Pará tinha alguns dos piores indicadores de moradia do país no período pré-pandemia

Água potável insuficiente, aglomeração nos domicílios e falta de banheiro são apenas alguns dos problemas enfrentados pelo povo paraense, que vive na pele dramas comuns de africanos

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A pandemia de Covid-19 pode ter agravado o que já era muito ruim no Pará: as condições sociais. Em 2019, período pré-pandemia, o estado mais rico da Região Norte ostentava alguns dos piores indicadores de moradia do país. Água potável insuficiente e adensamento domiciliar, com seis ou mais pessoas aglomeradas num mesmo lar, são apenas alguns dos quesitos negativos desnudados nesta quarta-feira (23) por meio de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).

Segundo o IBGE, o Pará era a Unidade da Federação que contava com o maior percentual de pessoas vivendo em domicílios que não tinham na rede geral a sua principal forma de abastecimento de água e sem canalização interna nos domicílios. Estavam nessas condições similares às da África Subsaariana 13,8% dos paraenses ou quase 1,2 milhão de habitantes. Na capital, Belém, 2,7% dos moradores estavam na mesma situação.

O estado se destaca ainda na quantidade de moradores por domicílio. É mais fácil encontrar seis ou mais pessoas vivendo numa mesma casa (20,2% dos paraenses estão aglomerados assim) que encontrar apenas dois sob o mesmo teto (13,3%). Essa talvez seja uma das razões que expliquem o porquê de o estado ter sido tão duramente afetado pelo novo coronavírus no início da pandemia, em 2020, apresentando os municípios com as maiores taxas de contaminação nas primeiras pesquisas de amplitude nacional. Na média nacional, os domicílios com dois moradores representam 19% do total, enquanto aqueles com seis ou mais indivíduos são 9,8%, o contrário da situação do Pará.

Os sem banheiro

O IBGE observou que, além das dificuldades de acesso à água e o excessivo número de moradores por domicílios, algumas famílias brasileiras ainda viviam em casas sem banheiro. Isso foi verificado em 2,6% da população. No Norte do país, 11% dos moradores não tinham banheiro em casa em 2019. Entre a população que vivia na pobreza, mais da metade (57,2%) residia em domicílios com mais de três moradores por banheiro. Já 8,1% em domicílios sem o cômodo usado para higienização pessoal.

No Pará, absurdos 14,2% dos domicílios não têm, em pleno século 21, banheiro, situação que condena uma população do tamanho de cinco cidades de Parauapebas a procurar um jeitinho brasileiro de fazer suas necessidades fisiológicas. Ao que tudo indica, após a apuração dos números do censo demográfico de 2022, o estado mais rico do Norte se firmará entre os primeiros colocados como mais atrasado do país.