Parauapebas: em época de crise, trabalhadores autônomos ganham a vida longe da formalidade

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A flexibilidade e conveniências do trabalho autônomo fazem com que muitos trabalhadores se sintam tentados a ter o próprio negócio no comércio informal, seja como principal fonte de renda ou complemento no orçamento familiar. Em Parauapebas, as demissões em setores da economia local, como a mineração, por exemplo, e a dificuldade de conseguir um novo emprego com carteira assinada, têm fortalecido o trabalho autônomo.

Thayla AlvesE, no comércio informal, muitas pessoas têm optado pelo ramo alimentício. A ex-encarregada de alojamento e moradora do bairro Cidade Jardim, Lilian Alves, de 38 anos, está há pouco mais de uma semana comercializando bolos e tortas. Ela não pensava em atuar de forma autônoma e diz que a decisão foi incentivada pela família e amigos. “Estou há um ano sem trabalhar com carteira assinada. Estou vendendo bolos e recebi muito incentivo dos meus amigos. Eu sempre cozinhei bem, mas apenas para a família mesmo. Contudo, acabei percebendo que poderia complementar a renda fazendo algo que gosto muito”, conta.

Para ajudar nas vendas, Lilian recebe o apoio da filha, a jovem Thayla Alves, de 16 anos. A moça comunicativa acaba ajudando a mãe nos negócios. “Minha mãe é muito tímida. Então, eu ajudo ela nas vendas em locais públicos e nas encomendas”, acrescenta Thayla. Diariamente, mãe e filha produzem cerca de 48 mini-bolos e vendem a R$ 3 e R$ 4. “Estou atrás de outros clientes e gostando muito desse trabalho. Além das vendas diretas, tenho recebido muitas encomendas. Consigo me programar e tenho aproveitado mais a minha família. Uma coisa que percebi é que nesse ramo não existe crise”, observa.

Ovídio Manoel CostaOvídio Manoel Costa, de 52 anos, morador de Parauapebas há 5 anos, também está na informalidade. A decisão foi tomada há 15 anos, quando percebeu que não tinha perfil para trabalhar como empregado. “Foi uma decisão minha trabalhar por conta própria, mas também não é fácil, pois temos que investir muito e, às vezes, o retorno não é como o esperado”, reconhece.

Vendedor de açaí, salada de frutas e tortas doces, Ovídio diz que a crise consegue impactar muitos setores da economia, mas não afeta tanto o ramo em que atua. Ele vende os produtos a R$ 5 e tem clientela fiel tanto no comércio quanto em instituições públicas da cidade. “Todo dia saio com uma mercadoria que equivale a R$ 350 e consigo vender um número expressivo. Tem dia que consigo um lucro líquido entre R$ 130 a 150. Vendo bastante no período de final de mês até a primeira quinzena, depois disso, as vendas caem cerca de 60%, pois minha clientela é formada basicamente por assalariados”, explica.

Números

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados no início dessa semana, mostram que estão acontecendo mudanças expressivas no mercado de trabalho e a forma de inserção está mudando. A participação dos trabalhadores por conta própria na população ocupada chegou a 19,8% no mês de agosto, o maior índice desde dezembro de 2006, o equivalente a 4,5 milhões de trabalhadores.

Um ano antes, em 2014, essa participação era de 19%, e, em agosto de 2013, de 17,9%, segundo o Instituto. Grande parte das pessoas que vem optando pelo trabalho autônomo tem entre 25 e 49 anos. São brasileiros que sustentam a família e não podem ficar aguardando uma nova chance de trabalho com carteira assinada.