“Farinha pouca? Meu pirão primeiro!”

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Ao longo desse meu quase meio século de vida, mais da metade dele vivido no Pará, eu já vi de tudo e não me assusto com mais nada. No que pese à política principalmente.

Não sei de quem é o termo, mas, por estas bandas, até boi avoa.

Parauapebas é um rico município do estado do Pará conhecido por abrigar as minas de ferro de Carajás e, em virtude disso, é hoje o município brasileiro com o maior saldo da balança comercial brasileira. Fonte de investimentos e a menina dos olhos de empresários do sul e sudeste do país que aqui buscam alternativas de crescimento, de olho nos cerca de quarenta mil funcionários diretos e indiretos da Mineradora Vale.

Até aí tudo bem. Uma cidade hoje comercialmente rica encrustada no sudeste paraense, região que até pouco tempo só era conhecida pela violência e pela total falta de políticas públicas por parte do governo do estado.

Tudo em Parauapebas é superlativo, assim como é superlativo a forma amoral como são tratados alguns assuntos. Aqui, quando se fala em dinheiro, se fala de muito dinheiro. A política ferve e todos querem uma fatia desse grande bolo que é a arrecadação da prefeitura municipal.

Tem gente desqualificada e sem nenhuma noção do que é custo e lucro que enche a boca e pede, pra prestar sabe-se lá que tipo de serviço, um milhão de reais, como se esse valor fosse obtido por ele de forma corriqueira. Quando não é atendido vira oposição a quem lhe negou o pedido e passa a atacar de mamando à caducando, se achando com moral pra fazê-lo. Desce o pau em supostos corruptos simplesmente porque não foi feliz em sua intenção de corromper. E, o pior de tudo isso é que atacam sem a preocupação de quem vão atingir, poupando uns e outros que usam de práticas idênticas simplesmente porque estes lhes protegem ou lhes interessam.

Como diz um velho amigo que conheci em Parauapebas, “é preciso muita cautela nessa hora, pois cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. É preciso saber separar o joio do trigo, conhecer os reais fatos que levaram às acusações. É preciso saber se essas pessoas estão realmente preocupadas com o município ou só denunciam o que supostamente acham errado porque não tem nenhuma fatia do que é obtido de forma errada.

“Farinha pouca? Meu pirão primeiro!” Essa é a premissa usada em Parauapebas. Sem querer generalizar, estamos em uma safra ruim de políticos. Mas, também, temos uma safra ruim de jornalistas, de empresários, de profissionais liberais, de estudantes…

Os políticos sabem que a farinha é muita, mas não têm a paciência para esperar a mandioca madurar; Os jornalistas, coitados, buscam contratos para divulgar ações de políticos que pouco ou nada fazem; os profissionais liberais, mesmo ganhando verdadeiras fortunas, investem pouco ou quase nada no município e só estão interessados em faturar, faturar e faturar; Os estudantes, sem lideranças capazes de traçar um norte a ser seguido, vivem de debates supérfluos e aplaudem quando o rico município consegue fazer com que a UFPA instale aqui dois ou três cursos superiores, mesmo que eles não sejam permanentes.

Quem pode reclama e reclama, mas não quer largar o osso.

Enquanto esse osso é ruído por poucos, o povo está à mercê da falta de políticas para a habitação, para a educação, segurança, trânsito, saúde, cultura e entretenimento.

Oxalá, tempos melhores venham! Sou daqueles que torcem para que tudo dê certo, sou daqueles que acreditam, até o fim, que teremos tudo do bom e do melhor para todos. Sou daqueles que acreditam que temos as condições para fazer desse rico município um município rico em saúde, educação… Sou um sonhador e acredito que cada um de nós pode usar nosso potencial para fazer o bem. Penso que não posso cobrar dos governos ações para o trânsito quando sou um dos que “furam o sinal”. Não posso cobrar uma cidade limpa quando ainda jogo o meu lixo no chão.

