Bancada do Agro convocará ministro da Educação para explicações sobre questões ideológicas no Enem

Dirigentes da Frente Parlamentar da Agropecuária querem a imediata anulação de três questões aplicadas na prova de domingo (5)
Capa do Caderno de Provas do Enem 2023 - 1° dia

Continua depois da publicidade

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em nota oficial divulgada nesta segunda (6), diz que tomará todas as medidas cabíveis, leia-se políticas e judiciais, contra três questões aplicadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova de admissão à educação superior, aplicada pelo Ministério da Educação no último domingo (5).

A FPA ‘’aguarda posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico dispostas no Exame Nacional do Ensino Médio’’.

‘’O Enem é um exame de avaliação do conhecimento. As perguntas são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica e permite que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista. Anulação já!’’, conclamam os dirigentes da FPA.

Noutro trecho, a nota da FPA enumera 5 pontos:

1. Negacionismo científico contra um setor que, além de trazer a segurança alimentar ao Brasil e ao mundo, é massificação de mentiras. O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários;

2. É inacreditável o governo federal se utilizar de desinformação em prova aplicada para quase 4 milhões de alunos brasileiros que disputam uma vaga nas universidades do Brasil;

3. A anulação das questões é indiscutível, de acordo com literaturas científicas sobre a atividade agropecuária no Brasil e no mundo, em respeito à academia científica brasileira;

4. Este é o único país do globo em que o seu próprio governo federal propaga desinformação sobre a principal atividade econômica e de produção de riqueza, renda e empregos. A serviço dos brasileiros? Vincular crimes à atividade legal é informação?;

5. A ineficiência do Estado Brasileiro está exposta. A vinculação de crimes à atividade legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades. Não permitiremos que a desinformação seja propagada de forma criminosa entre nossa sociedade, como foi feito durante os anos anteriores do governo atual;

Ações

A indignação ganhou contornos de revolta na bancada ruralista e três ações serão imediatas:

a) Requerimento de convocação do Ministro da Educação, Camilo Santana, para audiências na Câmara dos Deputados e Senado Federal;

b) Requerimento de informação ao Ministério da Educação sobre a banca organizadora do ENEM 2023 e referências bibliográficas utilizadas para a construção do exame;

c) Anulação das questões 89, 70 e 71 do ENEM 2023.

Veja as três perguntas que a FPA exige que sejam anuladas pelo INEP, o órgão vinculado ao Ministério da Educação que aplica o Enem.

Questões que a FPA quer a imediata anulação
Questões que a FPA quer a imediata anulação
Questões que a FPA quer a imediata anulação

Questão 89 gerou revolta no setor produtivo do campo

Em artigo publicado num site especializado em política, o engenheiro agrônomo, professor e ex-presidente do Incra no governo FHC, escreveu: ‘’A questão 89 da prova de ciências humanas do Enem 2023 provocou uma revolta entre os estudiosos do agro brasileiro. Seu enunciado indica, da forma mais clara possível, a doutrinação ideológica existente nas escolas do país’’.

Começa assim:

“No Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio. De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos (…); de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado.”

O linguajar é típico do raciocínio marxista elementar, formulado há 150 anos. Em sua expansão, o sistema capitalista “subordina” os trabalhadores (ou camponeses) à sua “lógica”, sendo essa a origem da luta de classes, que levaria à sua superação, pelo comunismo.

Graziano prossegue: ‘’A primeir coisa que fiz ao saber da questão 89 foi buscar o artigo original, citado na prova do Enem. Publicado na revista Élisée, um periódico pouco científico, sob o título “Territorialização do agronegócio e subordinação do campesinato no Cerrado”, remete à ocupação agrícola recente da região conhecida como Matopiba, localizada entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.’’

‘’Seus autores, na verdade, criticam o marxismo clássico para defender a tese de que os camponeses, diferentemente dos operários urbanos, devem preservar e permanecer em seus espaços agrários como uma “resistência” à expansão capitalista. Citam efusivamente Van Der Ploeg, discípulo recente de Chayanov, conhecido teórico do ‘modo de produção camponês’, que publicou seu livro na Rússia em 1925.’’

No livro “O Novo Mundo Rural” (2015), junto com o estudioso Zander Navarro (Embrapa), combatemos essa ideia da “recampenização” como uma proposição puramente idealista, para não dizer anticientífica. Manter os pequenos produtores rurais plantando sementes crioulas, carpindo na enxada e vendendo ovo caipira na feirinha significa negar a evolução tecnológica no campo. ‘’Uma ilusão regressiva’’, aduz Xico Graziano.

Curiosamente, no artigo original utilizado no Enem, se reconhece que “camponês não é uma designação autoproclamada, é uma construção teórica.” Cita-se inclusive uma pesquisa, na qual, de 470 assentados de reforma agrária, a maioria não se considera camponês. Quando questionados sobre como se denominavam:

32% deles se identificaram como trabalhadores rurais;
29% como agricultores familiares;
21% como agricultores ou lavradores; e
só 9% se julgaram como um camponês.

O professor prossegue: ‘’Pasmem vocês: o libelo ideológico expresso na questão 89 atribui culpa à Embrapa, como se lê na página 13 do artigo’’:

‘’A Embrapa possui papel determinante nesse processo de ocupação e territorialização tendo como base os conhecimentos produzidos pelas pesquisas sobre as condições físicas e químicas dos solos e para a produção de variedades de sementes.”

