Em decisão unânime, Banco Central mantém taxa Selic em 13,75%

Pela sexta vez consecutiva, os membros do Copom mantiveram a taxa no mesmo patamar estabelecido em agosto de 2022
Composição atual do Copom: (da esquerda para a direita) Bruno Serra Fernandes, Diretor de Política Monetária; Otavio Ribeiro Damaso, Diretor de Regulação; Paulo Souza, Diretor de Fiscalização; Carolina de Assis Barros, Diretora de Administração; Mauricio Moura, Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta; Roberto Campos Neto, Presidente; Fernanda Guardado, Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos; Renato Dias de Brito Gomes, Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução; e Diogo Abry Guillen, Diretor de Política Econômica

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Na noite dessta quarta-feira (3), os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), decidiram manter os juros básicos (Selic) a 13,75% ao ano. Desde que elevou a taxa a esse nível, em agosto do ano passado, é a sexta vez em que a taxa não sai do lugar. A decisão foi unânime.

A trajetória e resiliência da inflação tem servido de justificativa ao BC para nem sequer cogitar cortes de juros. Mais do que isso, em insistir em deixar até mesmo a porta aberta para novas altas. O BC repetiu esse recado, avisando que “apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. O trecho “apesar de ser um cenário menos provável”, ao menos, é uma novidade. Logo, a chance de novas altas seguem existindo, mas nem tanto quanto existiam semanas atrás.

O Copom reconhece esforços do governo na direção de reduzir o descontrole das contas públicas, ao destacar que “a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”. Por outro lado, segue apontando de que nada adianta se as expectativas dos agentes seguirem aquecidas.

“O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”, diz o texto. Em outras palavras, quão mais distantes da meta estiverem as expectativas, mais juros a autoridade monetária julga como imprescindíveis.

O dado mais recente de inflação, medido pelo IPCA-15 de abril, mostra a alta do custo de vida para os brasileiros desacelerando rumo aos 4,16% em 12 meses. Está acima da meta de inflação para 2023, de 3,25% ao ano, mas abaixo do teto de tolerância, de 4,75%. Entre analistas, ainda assim, se dá como favas contadas a terceira falha seguida na missão de entregar a inflação na meta. A expectativa média do mercado, hoje, mira os 6,04% ao ano em dezembro, acima dos 5,96% previstos quando da última decisão da autoridade monetária.

Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta implica empréstimos e financiamentos mais caros. E, assim sendo, serve de ferramenta para esfriar a demanda e, a reboque, a inflação.

Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando melhor significa menor poder de relativo de sedução para a renda variável. Já para o internacional, a renda fixa no Brasil passa oferecer retorno pouco mais alinhado à sorte de riscos oferecidos pelo país. Mais dólares podem ser atraídos ou menos afugentados. O que, por sua vez, vai na direção de controlar o canal cambial da inflação.

A deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hofmann (PT-PR), atacou novamente a decisão do BC. Ela perguntou em publicação em sua conta numa rede social: “Quanto já custou ao país o negacionismo econômico de Campos Neto? Qtos empregos, empresas falidas, famílias destruídas? A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até qdo ficarão impunes?”

Leia a íntegra do comunicado

O ambiente externo se mantém adverso. Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se marginalmente e encontram-se em torno de 6,1% e 4,2%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,8% em 2023 e 5,2% em 2024. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para 2024.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
(i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
(ii) a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e
(iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
(i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
(ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
(iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

Nota explicativa: No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,05, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

A decisão do Copom é divulgada no mesmo dia da decisão por meio de Comunicado na internet. As Atas das reuniões do Copom são publicadas no prazo de até quatro dias úteis após a data da realização das reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8:00.

Uma vez definida a taxa Selic, o Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.