No Roda Viva, Helder explica estratégia para a COP-30, cita avanços de seu governo e diz que vai à luta em 2026

O governador do Pará respondeu perguntas embaraçosas da bancada de jornalistas convidados no mais tradicional programa de entrevistas da TV brasileira
‘’O mundo tem saber o que é o valor de uma Floresta viva’’, Helder Barbalho, no programa Roda Viva, da TV Cultura

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Em mais um compromisso de sua agenda estratégica política, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), conseguiu um feito, um gol de placa, superando o próprio pai, ex-governador e senador Jader Barbalho (MDB-PA) — o mais longevo político em atuação hoje no Brasil: ser entrevistado no mais tradicional programa de entrevistas da TV brasileira, respondendo a perguntas embaraçosas formuladas pela bancada de jornalistas convidados no Roda Viva, programa da TV Cultura de São Paulo, na noite da segunda-feira (13).

Participam da bancada de entrevistadores Eduardo Belo, editor de Brasil do jornal Valor Econômico; Joelmir Tavares, repórter de política da Folha de S. Paulo; Laís Duarte, epórter da TV Cultura; Malu Delgado, chefe de Reportagem da plataforma Sumaúma – Jornalismo do Centro Mundo; e Pedro Venceslau, analista de política da CNN Brasil. O programa, com duas horas de entrevista ao vivo, dividas em cinco blocos, foi apresentado e mediado pela jornalista Vera Magalhães.

A bancada do Roda Viva entrevistou na segunda-feira (13) o governador do Pará, Helder Barbalho — líder em ascensão do MDB

Helder Barbalho não se esquivou de responder perguntas embaraçosas relacionando o Pará como um contumaz vilão ambiental e líder em assassinatos de defensores do meio ambiente e causas sociais.

Disse que, quando assumiu o governo do Pará, em seu primeiro mandato (2018-2022) mudou a abordagem para enfrentar a complexa questão de assassinatos no campo. ‘’70% das terras do Pará são de responsabilidade do governo federal, e não posso entrar com a Polícia Militar nessas áreas sem autorização. Assinamos com o Ministério da Justiça um convênio para atuação conjunta nas áreas federais para enfrentar o problema’’, anunciou.

Disse que trabalha em duas vias que correm paralelamente: ‘’Ações de comando e controle [repressão policial] e buscamos solucionar a causa de todas essas disputas pela terra não só no Pará, mas em toda a Amazônia: a não regularização fundiária de toda a região, mãe de todos os conflitos’’, garantiu, citando problemas tais como, narcogarimpo, narcogrilagem, desmatamento em terras indígenas e mineração ilegal.

Falou sobre o selo verde de rastreamento do segundo maior rebanho do país que pasta nas terras paraenses, rastreando o plantel desde o nascimento até o abate. “Em conjunto com os frigoríficos, essa iniciativa aumenta o preço da carne produzida no Pará, devido o selo verde, e garante controle total da origem legal desses animais aos compradores’’, citou.

Petróleo

O governador explicou que a vocação do estado do Pará não é a produção de petróleo, mas disse que, caso a estatal Petrobras consiga a autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a pesquisa e posterior exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial a 540 Km distante da Foz do Amazonas, em Alto Mar, como já está em curso nos países vizinhos da Guiana e do Suriname, cobrará da estatal, investimento e compromisso com investimento para a transição energética, estabelecendo um prazo para que isso aconteça.

‘’A Petrobras é um patrimônio público do povo brasileiro, tem a obrigação de bancar a transição energética e estabelecer um prazo para o fim da produção de petróleo em substituição às alternativas de produção de energia limpa. A nossa matriz já tem 80% de fontes limpas e como a licença para a pesquisa foi concedida pelo próprio governo federal, se tudo estiver dentro dos parâmetros do Ibama, a produção deverá ser feita’’, disse.

Programa social do Pará deve ser nacional

Helder apresentou os números do Programa Territórios da Paz, sustentado pela construção, em área de altos índices de violência, dos equipamentos chamados de Usinas da Paz, que tirou Belém, a capital do estado, de cidade mais violenta do país para a sétima posição como cidade mais segura. O governador disse que esse programa deveria ser adotado como parâmetro pelo governo federal, tal a relevâncias de seus resultados.

Charges foram feitas aos longo dos cinco blocos do programa, pelo cartunista Luciano Veronezi

COP-30

Helder Barbalho adiantou algumas das expectativas com a realização da Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que será sediada em Belém, em 2025. “Nós precisamos colocar na COP-30 que a agenda vai ser a floresta viva baseada em financiamento global para o modelo de sustentabilidade da floresta em pé”, disse.

“Do ponto de vista ambiental, o legado da COP em Belém será para o Brasil e para Região Sul será Global e vai permitir pela primeira vez inserirmos a discussão sobre qual é o papel da floresta na agenda das mudanças climáticas”, salientou.

Sobre os desafios estruturais para Belém, Helder Barbalho também falou sobre os diferentes tipos de hospedagem possíveis, como por exemplo, a utilização de escolas, apartamentos públicos, residências privadas, novos hotéis e a utilização de cruzeiros, num raio de 50 quilômetros via terrestre e de 30 minutos, via aérea, incluindo Salinópolis, por exemplo, como uma das cidades que farão as hospedagens de cerca de 70 mil pessoas que frequentarão a COP-30 durante as duas semanas de sua realização.

“De fato, é uma grande oportunidade. Nós temos um desafio, mas certamente poder sediar o mais importante evento de discussões climáticas pela primeira vez na floresta, pela primeira vez na Amazônia, deve ser visto como uma agenda prioritária para colocar o Brasil no protagonismo da diplomacia ambiental”, ponderou.

Falou também do que considera fundamental na conferência: o pós-COP-30, ou seja, o legado que o evento pode deixar para uma cidade [Belém] repleta de problemas estruturais de mobilidade e saneamento como atualmente é o status da capital do Pará.

Política

O governador do Pará defendeu que o MDB apoie Lula em eventual candidatura à reeleição em 2026. Helder Barbalho disse que o presidente ‘’cumpre um papel de transição geracional’’.

“Defendo que o MDB possa dar toda a sustentação e apoio ao governo do presidente Lula e possa apoiá-lo na sua recondução em 2026 (…) enxergo que o presidente Lula cumpre um papel de transição geracional, que garante a força da institucionalidade, da democracia e faz um governo que cumpre um momento em que as transições das gerações estarão sendo realizadas”, afirma.

Helder não deixou claro, mas ficou subtendido que em 2026 vai à luta como um voz regional que será ouvida no plano nacional, sem, entretanto, revelando seus planos. ‘’Agora, o meu compromisso é com o povo que me reelegeu, em 2026 que ser uma voz que seja ouvida’’, adiantou.

Assista ao programa na íntegra:

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.