Pela primeira vez nos últimos dez anos, a Vale não vai brindar seus acionistas com dividendos extras

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Do Valor Econômico

Pela primeira vez nos últimos dez anos, a Vale não vai brindar seus acionistas com dividendos extras. A mineradora vai submeter hoje ao conselho de administração, na primeira reunião presidida por Dan Conrado, novo presidente da Previ, o pagamento da segunda parcela de US$ 3 bilhões de um total de dividendos mínimos de US$ 6 bilhões aprovados pela diretoria executiva da companhia para 2012. Se o conselho der o “sinal verde”, esta será a maior remuneração mínima já paga aos acionistas na história da companhia, apurou o Valor.

Mas em 2011, quando o dividendo mínimo pago foi de US$ 4 bilhões, só de extras os acionistas receberam US$ 5 bilhões. O retorno aos investidores totalizou US$ 9 bilhões, valor 33% acima do total mínimo destinado a eles este ano. Isso, sem levar em conta os US$ 3 bilhões gastos pela companhia com recompra de ações.

Mas a temporada dos dividendos extras da Vale terminou, como avaliam analistas do setor de mineração. Terminou com um dividendo mínimo polpudo, mas a tendência é desses valores encolherem a partir do ano que vem por causa da queda dos preços do minério de ferro, que afeta diretamente o caixa da mineradora. Para 2013, os analistas de bancos e consultorias projetam um valor bem menor para a remuneração mínima aos acionistas da Vale, que varia entre US$ 2,3 bilhões (dividendo yield na faixa de 2%), segundo estimativas do Credit Suisse; US$ 4 bilhões pelo Barclays; e US$ 4,4 bilhões, nas contas do Santander (dividendo yield na faixa de 4%).

A Vale não tem uma política rígida de remuneração ao acionista. A empresa decide o pagamento dos dividendos com base no seu fluxo de caixa operacional, que no ano passado foi de US$ 24,4 bilhões. No momento, a direção da Vale está fechando o orçamento de 2013 e não calculou ainda o retorno aos acionistas. Mas as projeções dos analistas apontam para resultados da empresa em 2012 bem abaixo dos de 2011, o que sinaliza para dividendos mais magros.

Em 2011, o resultado da Vale bateu recordes, com o Ebitda fechando em US$ 35,2 bilhões e o lucro de US$ 22,8 bilhões, com um preço médio do minério faturado de US$ 136 a tonelada. Para este ano, as projeções são de um Ebitda na faixa de US$ 17,8 bilhões e lucro de US$ 10,3 bilhões, segundo o Citibank. As estimativas do Credit Suisse são semelhantes: Ebitda de US$ 18,9 bilhões e lucro de US$ 10,2 bilhões, metade de 2011.

Não há ainda uma projeção para o preço médio do minério de ferro em 2012. No segundo trimestre o preço faturado da commodity foi de US$ 103 a tonelada, devendo cair no terceiro trimestre, segundo o Barclays para a casa dos US$ 75. O banco inglês avalia que a Vale optou por colocar mais volumes no mercado oferecendo grandes descontos a sua clientela.

Todos os cenários apontam para gastos menores das mineradoras com dividendos e Capex a partir deste ano, dadas as incertezas que vêm da China, como destaca relatório de Ivano Westin, do Credit Suisse, que esteve recentemente visitando o país. O documento intitulado “Não há nenhum sinal de recuperação a vista”, trabalha com uma preço da matéria prima do aço entre US$ 95 e 115 a tonelada no spot chinês até dezembro.

Westin avalia que as mineradoras vão ter baixos resultados no terceiro trimestre e provavelmente no ano, pois não há sinais de uma reversão desse ambiente de retomada lenta num futuro previsível. Destaca ainda a necessidade dessas companhias se prepararem para ajustar seus preços e negócios a um momento de demanda fraca, ao chamar a atenção para o fato de que o governo chinês está confortável com o crescimento do país entre 7% e 7,5% este ano. Isso, apesar do anúncio do plano trilionário de infraestrutura. “A chave para o setor de mineração é cautela em relação a China”, adverte.

As primeiras projeções para o balanço da Vale no terceiro trimestre, a ser divulgado no dia 24 de outubro, feitas pelo Barclays e o Citibank apontam Ebtida entre US$ 3,3 bilhões e US$ 3,9 bilhões, respectivamente, e lucro de US$ 1,5 bilhão na estimativa do Barclays, 68% abaixo do mesmo período de 2011.