa. Na primeira, chegou aos gritos de “aqui é Bolsonaro” enquanto a mulher e o filho pequeno aguardavam no carro.

De acordo com testemunhas, Guaranho fazia provocações e ameaças de morte aos presentes enquanto sua mulher gritava do carro para irem embora dali. Eles deixaram o local em seguida.

Cerca de vinte minutos depois, no entanto, Guaranho voltou sozinho e armado ao local do aniversário. Nesse momento, a mulher de Arruda se identificou como policial civil e Arruda, como guarda municipal. Foi quando Guaranho atirou três vezes no petista, que revidou com três tiros, segundo a Polícia Civil do Paraná.

Em suas redes sociais, Guaranho tem postagens de apoio ao presidente Bolsonaro e fotos fazendo o símbolo de arma com as mãos. Lideranças do PT atribuíram o crime ao que chamaram de “discurso de ódio bolsonarista.”

Em entrevista à uma Rede de TV, Pamela Suelen Silva, esposa de Arruda, afirmou que o marido salvou a vida de outras pessoas que estavam na festa. “O Marcelo defendeu todos que estavam lá, mas nós o perdemos. Estou sem chão. Tudo isso que aconteceu é uma extrema estupidez”, disse.

“Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele, que se defendeu e evitou uma tragédia maior. Duas famílias perderam seus pais. Filhos ficaram órfãos, inclusive os do agressor”, escreveu o ex-presidente Lula em seu perfil no Twitter, com base nas informações iniciais da polícia de que Guaranho teria morrido também.

“Também peço compreensão e solidariedade com os familiares de José da Rocha Guaranho, que perderam um pai e um marido para um discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável”, disse Lula em outra postagem.

“Basta de violência! Basta de destruição! É tempo de reconstrução e transformação do Brasil e das relações entre brasileiros e brasileiras! Vamos chorar e enterrar mais um companheiro que tombou vítima da violência política, basta!”, afirmou nota assinada por Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e por Abdael Ambruster, coordenador nacional do setorial de segurança pública do PT.

No início da noite de domingo (10), o presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre o caso nas redes sociais, mas não lamentou a morte do guarda municipal nem apresentou condolências à família de Arruda.

“Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda”, escreveu no Twitter. “Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis”, finalizou Bolsonaro.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Paraná, designou o promotor Thiago Lisboa para acompanhar o trabalho da Polícia Civil na apuração do caso.

Mesmo internado na UTI do hospital em que está internado em estado grave, José da Rocha Guaranho está com a prisão preventiva decretada pela Justiça do Estado Paraná. As autoridades apuram ainda se o assassinato do guarda municipal foi um crime de ódio. Em caso positivo, se Guaranho sobreviver, terá a pena agravada.

Veja o vídeo da tragédia em Foz do Iguaçu.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.