O Pará não tem do que reclamar do primeiro ano do governo Lula

Ao apoiar a realização da COP-30 no Pará, Lula entrou de corpo e alma na genial sacada do talentoso Helder Barbalho
Governador do Pará, Helder Barbalho (PMDB), Lula e Janja da Silva, juntos em SAhar-el-Sheik (Egito), na COP-27, em novembro de 2022

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O estado do Pará não teve concorrentes no ano prestes a se encerrar. O talentoso governador Helder Barbalho (PMDB-PA), antes mesmo da posse do então presidente eleito pela terceira vez para governar esse mundão chamado Brasil, não poderia imaginar o que aconteceria logo depois.

No paradisíaco balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito, local da COP-27, Lula da Silva foi o convidado vip do jovem político paraense, que há anos opera, com muita disciplina, herdada do pai, um cronograma milimetricamente traçado: a de transformar a riqueza da Amazônia no que ela pode oferecer para o povo que habita aquele lugar. Algo real, factível, científico. Nada parecido com que os gringos falavam sobre como é que tem que ser a relação com a Amazônia.

No último dia do mês de outubro de 2022, os jornais brasileiros revelaram a novidade: afinal quem levou Lula para a COP-27?

Distante 15 mil quilômetros do Brasil, na “lata”, Helder fez o desafio ao único presidente eleito democraticamente três vezes no maior país da América Latina:

— Presidente Lula, minha equipe fechou os números, esse povo não tem ideia do que é o potencial da bioeconomia que nós temos, já está em curso as operações de comando e controle que vão reduzir os crimes ambientais no meu estado drasticamente, e gostaria de lhe ouvir sobre a possibilidade do senhor apoiar o povo amazônida para sediar a COP-30 no Pará. Mais uma vez o senhor vai ouvir que a Amazônia é isso, o Brasil aquilo, e nada! Então, o senhor topa!?

Lula nem esperou Helder terminar de falar.

— Topo. E vamos fazer.

Não deu outra. Será feito.

Assoviando e roendo pupunha

Enquanto o desenrolar dos acontecimentos seguiam, se deu a posse de Lula. Uma semana depois acontece os Atos de 8 de janeiro, quando uma turba de alucinados, promoveram o maior quebra-quebra da história da capital federal em qualquer tempo.

O tempo passou, e antes de julho, no recesso legislativo do meio do ano, a classe política foi devidamente informada que eram reais as chances da chancela internacional de Belém do Pará sediar a COP-30, em 2025. A notícia, entretanto, foi abafada, não era o momento para abrir o fato para o conhecimento público.

Lula tinha sérios problemas políticos em razão da fraca base parlamentar para aprovar sua agenda no Congresso.

Foi justamente no meio do ano, e um pouco depois, que o presidente percebeu que, ou finalizava o acordo e atendia os pedidos do Centrão, ou as dificuldades ficariam cada vez maiores e mais caras. Isso se deu no final de julho.

Paralelamente a isso, o presidente insistia no seu mais grave erro até agora, logo no primeiro ano: a fixação em se tornar um player da diplomacia internacional. O erro tático logo esparramou. Em todas as iniciativas, Lula só contabilizou desgastes. Nem precisa falar da péssima impressão que ficou após a imprensa noticiar o tamanho dos gastos dessas viagens e a antipatia gratuita da figura da primeira-dama Janja da Silva, que fecha o ano sem conseguir se comunicar fora de sua bolha de puxa-sacos.

Em agosto, Celso Sabino, o líder do União Brasil no Pará, e um dos mais influentes componentes da roda restrita do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL) avalizou o nome do colega deputado, um auditor fiscal licenciado, convocando-o para a missão de presidir a Comissão Mista do Orçamento em 2022, e o que se passou depois, agradou Lira que reconheceu o “show” do aliado na construção do orçamento do último ano de exercício fiscal do então presidente Jair Bolsonaro (PL), que sabidamente delegou aos aliados no Congresso, esses assuntos: “Quem resolve isso daí é o meu ‘Posto Ipiranga’ e o Lira, tá o ok!?”

Mas, o que mais chamou a atenção, foi a completa falta de visão de todos os prefeitos do Pará quanto ao zero planejamento para ações com vistas à COP-30, notadamente o de Belém, um carreirista político profissional.

Os gestores preferiram sentar na beira do caminho, assoviar e roer pupunha. Esperam cair do Céu algum, para o roçado.

COP-30

Feito o anúncio da confirmando da realização da COP-30 no Pará, o estado sediou, logo depois, o milagre da ressuscitação da OTCA — Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia, esquecida nos escaninhos da diplomacia multilateral sul-americana.

O Pará voltou a se destacar na programação de COP-28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no mês passado.

Chuchu ou açaí?

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), um tucano arrependido, exerce, de forma baldia, apagada e incompetente, a acumulação do cargo ao de ministro da Indústria e Comércio, numa acomodação sem precedentes.

Na semana passada, sua correligionária, a deputada Tábata Amaral (PSB-SP), anunciou aos quatro cantos da maior cidade da América Latina que é candidata à prefeitura de São Paulo. Dizem que seu vice será o apresentador Luiz Datena.

Lula chamou Alckmin, ou o chuchu, apelido dado não pela beleza em significado de gíria que os mais antigos conhecem, mas pela completa nulidade que até agora, nenhuma contribuição acrescentou ao governo. “Temos que marchar juntos em São Paulo”, advertiu ao vice que apenas esboçou um sorriso amarelo.

Na ponta oposta, Helder Barbalho marcha com resultados impressionantes de redução de desmatamento e crimes ambientais no estado. Segue num ritmo alucinante para finalizar os projetos executivos para preparar a capital do estado que governa, e receber dignamente aos mais de 100 mil pré-inscritos para a COP-30, em novembro de 2025.

Pelo visto, enquanto o chuchu murcha, e corre desde já o risco de ser substituído pelo jovem do Norte na chapa à reeleição em 2026, a força do açaí sobre o chuchu, começa a se confirmar fora do âmbito da botânica.

É também, pela primeira vez na história, que São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais, perdem o protagonismo político em importância internacional, para Belém, a porta de entrada da Amazônia brasileira.

Nenhum outro fato esse ano, foi mais relevante para Luiz Inácio Lula da Silva do que a COP-30.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.