Medidas da Rússia contra sanções do Ocidente fracassam e rublo vale um centavo de dólar

Economia do país foi rebaixada pelas agências de risco e equivalem a lixo
Um rublo, a moeda russa, vale um centavo de dólar

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Brasília – O presidente da Rússia Vladimir Putin, numa ofensiva interna para mitigar os efeitos devastadores das sanções impostas pelo Ocidente, encarregou o parlamento russo de aprovar medidas para mitigar os efeitos das medidas na sexta-feira (4). O mandatário enviou um pacote de leis destinadas a contra-atacar os efeitos das sanções sobre a economia do país.

Desde o início da invasão da Ucrânia, alguns países, liderados pelo governo dos Estados Unidos e pela União Europeia, anunciaram sanções internacionais contra o país logo após a conformação da invasão da Ucrânia — há dez dias.

As medidas pretendem “aumentar a estabilidade da economia russa e proteger os cidadãos contra sanções”, disse o comunicado, mas não foi isso que ocorreu, pelo contrário. O efeito dominó das sanções obrigou o fechamento da Bolsa de Valores do país, e os caixas-eletrônicos de todos os bancos começam a registrar falta de papel-moeda para saques de correntistas desesperados.

As agências de classificação de risco Fitch e Moody’s rebaixaram a nota de crédito da Rússia para junk  (lixo na tradução do inglês), com as incertezas quando à capacidade do país de honrar o pagamento da dívida. Há uma reunião de emergência convocada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para impedir que a Rússia obtenha crédito da instituição.

Paralelamente, os provedores FTSE Russell e MSCI decidiram remover a Rússia de seus índices, por consideraram o investimento em seu mercado de ações insustentável. As decisões valem a partir de 7 e 9 de março, respectivamente.

Os países ocidentais tomaram medidas sem precedentes contra a Rússia, causando uma queda vertiginosa do rublo e uma fuga massiva de empresas estrangeiras com negócios na Rússia, entre outros efeitos. Um rublo — a moeda russa — vale um centavo de dólar.

Profissionais liberais do país, médicos advogados, engenheiros, viram a poupança e economia de uma vida inteira derreter, da noite para o dia perder 30% de valor real, no ambiente de caos econômico o qual o país mergulhou. É o preço da guerra que começa a chegar para o cidadão russo.

As leis aprovadas no Parlamento russo na sexta, dão ao governo a capacidade de aumentar as aposentadorias e o salário mínimo, “se necessário”. Também incluem a possibilidade de moratória nas inspeções de pequenas e médias empresas em 2022, e até 2024 para empresas de TI.

O pacote de leis incorpora um sistema simplificado de compra de determinados medicamentos, cuja lista foi ampliada.

Outra medida é um procedimento simplificado de buyback, ou seja, a compra de suas próprias ações por uma empresa. Como o preço das ações das empresas russas caiu acentuadamente nos últimos dias, isso permitiria às empresas comprá-las por um valor baixo.

A lei suspende o pagamento de dívidas a cidadãos e pequenas e médias empresas em 2022, medida que já havia sido aplicada no início da pandemia do coronavírus.

Por fim, foi autorizado o prolongamento de uma anistia para capital que já está em vigor há vários anos e que permite que os russos repatriem bens e capitais do exterior sem estarem sujeitos a multas ou processos judiciais. Ocorre que os bancos russos foram excluídos nessa semana do Swift — o sistema internacional que registra as operações financeiras internacionais criado após o fim do Telex. Desta forma, é impossível o correntista russo fazer o resgate de seus créditos internacionais.

Ao ser questionado sobre o assunto na coletiva de imprensa diária, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a declarar que a economia russa “está em um ambiente agressivo”.

“A economia diz respeito a todos nós, diz respeito ao bem-estar de todos os cidadãos. Há golpes contra nossa economia que devem ser amortecidos e minimizados. E é nisso que o governo e o presidente estão se concentrando agora”, explicou.

O Kremlin teme que a desaprovação da opinião pública do país se torne uma fonte de protestos generalizados pedindo a renúncia de Vladimir Putin.

A cada hora, uma sanção e desemprego vai explodir
Abaixo, confira a relação das empresas que estão deixando de operar na Rússia. Isso significa desemprego generalizado e esse contingente de trabalhadores não terá como pagar as suas contas num futuro próximo.

Veja as empresas que encerraram negócios na Rússia
A Harley-Davidson informou na terça-feira, 1º de março, que suspendeu seus negócios e remessas de suas motos para a Rússia, mas não detalhou o tamanho de suas operações no país;

A Harley-Davidson informou nesta terça-feira, 1º de março, que suspendeu seus negócios e remessas de suas motos para a Rússia, mas não detalhou o tamanho de suas operações no país;

As operadoras de cartões de crédito americanas anunciaram a suspensão de algumas das atividades em seus sistemas de pagamento na Rússia para se ajustarem às sanções impostas ao país;

O Google, da Alphabet, disse que bloqueou aplicativos móveis conectados às emissoras russas RT e Sputnik de sua loja Play, em linha com um movimento anterior para remover as editoras estatais russas de seus recursos relacionados a notícias;

A Shell disse que deixará todas as suas operações na Rússia, incluindo a unidade Sakhalin 2 LNG, na qual detém uma participação de 27,5% do capital;

