Estudo comprova que pecuária protege 10 milhões de hectares ao ano

O aumento da produtividade pecuária evitou que 270 milhões de hectares fossem desmatados e ainda devolveu 30 milhões de hectares para outras atividades ou regeneração da flora

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Brasília – Cruzando as diversas bases de informações disponíveis em Banco de Dados oficiais, a Athenagro Consultoria divulgou pela primeira vez um dado que vem sendo atualizado anualmente, à medida que as informações oficiais são divulgadas. De acordo com o levantamento, entre 1990 e 2019, o aumento da produtividade pecuária evitou que 270 milhões de hectares fossem desmatados e ainda devolveu 30 milhões de hectares para outras atividades ou regeneração da flora.

Os dados contestam cabalmente a campanha promovida por Organizações Não Governamentais internacionais que atuam no Brasil com o objetivo de criar pânico nos mercados que são destinos das exportações da pecuária brasileira.

“A crise de saúde pública e econômica, criada pela pandemia, colocou o agro em destaque. No entanto, no caso brasileiro, a sociedade ainda recebeu, como brinde, uma crise política, preparada por setores de oposição ao governo com o objetivo de criar problemas na condução da administração do país”, disse Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo e diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.

Em meio ao caos de desinformação e polarização, e mediante o risco de possível enfraquecimento da Ministra Tereza Cristina, cuja boa atuação é praticamente consenso entre todos os profissionais do agro, diversas lideranças foram acionadas para falar sobre os ganhos do campo nos últimos anos. “E foram muitos os ganhos”, garante Nogueira.

Área utilizada para a produção rural

A área utilizada pela pecuária e pela agricultura, somando todas as atividades, desde hortícolas até reflorestamento, somava 248,4 milhões de hectares em 2003. Naquele ano foram produzidas 610 milhões de toneladas de produtos vegetais e 40,2 milhões de toneladas de produtos de origem animal.

Em 2019 os brasileiros ocuparam 240,8 milhões de hectares para todas as atividades. A produção, no entanto, atingiu 1,1 bilhão de toneladas de produtos vegetais e 66,5 milhões de toneladas de produtos de origem animal. Produção vegetal e animal tiveram um incremento de, respectivamente, 81% e 66% em 16 anos. A área total para produção agropecuária recuou 7,6%.

Em 2003, os pecuaristas e agricultores retiravam cerca de 2,6 toneladas de produtos agrícolas para cada hectare utilizado, enquanto no último ano foram 4,9 toneladas por hectare, um aumento de 86% no desempenho por hectare. Como a produtividade está aumentando, a qualidade do solo também melhora, consequência de melhores práticas conservacionistas e condução dos tratos culturais, referenciou o estudo.

Números do uso de defensivos e fertilizantes, apresentados de forma sensacionalista pelos críticos, ludibriam a opinião pública. É justamente a utilização responsável de tais produtos que permite obter tamanho desempenho no uso do solo e da água. Se fossem ruins como dizem, a produção não aumentaria, visto que plantas e animais são seres biológicos e, assim como o ser humano, sofreriam consequência do tal “envenenamento” alardeado pelos engajados em torno de bandeiras incompreensíveis, esclarece dados compilados pela consultoria responsável pelo estudo.

Produtividade

O aumento da produtividade não é linear pelo desempenho de cada cultura. Para analisar as culturas, todas atividades precisam ser avaliadas separadamente. A produtividade da pecuária de corte, por exemplo, aumentou 55% entre 2003 e 2019.

A mudança no uso do solo é um dos fatores que explicam o desempenho do campo nesse quesito. Na média, uma área de pecuária de corte produz cerca de 65 quilogramas de carcaça por ano. Mesmo considerando a produtividade média da amostra do Rally da Pecuária, expedição anual que entrevista produtores em todo o Brasil, a produtividade será de 190 kg/ha, podendo atingir quase 1 tonelada por hectare entre os mais produtivos.