Acredito que quando todos nós, cidadãos, passarmos a praticar a cidadania tornaremos essa cidade uma cidade efetivamente melhor de se viver. Somos um povo trabalhador e capaz, não resta dúvida. É preciso, apenas, que pratiquemos essa cidadania. Quando fizermos isso seremos fortes, e, com essa força não sobrará espaço para os maus políticos, para os aproveitadores e para os sanguessugas que rodeiam os governos em busca de dinheiro fácil.     

5 comentários em ““Farinha pouca? Meu pirão primeiro!”

  1. Anonimo Responder

    Prezado Zé., para criticar vc poderia abrir suas contas e mostrar seus contratos com a prefeitura,seja de maquinas alugadas, seja para veicular propagandas pagas. Fato é que mesmo para vcseutexto se aplica. Parabens pela articulação, influencia, pressao, coação, extorsao…

  2. Zé Dudu Autor do postResponder

    Caros Marcelo e Leonardo, foi pra receber comentários desse padrão que este blog foi criado. Para fomentar a discussão sobre temas pertinentes ao nosso município. Claro, com o tempo ele ficou maior que um simples blog municipal e hoje discutimos aqui problemas regionais inerentes ao nosso querido Pará, mas, sem nunca esquecer Parauapebas e seus problemas. Sejam sempre bem-vindos. Nós, que aqui vivemos há décadas e que ajudamos a construir esse município temos o direito de opinar, cobrar e mostrar os erros.
    Grande abraço!

  3. Marcelo Mesquita Responder

    Caro Zé Dudu.
    Morei em Parauapebas (e Carajás) por cerca de 10 anos. Saí daí em 2002, quase retornei em 2010, mas, o que importa mesmo, é que tenho ainda grandes amigos nesta multifacetada cidade. Anos estes divididos como funcionário da CVRD e como profissional liberal (contador). Fui talvez, o único a morar no Peba e fazer o curso de direito em Marabá. Foi uma luta só. Como também fui professor no Euclides Figueiredo, talvez, repito, talvez tenha alguma credencial para comentar o seu post. Olha, suas palavras não soam como novas. Cansei de conhecer gente nova, e depois participar de algum evento de despedida. O que se sempre se comentou muito, é que com os jovens, dar-se-ia uma nova geração, paraense por excelência, e diferente, sem as culturas (que são fortíssimas de Belém) de seus pais, que na esmagadora maioria, são de fora, assim como eu, que deixei o Rio de Janeiro em 1993. Agora, o que tenho lido, é que o minério não vai durar mais de 100 anos. E as críticas á PMP são as mesmas. Repito, o disco não é diferente. Lembro do Darcy no campus da UFPA. Como era um filósofo simplório! Wanterlor (amigo da época) em 2000, candidato a vereador; e contava-se nos dedos os carros com declarado apoio a sua candidatura (o meu inclusive). Éramos motivo de deboche. Com o tempo, ser do PT, virou moda (a Bel virou aliada), afinal de contas, era o partido do poder. Um poder disputado a qualquer preço, e a qualquer custo. Parauapebas não é diferente de qualquer outra cidade brasileira. Os poderes representam de forma fidedigna a população, ou sua maioria. O povo, em sua maioria, sempre quer uma “ajuda” para quase tudo. Não quero desviar o foco do seu escrito, mas, o que quero dizer, é que, mesmo de longe (Goiânia), trata-se de uma nova história velha. Os vícios se repetem. Quem promete mudança, aprende rápido que não pode mudar muita coisa, e não raramente, quase nada.
    Vivemos tempos difíceis, principalmente para quem tem um certo nível de esclarecimento, e de uma forte consciência ética (para o bem, não entendam errado). Outrossim, não desanime. Parauapebas, vive os problemas de uma cidade que nasceu sem planejamento. Um puxadinho aqui, outro ali, e assim foi crescendo esta cidade. E não esqueça, com gente desembarcando de toda a parte do Brasil, esquecida pelo poder central (Belém), haja vista a estrutura de segurança pública que existe aí (competência estadual). Parauapebas nasceu como uma panela de pressão. Quem ficou no começo, chacoalhou menos. Aproveitou melhor as oportunidades. Inclusive os profissionais liberais e profissionais do agronegócio. Hoje, é pressão pura. E neste caldo todo, sobrevivem os mais fortes, ou os mais adaptáveis. Busque manter seu bom jornalismo. O resto, uma hora a pressão aumenta, outra diminui, e vai se levando a vida. Ou então você vira mais um a fazer um evento de despedida; ou ainda, liderar um movimento na sociedade civil, que ao ao menos aumente a participação popular organizada, afinal de contas, em alguns anos ocorrerão eleições de novo.
    Abs
    Marcelo