— Entenderam? Questionou o professor.

— Quer saber mais? Provocou.

‘’Segundo os autores, geógrafos da Universidade Federal de Goiás, o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustível), instituído em 2004, é uma das políticas públicas responsáveis pela expropriação das terras camponesas. Por que? Porque suas normas estimulam as empresas a adquirirem matéria-prima por meio do Selo Combustível Social’’:

“Estabeleceu-se, assim, nova frente no processo de subordinação e expropriação da renda da terra camponesa. As empresas estimulam os camponeses a substituírem os produtos alimentícios por cultura de oleaginosas, com a garantia da compra da produção, o que se torna atrativo aos camponeses.”

Percebam um reconhecimento, implícito, sobre a vantagem financeira da produção de soja pelos pequenos agricultores. Só que não. Na visão dos autores, eles não deveriam entrar no ciclo da biotecnologia, porque perderiam sua idílica condição “camponesa”. E certamente deixariam, assim, de servir à manipulação política. De subordinados, passariam a ser emancipados.

‘’Esse é o ponto’’, diz Graziano. ‘’Os estudos sobre a expansão do agro tecnológico nas fronteiras agrícolas são fartos em atestar a elevação da renda média e do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das novas áreas cultivadas. Em parte delas, nem gente havia. Basta conhecer a história de Luiz Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. Ou da região de Balsas, no Maranhão.

‘’Sim, é exatamente esse texto negacionista que o Ministério da Educação utilizou para formular a questão 89 do Enem 2023. Infelizmente, quase toda a prova está recheada de elucubrações esquerdistas da pior espécie, ou seja, aquelas que negam a história. Não tratam de dramas recentes. Olham, de forma caolha, para o passado’’, criticou o professor.

Minha crítica reside, antes de tudo, na qualidade, pelo fato de o MEC permitir o uso no Enem de um conteúdo suspeito e sem referência acadêmica. O pesquisador José Eustáquio R. Vieira Filho, do Ipea, disse, com razão, que “provas de concursos públicos não poderiam se basear em periódicos desse nível”. Maria Tereza Pedroso, da Embrapa, concorda: “o texto não é nada científico, parece cartilha política”.

Depois, o que é pior, a questão 89 do Enem comprova o uso da educação e da cultura como arma de doutrinação ideológica do Estado. Isso é inadmissível, uma afronta à democracia.

Na opinião de Décio Gazzoni, da Embrapa, um dos maiores pesquisadores de soja do mundo, a questão é “repugnante, mentirosa. Radicais de esquerda ou direita estão levando ódio à sociedade e conduzindo o Brasil a um abismo histórico”.Finalizo com o professor da FEA/USP, Marcos Fava Neves, sobre a questão 89: “um verdadeiro show de horrores”. É a politização do saber servindo à dominação humana.

Leia a íntegra da nota da FPA

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) aguarda posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico dispostas no Exame Nacional do Ensino Médio, prova de admissão à educação superior, aplicada pelo Ministério da Educação no último domingo (5).

O ENEM é um exame de avaliação do conhecimento. As perguntas são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica e permite que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista. Anulação já!

1. Negacionismo científico contra um setor que, além de trazer a segurança alimentar ao Brasil e ao mundo, é massificação de mentiras. O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários;

2. É inacreditável o governo federal se utilizar de desinformação em prova aplicada para quase 4 milhões de alunos brasileiros que disputam uma vaga nas universidades do Brasil;

3. A anulação das questões é indiscutível, de acordo com literaturas científicas sobre a atividade agropecuária no Brasil e no mundo, em respeito à academia científica brasileira;

4. Este é o único país do globo em que o seu próprio governo federal propaga desinformação sobre a principal atividade econômica e de produção de riqueza, renda e empregos. A serviço dos brasileiros? Vincular crimes à atividade legal é informação?;

5. A ineficiência do Estado Brasileiro está exposta. A vinculação de crimes à atividade legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades. Não permitiremos que a desinformação seja propagada de forma criminosa entre nossa sociedade, como foi feito durante os anos anteriores do governo atual;

Ações:
a) Requerimento de convocação do Ministro da Educação, Camilo Santana, para audiências na Câmara dos Deputados e Senado Federal;
b) Requerimento de informação ao Ministério da Educação sobre a banca organizadora do ENEM 2023 e referências bibliográficas utilizadas para a construção do exame;
c) Anulação das questões 89, 70 e 71 do ENEM 2023.

Dados oficiais:

A cadeia produtiva no Brasil movimentou R$ 2,63 trilhões em 2023, cerca de 24,4% do Produto Interno Bruto (PIB) Nacional (CEPEA/CNA);

Superávit de emprego e renda para 28 milhões de brasileiros, apenas no 1º trimestre deste ano, representando cerca de 27% do total de empregos no país. (CEPEA/CNA);

Sustentabilidade brasileira: território nacional possui 66,3% de áreas preservadas e de proteção à vegetação nativa, desses, 33,2%, ou seja, a metade, estão nas propriedades privadas brasileiras. Área de propriedades rurais é de 30,2%. (EMBRAPA).

Frente Parlamentar da Agropecuária

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

1 comentário em “Bancada do Agro convocará ministro da Educação para explicações sobre questões ideológicas no Enem

  1. Pingback: Três Comissões da Câmara ouvirão Camilo Santana na quarta-feira (22), sobre prova do Enem - ZÉ DUDU

Deixe seu comentário

Posts relacionados