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Por Marcones Santos ( * )

Meus caros e baratos amigos, quero compartilhar um fato compartilhável com vocês, para que tenham juntamente com o escrevente a indignação dos injustiçados indignados.

Hoje numa faltança de papel moeda impresso em cor verde, com os números 1, 0 e 0 exatamente juntos e nessa ordem, com a figura de um peixe, me vi numa chateação cotidiana diária e histórica do tal do Rei, o tal de Roberto.

Como de sabimento geral e irrestrito, eu fui um dia preguiçoso, ia pra aula depois de diariamente espiar um cinturão de couro de boi pendurado na sala, ao lado dos meus cadernos. Era pra lembrar das minhas opções de escolha: o caderno ou cinturão na região lombar.

Roberto Carlos  35-400x506Enfim, esse negócio de apanhar nunca foi minha praia, só depois que casei, mas isso é outra história incompartilhável pela minha pessoa.

Eu até ia todo santo dia e todo dia santo pra escola, carregando uma mala com doze cadernos e outra mala com os utensílios gastronômicos. Mas todo dia chegava na porta de casa, pensava e cantava uma mesma música olhando para a lataria do meu esquelético e faminto cachorro, de nome Baleia.

Pela cena cotidiana de chegar em casa criei o seguinte pedaço da música oficial da chegada, após ser ensinado pelas santas almas que tinham em mim total esperança:

“Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei”

Ao ouvir a música por mim brilhantemente cantada, o Baleia corria pra me receber.

E como todo dia ao voltar do ensinatório não era intenção voluntária nenhuma voltar no outro dia, mas sim ficar com meus brinquedos e uma TV de 14 polegadas e 13 canais, criei outro pedaço pra minha canção betoviana:

“Eu voltei agora pra ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei”

E dias depois criei mais um pedaço, na vontade preguiçal de ficar mesmo por casa vendo a TV Manchete, assim escrevido:

” Onde andei não deu para ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei”

E por todos os dias cantava essa música, que só foi criada por mim porque Mozart era um cabra desapreguiçado.

Um belo dia teve show do Roberto em Imperatriz, Maranhão. No dia do espetáculo real, o tal Roberto achou de almoçar na banca de panelada da Francisca, que ficava ao lado da minha casa e acabou ouvindo eu cantar minha espetacular, extraordinária e inferrujável música escolar.

Dias depois, ao sentar na porta de casa, numa cadeira de macarrão, com rádio na mão e sintonizado na AM, quase cai pra trás ao ouvir o tal dito Roberto cantar minha música, e sem nem ao menos dizer meu nome nos finalmente.

O tal Roberto andou ganhando dinheiro a rodo, e nunca me deu meio centavo, nada!

Não dei conta mais de musicar,
Nem aprendi a gostar de apanhar,
Me restou por sorte estudar,
Tomei gosto por trabalhar,
Pra felicidade hoje estou a advogar,
Mas o tal Roberto esse não vou perdoar.

( * ) – Marcones Santos é advogado formado pela Universidade Federal do Pará, escritor e poeta. Maranhense de nascença e paraense por opção. Escreverá semanalmente aqui no Blog algumas crônicas que mostram o jeito maranhense/paraense de ser.