Sites das lojas americanas voltam com restrições após ataque hacker

Prejuízo ultrapassa R$ 3,5 bilhões com quedas das ações na Bolsa de Valores
Grandes empresas e o governo estão no alvo de ataques hackers cada vez mais sofisticados

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Brasília – Um ataque hacker sofisticado derrubou no sábado (19), os sites de comércio eletrônico pertencentes ao grupo controlador das Lojas Americanas (veja aqui). Outras três empresas sob seu controle foram atingidas e tiveram seus sites de e-commerce retirados do ar: Submarino, Shoptime e Sou Barato que seguem fora do ar. O americanas.com.br retornou aos poucos na manhã desta quarta-feira (23) com restrições de acesso. Os prejuízos ultrapassam R$ 3,5 bilhões com a queda vertiginosa dos preços das ações negociadas na Bolsa de Valores (B3).

Há um aviso no alto do site que afirma que “estamos voltando de forma gradual, disponibilizando produtos e funcionalidades progressivamente”. Entretanto, o usuário não consegue, por exemplo, acessar os pedidos feitos.

A plataforma de e-commerce permaneceu fora do ar desde sábado, quando a Americanas S/A , dona da marca, detectou um “acesso não autorizado”. A companhia não fornece mais detalhes sobre o ocorrido e não confirma se foi um ataque hacker. Obviamente foi.

A equipe de TI da empresa foi mobiliada e o retorno gradativo é o primeiro sinal de retorno em quatro dias fora do ar. É um problema e tanto, uma vez que mais de 60% das vendas do grupo hoje se dão por meios digitais. A empresa foi duramente castigada pelo mercado financeiro nesta semana: apenas na segunda-feira e na terça, seus papéis tiveram desvalorização superior a 10%, o que se refletiu em uma queda de valor de mercado da ordem de R$ 3,5 bilhões. Nesta quarta, os papéis sobem, mas em ritmo bem menor: 2,3%, por volta das 12h20, para R$ 30,50 cada ação.

Reclamações

A instabilidade motivou críticas de clientes, que reclamam nas redes sociais de não conseguirem acompanhar a entrega de seus produtos ou até mesmo retirá-los nas lojas físicas — que seguem operando normalmente. Os grandes e-commerces que atuam no país, oferecem a opção ao cliente de retirar o pedido feito no site nas lojas físicas para reduzir o valor do frete. Alguns produtos de baixo valor tem o frete mais caro que a mercadoria desejada.

O que irritou os usuários foi a falta de clareza na comunicação ou a ausência dela aos clientes. O problema expõe parte do problema das operações destas empresas no país: o despreparo para lidar com a cibersegurança, analisam especialistas no assunto.

O prejuízo é significativo, já que cerca de dois terços das vendas da companhia são feitas online. A estimativa é de que a companhia esteja perdendo de R$ 110 milhões a R$ 145 milhões por dia. Após tombarem 6% na segunda, as ações da empresa caíram mais 5,40% nesta terça e só voltaram a subir nesta quarta.

Outros ataques

A questão da segurança das operações digitais vem ganhando cada vez mais espaço dentro das empresas brasileiras. No ano passado, ataques hackers afetaram os sistemas da gigante do varejo Renner e também da Fleury, de exames laboratoriais. Segundo pesquisa divulgada em janeiro de 2022, as empresas brasileiras estão aumentando investimentos nessa área.

O próprio governo é vítima dos “piratas virtuais” que derrubam sites mundo afora, mas, geralmente, esses ataques não conseguem acesso ao coração do sistema: o Banco de Dados. Quando conseguem, sequestram a conta do site e pedem resgate de valor milionário que deve ser pago em criptomoedas para não gerar rastros do dinheiro que possam ser seguidos pelas autoridades policiais.

Não à toa, a cybersegurança tem sido uma das maiores preocupações recentes dos empresários do Brasil e do mundo. De acordo com o estudo Allianz Risk Barometer, 64% dos executivos brasileiros acreditam que os riscos cibernéticos são a maior ameaça para os negócios em 2022. O segundo lugar ficou com as catástrofes naturais com 30%.

De acordo com especialistas da área, esse tipo de problema nunca terá uma solução, pois os criminosos sempre inovam para criar novos golpes. Mas, o papel das empresas é de se atualizar ainda mais rápido para que esses ataques sejam mitigados o mais rápido possível, afinal as empresas visam ao lucro, mas precisam entender que esse tipo de investimento evita grandes problemas. E se proteger bem custa dinheiro.

Perdas financeiras e de credilibilidade

Em relatório divulgado pela XP na terça-feira (22), as perdas calculadas para a Americanas em três dias de instabilidade em sua plataforma online eram de R$ 250 milhões. Os analistas Daniela Eiger, Gustavo Senday e Juliana Kirihata tomam como base uma estimativa de receita do canal online para o primeiro trimestre de 2022. A casa estima uma venda bruta média em torno de R$ 65 milhões por dia (sem fazer ajustes para sazonalidades ao longo da semana).

“Como o canal tem enfrentado desafios desde sábado, estimamos um impacto até o momento de cerca de R$ 250 milhões. Isso representa aproximadamente 3% da nossa estimativa de receita bruta no trimestre ou cerca de 1% do valor de mercado da companhia”, ressaltaram, no documento.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.