Senador Giordano está sendo investigado por gastos excessivos de combustíveis e refeições em churrascarias

Jantares nababescos nos mais caros restauranres de Brasília e São Paulo foram pagos pelo contribuinte
O ex-senador Major Olimpio (direita) e seu suplente, Alexandre Giordano (esquerda), amigos há pelo menos uma década — em foto tirada na campanha de 2018. Em 2021, o titular morreu de Covid-19 e o suplente assumiu

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Cobrança antiga de providências, de eleitores/contribuintes, solenemente desprezada pelos agentes de fiscalização do Estado, uma notícia chamou a atenção nesta semana. Trata-se de uma citação da Procuradoria-Geral da República (PDR), direcionada ao senador Alexandre Giordano (MDB-SP), por altos gastos com combustíveis e festas em churrascarias. A “farra do cotão”, parece que agora será investigada e o “liberou geral” tende a mudar, se resultar em punição de algum de seus inúmeros praticantes com cadeira no Congresso Nacional.

Casquinhas de camarão (R$ 210) e filé de Cambucu (R$ 274) servidos na mesa com vista para o mar de Ubatuba, no litoral norte paulista. Rodízio com 18 cortes de carne (R$ 210) em uma badalada churrascaria da capital paulista. Massas com molhos variados (R$ 240) e tiramisù (R$ 27) de sobremesa no almoço de domingo em uma tradicional cantina italiana de São Paulo.

Toda essa farra gastronômica foi desfrutada no ano de 2023 pelo senador Giordano (MDB-SP) e paga pelo contribuinte. Ao todo, o emedebista, que assumiu seu mandato no Senado em março de 2021, com a morte do senador Major Olímpio, apresentou ao Senado pedido de reembolso de despesas com combustível e alimentação em restaurantes Vip de São Paulo, que chamaram atenção pelos valores.

As despesas bancadas pelo Senado começaram já no primeiro dia do ano, com um almoço e um jantar no Vasto, tradicional restaurante na Asa Sul, em Brasília, ao custo total de R$ 533. Ainda em janeiro, durante o recesso parlamentar, Giordano viajou para Ubatuba, no litoral paulista, onde não poupou dinheiro da verba de gabinete para provar a casquinha de carangueijo no bem-avaliado Terra Papagalli, na Barra da Lagoa, em uma tarde de quarta-feira (4/1), e pedir sete pizzas no jantar do dia seguinte, numa demonstração de apetite fora do normal ou, o que é mais provável, bancando uma festa entre “amigos” no estabelecimento.

As notas fiscais apresentadas por Giordano ao Senado mostram quais são os restaurantes preferidos do senador. Entre eles estão, além do Vasto em Brasília, as churrascarias Fogo de Chão, Rodeio e a Costellone Villares, algumas das mais caras do Brasil, que ficam na zona norte paulistana, reduto eleitoral de Giordano, a tradicional cantina Lellis Tratoria, que fica nos Jardins, e o rústico Esch Café, na Alameda Lorena, na mesma região central da cidade.

A maior despesa com refeição reembolsada pelo Senado foi no valor de R$ 1.024, em um jantar de sexta-feira, no dia 5 de maio, em uma unidade da cantina Famiglia Mancini, que oferece música ao vivo na Rua Avanhandava, no centro de São Paulo. Na ocasião, o contribuinte pagou para Giordano cinco couverts (R$ 145), um spaghetti à carbonara (R$ 130), três filés à parmegiana (R$ 444), um medalhão ao funghi com fettuccine ao molho quatro queijos (R$ 145), entre outros itens e bebidas — nenhuma alcoólica.

Assim como os outros 80 senadores, Giordano teve aumento de salário neste ano, após aprovação realizada pelo Congresso no apagar das luzes de 2022. O emedebista recebe subsídio mensal bruto de R$ 41,650,92 mil — R$ 30,5 mil líquidos — desde 1° de abril de 2023, além de uma verba mensal indenizatória de R$ 30,2 mil para custear despesas com alimentação, combustível, aluguel de escritório político, material de consumo, divulgação da atividade parlamentar e passagens aéreas. Todos os congressistas, passarão a receber em 1° de fevereiro de 2024, R$ 44.008,52 mil, em seus contracheques.