    PS – Dr Sebastião do H.São Sebastião dizia que no Peba, quem ia embora deixava um pedaço do rabo enterrado, pois, conhecia um sem número de pessoas que iam embora e depois voltavam (para desenterrar o pedaço do rabo, rs), para tentar recomeçar a vida.

  4. Leonardo Soares Responder

    Muito bom seu texto,Zé! Fazendo uma ponte do que você escreveu, sem dúvida, há algo errado com a administração do Sr. Valmir, homem que tem minha admiração e que teve meu voto. M-A-S algo precisa ser explicado a nós cidadãos.

    Tenho acompanhado as atividades que vem sendo feitas na cidade, e sem dúvida são muito importantes, outras não tão necessárias para nossa cidade. Uma delas é o tal de aluguel social que a prefeitura está pagando para os invasores de terras. Concordo plenamente que a cidade deve coibir favelas e barracos, sem duvida, Parauapebas não merece favelas. Porém, usar o dinheiro público pra presentear forasteiros com casa própria e aluguéis, acredito que seja um grande desperdício. Sou a favor sim que aquelas pessoas que invadiram os morros, tenham uma casa pra morar dignamente com suas famílias, mas que trabalhem e paguem por elas. A prefeitura deveria sim, construir e financiar essas casas para que essas famílias, através de um projeto pudessem aos poucos ir pagando. Por que emprego é o que mais tem nessa cidade, aliás Parauapebas é a única cidade no Brasil que não tem desemprego! E se alguém disser que está desempregado sem duvida, é indolência. O problema é social, sim, gente sem qualificação mora num barraco e vão fazendo filhos sem o minimo de responsabilidade, depois ficam cobrando dos governos creches e mais creches. As maternidades estão cheias de meninas de quinze e dezoito anos parindo aos montes,pra depois ficarem nos hospitais e postos de saúde pedindo remédios e médicos. Não vejo nessa cidade um programa de educação familiar! As empresas estão cheias de empregados exigindo plano médico, dar-se a entender que esse povo só trabalham pra ficar doente, e ficam mesmos doentes porque a cidade não tem infra-estrutura, saneamento básico.

    É preciso ter uma visão social-econômica para administrar essa cidade,não se pode mais permitir que milhares e milhares de famílias que chegam de outros estados pra viver aqui entupindo as ruas e bairros e a prefeitura veda os olhos pra essa realidade! Os poucos que se dizem políticos, na verdade entraram na prefeitura para mamar nas tetas dos cofres públicos, não há na historia dessa cidade um prefeito, ou vereador, deputado que tenha feito algo que possa ser orgulho,não há e tenho lá minhas duvidas se haverá.

    Na questão do transito, já estamos cansados de ouvir do prefeito, dos vereadores que é preciso isso, ou aquilo mas não vejo ação nenhuma. Uma cidade que precisa urgentemente de controle, as ruas sem sinalização, sem semáforos, até hoje não se resolveu o problema do transporte publico? Estes vanzeiros fazendo o que querem nas ruas, maltratando passageiros e nada é feito? Isso já deveria ter sido resolvido, simplesmente colocando frota de ônibus na cidade,se a VALE tem seus ônibus pq a prefeitura não? Tudo isso é politica suja, gente com o rabo preso com essa cooperativa de vanzeiros.
    Existe sim recursos financeiros para investir na cidade, os cofres estão cheios de dinheiro, mas parece que o senhor Valmir não enxerga ou tem medo de arregaçar as mangas e trabalhar de verdade.

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