Vale pode fechar trimestre com prejuízo

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Valor Econômico

A Vale anunciou ontem uma baixa contábil de US$ 4,2 bilhões nos seus ativos de níquel e alumínio, valor que vai impactar o resultado financeiro da empresa no trimestre. Analistas ouvidos pelo Valor preveem que por conta desta “limpeza contábil”, incluindo provisões para pagamento de pendências tributárias, a companhia poderá fechar o quarto trimestre do ano com prejuízo. Isso porque a baixa contábil dos ativos não influi no valor de caixa da empresa, mas tem impacto sobre o lucro.

A maior perda de valor ocorreu com o projeto de níquel de Onça Puma, no Pará, adquirido pela Vale de um fundo canadense na gestão de Roger Agnelli, montado para produzir 60 mil toneladas ao ano de ferro-níquel. O ativo teve seu valor rebaixado ontem para US$ 930 milhões, correspondente a diferença entre o valor de livro do projeto de US$ 3,778 bilhões em 30 de setembro de 2012. A perda reconhecida de valor pela Vale de US$ 2,848 bilhões.

A empresa atribuiu o prejuízo à paralisação total do projeto de Onça Puma desde junho deste ano, por problemas com dois fornos. Para reconstruir um dos fornos de Onça Puma a mineradora vai gastar US$ 188 milhões em 2013. O projeto só retoma operação no fim de 2013, ou seja, vai ficar mais um ano parado.

Outro ativo que foi rebaixado foi a participação de 22% na Hydro ASA, empresa norueguesa de alumínio. A Vale deve desinvestir esse ativo, conforme informou o presidente Murilo Ferreira. Com base nos preços das ações da Hydro em 30 de setembro de 2012, a companhia reconhece uma perda contábil de US$ 1,3 bilhão, impactando negativamente o balanço do quarto trimestre.

Em 28 de fevereiro de 2011, quando a Vale conclui a transação de seus ativos de alumínio com a Hydro recebeu estas ações como parte das negociações. Na época, esta participação de 22% na Hydro valia aproximadamente US$ 3,5 bilhões. Ou seja, hoje valem US$ 2,2 bilhões.

A notícia dessa baixa contábil de ativos da Vale não surpreendeu o mercado. Ela já era esperada em função da queda de preço das commodities metálicas e dos problemas enfrentados pela mineradora com alguns projetos de níquel, como o de Onça Puma e da Nova Caledônia. A possibilidade de perdas contábeis no ativo de Onça Puma foi admitida pela direção da empresa no “Vale Day”, no início do mês. “O projeto (Onça Puma) é problemático e nada deu certo até agora e a Vale investiu muito nele e teve pouco retorno”, avaliou Luiz Fornari, analista do banco Barclays.

Apesar das expectativas negativas em relação ao resultado trimestral da Vale, devido às perdas contábeis, os analistas aprovam as medidas que estão sendo tomadas pela direção executiva da companhia neste fim de ano para “limpar a casa” de negócios que preocupam os investidores. “Eles estão fazendo tudo de uma vez só; isso é bom para a empresa”, comentou Fornari.

A revisão do valor dos ativos que vem sendo feita pela Vale atualiza o valor de realização do ativo no caso de venda e não tem impacto sobre o caixa. Ontem, as ações da empresa fecharam em ligeira alta.