Quem é Giodano?

Um homem de temperamento “fantasioso”, “galanteador quando quer negociar” e “vendedor de fumaça”, foram as expressões ouvidas de ex-sócios e amigos que falaram à uma agência de notícias em São Paulo sobre o empresário. Entre os relatos, uma característica é quase unânime: o suplente do Major Olimpio (PSL-SP) gosta de ostentar riqueza. A exibição do luxo se dá por relógios da marca suíça Rolex, ternos da grife Camargo Alfaiataria e uísques caros. E pelo uso preferencial, em algumas ocasiões, de helicóptero como meio de transporte. Mas, apesar da exposição na mídia nos últimos tempos, seus negócios não são conhecidos pelo público.

No pulso relógio Rolex, no dedo, anel de ouro maciço com desenho de corvo: marca registrada do requintado ex-camelô, agora empresário e senador da República por São Paulo

O inusitado suplente, um empresário que coleciona processos judiciais — de não pagamento de imóveis a invasão de terreno, passando por dívidas trabalhistas.

Ainda vivo, o senador titular, Major Olimpio (PSL-SP), disse que o escolheu para a suplência porque ele se colocou à disposição do partido para auxiliar na organização do diretório paulista — presidido por Eduardo Bolsonaro — na primeira grande disputa eleitoral da legenda. Ele transformou seu escritório — localizado no mesmo prédio onde funcionava o diretório estadual do PSL até julho deste ano — no comitê de campanha do major. É assim que o senador explica a transferência de R$ 6,6 mil reais por locação de imóveis para uma das empresas do suplente, a Enermade, que consta na prestação de contas da campanha na época.

“Eu moro e convivo na zona norte. E ali ele sempre gostou de política, era bastante ligado — anteriormente, com o próprio pessoal do PSDB, com o Bruno Covas, ex-prefeito de São Paulo, também morto há alguns anos vítima de um câncer, que é um cara amigo dele. Quando eu vim para o PSL, ele começou a me ajudar com a organização do partido. Não tem nenhuma ligação diferente disso”, disse Olimpio explicando sua relação com o suplente.

Investigação

Segundo o documento da PGR, o senador Giordano teria abastecido em dois postos de combustíveis e gastado “valores exorbitantes”; além de “promover despesas de alto valor em restaurantes e churrascarias de luxo”.

O órgão de fiscalização aguarda o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ao pedido para intimação do senador Alexandre Luiz Giordano (MDB-SP), para explicar a suspeita de uso indevido de verba indenizatória pelo exercício da atividade parlamentar. O ofício foi registrado na última quinta-feira (18), e só entrou no sistema agora, em protocolo, e chegou na manhã de terça-feira (23) ao gabinete da ministra Cármen Lúcia, sorteada como relatora do processo.

O Ministério Público Federal (MPF) observa que a quantidade de combustível comprada pelo senador no mesmo dia é de “chamar a atenção”. Segundo a PGR, foram 507,61 litros de gasolina e 188,67 litros de diesel em 19 de dezembro de 2022, “equivalente ao tanque de mais de 12 veículos de passeio”. Há, ainda, menção a outra compra no mesmo estabelecimento, em 2 de janeiro de 2023, de 324,35 litros de gasolina.

“Diante desse quadro, (…) mostra-se adequado franquear ao parlamentar noticiado a oportunidade para prestar esclarecimentos acerca do caso”, acrescenta o ofício, assinado pelo vice-procurador-geral da República Hindenburgo Chateaubriand Filho.

Giordano tomou posse no Senado em 31 de março de 2021, após a morte do titular Major Olímpio, em decorrência da covid-19. O novo senador estava filiado ao PSL, após passar por PSDB e PV.

À mídia, Giordano afirmou que “a nota é referente a 15 dias de abastecimento” e que “estão polemizando algo que não condiz com a verdade de um dia apenas”. Sobre as festas nos restaurantes, o senador nada falou.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.