Quando essa área passa para soja, a quantidade de grãos retirada da área facilmente atinge 3 toneladas por hectare. Se ainda for plantada uma segunda safra de milho, a área renderá entre 9 e 10 toneladas por hectare. O mesmo raciocínio pode ser usado para cana-de -açúcar, eucalipto e outras culturas que avançam sobre área de pastagens.

Nogueira ressaltou que: “Apenas para evitar confusões com o uso dessa análise: em termos de demanda humana, é evidente que a densidade nutricional e qualidade da composição dos alimentos não estão sendo consideradas. Mesmo quando se compara a proteína bruta de culturas vegetais com a proteína animal, não é considerada a qualidade da composição de aminoácidos em ambas as fontes. Essas comparações inadequadas podem ser atribuídas à má fé ou ignorância. Não é assunto do estudo, mas em hipótese alguma, proteína vegetal substitui nutricionalmente a proteína de origem animal nas mesmas proporções”, explica.

Para o especialista o raciocínio do sistema se dá da seguinte forma: “No período, a área de agricultura aumentou cerca de 14 milhões de hectares, sendo que a área total de pastagens recuou quase 22 milhões de hectares. Mesmo computando o desmatamento, de acordo com números oficiais para as pastagens levantados pelo INPE/Prodes, a quantidade de área repassada para agricultura, somada à área perdida por infestação de plantas invasoras, é suficiente para registrar redução na área cultivada no Brasil”, destaca.

“Esse avanço é possível pelo aumento do aporte tecnológico na produção de carne, o que não ocorre de forma bem distribuída entre todos os produtores”, atestou o estudo in loco em milhares de propriedade visitadas. “Os pecuaristas mais ágeis melhoram seus sistemas de produção, obtendo maior rentabilidade e ampliando sua escala com produtividades cada vez mais elevadas. Do outro lado, os menos eficientes, grandes ou pequenos, vão perdendo parte de suas pastagens, tanto para a agricultura, como pelo início do processo de recomposição da vegetação natural”, apontou o levantamento.

Entre 2003 e 2019 foram repassados 2,2 hectares de pastagens para agricultura para cada hectare desmatado, segundo números oficiais. E foi iniciado o processo de regeneração em 1,3 hectare, para cada hectare desmatado. O repasse para agricultura intensificou-se a partir dos anos 2000, quando se concentrou praticamente 80% de toda a área que foi convertida.

Para analisar um período mais longo, depois de 1990, o total desmatado somou 40,7 milhões de hectares. Foram repassados 17,5 milhões de hectares para a agricultura e outros 53 milhões de hectares de pastagens foram perdidos por degradação, iniciando a regeneração da vegetação natural.

Conclusões

“Enganam-se os que acreditam que essa dinâmica seja uma retração da importância pecuária. Analisando a história do avanço para o interior, é possível concluir que a área de pastagens estava fadada a ser substituída por outras atividades, à medida que as condições mínimas fossem chegando às regiões mais distantes dos grandes centros. Seja por demanda, seja por infraestrutura, sempre foi previsível que a pastagem cederia espaço para culturas agrícolas”, explicou Nogueira.

“A pecuária nunca foi, e nem é, vetor de desmatamento, mas sim consequência do mesmo. Trata-se da atividade mais adaptável para uma região sem infraestrutura alguma”, conclui.

Há quem analise a produção com base em indicadores do passado, sem considerar o avanço tecnológico. Se as premissas dessas análises estivessem corretas, a pecuária brasileira teria que ocupar atualmente 430 milhões de hectares. “O cálculo é obtido pela produção atual de carne com base no nível tecnológico de 1990”, detalha o estudo da consultoria.

Somando ainda o balanço entre desmatamento e as áreas em processo de regeneração e repassadas para agricultura, é possível associar o avanço da produção pecuária com a conservação de 300 milhões de hectares nos últimos 30 anos.

Além da produção de carne, e de todos os avanços econômicos e sociais, a pecuária brasileira é responsável pela de proteção ambiental média de 10 milhões de hectares a cada ano, finaliza o estudo.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente de Brasília.