O banco global HSBC está começando a encerrar as relações com uma série de bancos russos, incluindo o segundo maior, o VTB. O banco tem pouca exposição direta na Rússia, com cerca de 200 funcionários e receita anual de US$ 15 milhões no país;

A montadora sueca Volvo Cars anunciou que suspenderá as remessas de carros para o mercado russo até novo aviso;

A Boeing anunciou que está suspendendo as principais operações em Moscou e que suspendeu o envio de peças para a Rússia;

A francesa Airbus suspendeu os serviços de suporte às companhias aéreas russas, bem como o fornecimento de peças de reposição para o país;

A Nike tornou indisponíveis as compras de mercadorias em seu site e aplicativo na Rússia, pois não pode garantir a entrega de mercadorias aos clientes no país e fechará todas as suas lojas físicas no país;

A Apple — maior empresa do mundo lista em Bolsa — anunciou que interrompeu todas as vendas de produtos na Rússia e fechará suas lojas físicas;

A montadora alemã Mercedez-Benz suspendeu a produção local na Rússia e também as exportações para o país. Em 2021, vendeu cerca de 21 mil carros na Rússia;

A americana Ford tomou o mesmo caminho e anunciou ainda a doação de US$ 100 mil para o Fundo de Ajuda Global da Ucrânia;

A Hyundai vai sair do país;

A montadora japonesa Mazda também está suspendendo as remessas de peças para uma fábrica na Rússia;

A alemã Daimler Truck congelou suas atividades comerciais na Rússia, incluindo a cooperação com a fabricante de caminhões russa Kamaz. Não serão produzidos mais caminhões sob a essa parceria;

A empresa de energia dinamarquesa Orsted parou de fornecer carvão e biomassa russos para suas usinas, mas continuará comprando até 2 bilhões de metros cúbicos de gás natural da Gazprom por ano sob um contrato de longo prazo;

A operadora de telecomunicações sueca Ericsson está suspendendo suas entregas para a Rússia enquanto avalia o impacto potencial das sanções em seus negócios no país;

A maior empresa de leasing de aeronaves do mundo vai rescindir contratos com companhias aéreas russas. Em valores, a empresa tem 5% de sua frota alugadas para a Rússia;

A fabricante de pneus finlandesa Nokian Tires está transferindo a produção de algumas de suas principais linhas de produtos da Rússia para a Finlândia e os Estados Unidos. A Nokian produz aproximadamente 80% de sua capacidade anual de 20 milhões de pneus na Rússia;

A Honda está interrompendo as exportações de carros e motocicletas para a Rússia;
Petrolífera controlada pelo governo norueguês decide deixar a Rússia;

A Shell gigante do petróleo, sediada no Reino Unido, estava sob pressão do governo britânico para se desfazer de sua fatia na petrolífera estatal russa;

O maior grupo de transporte marítimo do mundo — a Maersk, suspendeu as movimentações de contêineres de e para a Rússia, exceto para alimentos, artigos médicos e humanitários;

A gigante suíça do transporte marítimo MSC, suspendeu novos contratos de transporte de carga de e para o território russo, também deixando de fora da medida a movimentação de alimentos, artigos médicos e humanitários.

O novo gasoduto em vias de confirmar maior calote da história
A Nord Stream, a empresa por trás do controverso oleoduto que foi interrompido em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia, declarou oficialmente falência, disse uma autoridade suíça à emissora estatal SRF. A empresa também demitiu todos os seus 106 funcionários, observando as sanções dos EUA como o motivo do colapso da empresa.

A construção deste gasoduto foi defendida durante anos pela ex-chefe do governo alemão Angela Merkel, apesar da pressão dos Estados Unidos que o via como um meio do presidente russo, Vladimir Putin, para exercer chantagem energética sobre a principal potência econômica europeia.

As manobras de preparação para a invasão da Ucrânia e sua conclusão há 10 dias selaram o destino deste gasoduto, que estava pronto para entrar em operação, com capacidade de transporte de 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano.

Embora a Alemanha dependa de 40% de sua matriz energética do gás vindo da Rússia, o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou no dia da invasão da Ucrânia, na quinta-feira , 24 de fevereiro, a suspensão deste trabalho faraônico com o qual esperava realizar sua transição energética. E na quarta-feira 23, quando as tropas russas se preparavam para atacar, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que imporia sanções ao gasoduto e seus administradores.

A empresa-mãe da Nord Stream é a gigante russa de energia Gazprom. O oleoduto submarino de 1.230 km foi concluído no final de 2021, com um investimento de US$ 11 bilhões, mas aguardava a certificação alemã para começar a operar o que foi vetado pelo governo alemão.A Gazprom estatal russa de petróleo e gás é a única acionista do novo gasoduto Nord Stream 2, mas 50% do financiamento do gasoduto veio de cinco empresas europeias de energia, incluindo Wintershall e Uniper, da própria Alemanha. Os outros financiadores são Shell, do Reino Unido, Engie, da França, e OMV, da Áustria. A empresa foi cobrada para acertar os pagamentos atrasados, mas analistas financeiros apostam que a empresa dará o maior calote da história.

As reservas internacionais russas foram congeladas em várias nações, seus bancos não conseguem fazer transações com o exterior, empresas decidiram se retirar ou suspender exportações para o país, desorganizando a cadeia produtiva local. E várias instituições financeiras enfrentam problemas de liquidez, com a corrida de cidadãos para saques.

A guerra só vai terminar se pararem Vladimir Putin.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.