Petróleo: O Brasil explora a Margem Equatorial ou volta a importar combustível

A advertência é do presidente da Petrobras, Jean Prates, já que o Brasil tem autossuficiência por, no máximo, mais 13 anos
Jean Paul Prates, presidente da Petrobras lembrou das operações em Urucu, no coração do Amazonas, que não trouxe acidentes até o momento .Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Em entrevista a um jornal de São Paulo, na segunda-feira (22), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, revelou que o Brasil possui reservas que garantem a sua autossuficiência em petróleo por apenas 12 ou 13 anos, e previu que o combustível fóssil deve continuar relevante nos próximos 40 ou 50 anos, e advertiu: “Ou vamos para a Margem Equatorial ou voltamos a importar combustível”, o que deve levar o País a um grande dilema, devido as restrições de licenças ambientais para pesquisa impostas pelas autoridades federais que cuidam do meio ambiente no país.

Desde a descoberta, por petroleiras norte-americanas de gigantescas reservas de petróleo e gás na costa oceânica da Guiana, Suriname e Guiana Francesa, vizinhos ao Brasil, cuja Margem Equatorial do país brasileiro é uma extensão dessas áreas, as ex-colônias britânica e francesa, além do Suriname são consideradas nações de desenvolvimento médio,.

A Guiana, por exemplo, sempre baseou sua economia na agricultura e na mineração. Em 2015, porém, se viu diante de uma descoberta histórica: uma das maiores reservas de petróleo e gás natural encontradas em décadas pela petrolífera Exxon Mobil, estimada em 8 bilhões de barris — algo significativo em um país com menos de 800 mil habitantes, o PIB (Produto Interno Bruto) daquele país, cresceu 62% em 2022.

Antes de a pandemia atingir o planeta e o mercado de petróleo, as estimativas de crescimento da Guiana para 2020, início da produção em larga escala, eram de 82%, bem acima dos 4,4% do ano anterior. Mesmo com as revisões, o número ainda impressiona: 53%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

“Estamos nos movendo de uma base muito baixa para um salto estratosférico”, disse à Bloomberg o então ministro das Finanças, Winston Jordan, no final do ano passado.

Margem Equatorial da Guiana

Com tal crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), entre todas as Nações do mundo, movimentos ambientais têm ganhado força no exterior pedindo a descarbonização dos países do Continente, por abrigar a Amazônia, a maior Floresta Tropical da Terra.

Margem Equatorial do Suriname

O executivo da estatal de economia mista brasileira, defendeu que a exploração na Margem Equatorial deve ser feita, citando como exemplo as operações em Urucu, no coração do Amazonas, que não trouxe acidentes até o momento.

A seta em vermelho, indica que a extensão da Margem Equatorial da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa, seguem em direção à Margem Equatorial do Brasil, que possuem características geológicas idênticas, portanto, com grande possibilidade da existência de grandes poços de petróleo em mar aberto também na área brasileira. Já foram descobertos petróleo e gás na Bacia Potiguar

Atraso na licença compromete cronograma para a exploração

“A licença que está lá em discussão na Margem Equatorial é a de exploração perfuratória, portanto não diz respeito à etapa de produção. Depois de dois anos, vamos descobrir sobre o potencial comercial, depois vamos construir a plataforma. São, pelo menos, seis a oito anos que temos de levar para começar a produção na Margem Equatorial”, afirmou o presidente da Petrobras.

Prates defendeu ainda que a empresa é a única empresa capaz de garantir a responsabilidade para realizar a exploração na Margem Equatorial sem trazer riscos ao meio ambiente na região.

Autossuficiência sob risco

Prates lembrou que no domingo o Brasil completou maioridade na autossuficiência na produção de petróleo, 18 anos.

“Ficamos autossuficientes em petróleo em 2006 e desde então continuamos a manter a autossuficiência”, disse o executivo durante o Seminário “Brasil Hoje”, organizado pelo Grupo Esfera.

Segundo ele, desde Getúlio Vargas que o Brasil tentava a ser autosuficiente em petróleo para não ficar a mercê da volatilidade do “sangue da economia” que é o petróleo e que agora está sob ameaça. “Isso no fundo é ótimo porque nos livramos de uma única commodity. Temos de enfrentar um novo desafio e a Petrobras, como empresa do Estado Brasileiro não deve ter vergonha disso porque o petróleo já fez o papel da segurança energética e 80% da matriz enérgica vem de fontes renováveis”, disse.

Segundo ele, desde as termoelétricas até as eólicas, a Petrobras está disponível para o País. “O Brasil não tem o dever de liderar esse processo. A Margem Equatorial é o exemplo mais típico do erro de avaliação de mudar da matriz de petróleo para a matriz completamente renovável. É possível fazer isso com um bancando o outro”, disse.

Dividendos

O presidente da Petrobras confirmou que haverá uma normalização da distribuição de dividendos para os próximos balanços. Segundo o executivo, a decisão de reter os proventos tomada em março foi a primeira de um novo mecanismo que a estatal está implementando com o objetivo de estabilizar a remuneração dos acionistas.

Ele apontou que a retenção dos dividendos realizada em março foi feita na “conta de equalização do capital”. Trata-se de um recurso que, conforme Prates, já existe em outras companhias de capital aberto e deve reduzir a volatilidade no pagamento de dividendos. Uma das vantagens desse instrumento é que a oferta de proventos se manterá estável mesmo em períodos onde o mercado de petróleo enfrentar um momento de dificuldade.

“Isso é importante porque você pode ter uma expectativa de distribuição de dividendos menor, o que impulsiona a queda nas ações. Com esse mecanismo, o acionista se sente confortável sabendo que há recursos que ele deve receber ao longo do ano ou em um período maior”, afirmou Prates.

Lembrando que a Petrobras S/A é a empresa mais valiosa da América Latina em valor de mercado.

Mapa das atividades exploratórias na Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Mapa: Reprodução

O lado direito acima é uma ilustração da intensa atividade das empresas internacionais na região da Margem Equatorial dos países vizinhos ao Brasil, que já teve mais de 16 descobertas anunciadas nos últimos anos, revelando- se como uma potencial nova fronteira exploratória, rivalizando com o pré-sal brasileiro. Desde a primeira descoberta de Stabroeck foram anunciadas 16 novas descobertas, que geraram projetos de desenvolvimento de oito bilhões de barris de petróleo. A taxa de sucesso exploratório é semelhante a inicial dos campos de pré sal brasileiro, com sucesso de descoberta em 82 de cada 100 poços perfurados.

Até agora, as descobertas anunciam crescimento de produção de petróleo com densidades mais próximas do pesado do Oriente Médio, que está se tornando um produto relativamente escasso no mundo, depois do crescimento da produção dos condensados leves dos EUA e ajuste da produção dos produtores de pesado, além da crise da Venezuela.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

2 comentários em “Petróleo: O Brasil explora a Margem Equatorial ou volta a importar combustível

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