Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve anunciar até o final deste mês em qual partido político se filiará se quiser disputar a reeleição. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diz que candidato deve estar filiado ao partido no mínimo seis meses antes da eleição, prevista para outubro do ano que vem.
Há meses o presidente conversa com vários partidos. Entraram no radar um possível retorno ao PSL, ou a filiação no PTB, DC, Patriotas, PSC, PRTB e o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que mudou de nome e agora, passa a se chamar ‘Brasil 35’.
A tentativa de criar o seu próprio partido não certo. O Aliança pelo Brasil não saiu do papel, e sob o ponto de vista do grupo político de Bolsonaro seria a melhor alternativa, uma vez que não seria necessário negociar o mando da legenda.
No dia 15 de novembro de 2019, num hotel de luxo de Brasília, sob o slogan “Deus, Pátria, Família”, foi anunciado a fundação do Aliança Pelo Brasil, partido esculpido à sua imagem. Um ano e meio depois, como o Aliança recolheu apenas uma ínfima parte das assinaturas necessárias para obter o registro no TSE, o presidente brasileiro procura, às pressas, uma formação que abrigue a sua recandidatura em 2022. “Já estou atrasado”, admitiu.
“Espero que ainda neste mês eu resolva, abril de 2021 está bom como prazo para definir. O duro foi quando eu me candidatei, em 2018, e acertei em março do ano da eleição, em cima da hora”, disse Bolsonaro na segunda-feira (26).
A decisão pela criação do Aliança em novembro de 2019 surgiu da ruptura de Bolsonaro, um mês antes, com o Partido Social Liberal (PSL), pelo qual ganhara as eleições de 2018. E essa ruptura surgiu, por sua vez, de uma resposta agressiva do presidente a uma pergunta de um apoiante sobre Luciano Bivar, o líder do PSL, acusado de corrupção na campanha eleitoral por promover candidaturas femininas falsas. “Esse cara ‘tá queimado’”, afirmou Bolsonaro.
Revoltado, Bivar contra-atacou: disse que o PSL “não é um grêmio estudantil”, precipitou a saída de Bolsonaro e ajudou a transformar deputados do partido até então bolsonaristas ferrenhos, como Joice Hasselmann, Delegado Waldir ou o falecido Major Olímpio, em anti-bolsonaristas convictos.
Hoje em dia, por estranho que possa parecer, o grupo parlamentar do PSL abriga alguns dos apoiantes mais fervorosos de Bolsonaro (como o seu filho Eduardo, por exemplo) e parte dos opositores mais veementes do governo.
Em janeiro, antes da reentrada de Lula na política ativa, o presidente não se preocupava com a dimensão da força política que o abrigasse: afirmava estar “namorando um partido para ser dono”, isto é, uma formação minúscula onde pudesse pôr e dispor das direções estaduais e aprovar ou rejeitar os candidatos ao Congresso, como fez há três anos no então pequenino PSL.
O jogo mudou, o PSL tem o maior naco do fundo eleitoral e a direção não parece inclinada a se submeter às vontades do presidente.
Negociações
O espectro político brasileiro se transmutou numa “sopa de letrinhas”. São 33 combinações — a maioria com o intercâmbio das mesmas letras —, porque se for levado em consideração o programa e o estatuto, uns copiam dos outros, salvo raras exceções. É nesta sopa que Bolsonaro quer meter a colher e escolher um para chamar de seu.
São 33 partidos representados no Congresso, fora os demais, o menu que se apresenta a Bolsonaro, um político que em 30 anos de carreira já passou por PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL, é amplo e variado.
“Eu tenho que dar um passo bastante seguro, há vários partidos, o da Mulher — agora Brasil 35 — também está conversando comigo”, disse Bolsonaro, referindo-se ao pequenino Partido da Mulher Brasileira (PMB). Além do PMB, o presidente negociou com DC e PMN, ambos também sem representação parlamentar no Congresso Nacional.
Em paralelo, há negociações em curso com partidos grandes e ricos, como o PL (42 deputados), o PP (40) ou o Republicanos (32), a que pertencem dois seus três filhos políticos (Flávio e Carlos). E com formações médias, como o PTB (11), o PSC (10) ou o Patriota (6).
Todos eles, porém, têm ligação à chamada “velha política”, da qual Bolsonaro quer se diferenciar desde a campanha de 2018, além de estarem pouco ou nada inclinados a deixar o presidente moldá-los aos seus interesses.
“Existe uma identidade muito grande com o presidente mas nós não temos como, hoje, trocar o comando dos estados…”, advertiu Ciro Nogueira, líder nacional do PP (sigla de Partido Progressista), ao qual Bolsonaro esteve vinculado no passado por 11 anos, deixando claro que não permitirá ao presidente chegar e ser “o dono” do partido.
Os Progressistas são, por outro lado, um dos pilares do chamado “Centrão”, conjunto de partidos assumidamente clientelistas que apoiam o governo em exercício em troca de cargos e fatias do orçamento, além da formação mais visada da Operação Lava-Jato. Se aceitar voltar ao partido, Bolsonaro perde o discurso antipolítica tradicional que o alçou ao Planalto em 2018.
O PL (sigla de Partido Liberal) é outro desses pilares, sendo que o seu presidente Valdemar Costa Neto, cometeu a proeza de ter sido preso no Mensalão e envolvido no escândalo do Petrolão. Ora, Bolsonaro elegeu-se sob o pretexto de ser um paladino da luta contra a corrupção.
O PTB (sigla de Partido Trabalhista Brasileiro) é dirigido por mais um condenado do Mensalão, Roberto Jefferson.
Já o Republicanos é considerado o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, liderado por um bispo, Marcos Nogueira, da controversa denominação evangélica. E o PSC (sigla de Partido Social Cristão) é ligado à também neopentecostal Assembleia de Deus. Bolsonaro trafega bem entre os protestantes brasileiros.
O Patriotas, finalmente, é a formação pela qual o bizarro candidato Cabo Daciolo concorreu às presidenciais de 2018.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.