Desde julho, com o fim da implantação do S11D, uma média de 1.200 famílias deixam Canaã dos Carajás todos os meses

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Os dados são da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Canaã dos Carajás: desde julho deste ano 1.200 famílias, em média, vão embora todos os meses da cidade em função da desmobilização do Projeto S11D, que chegou a sua fase final de implantação e entrará em operação no início do próximo ano.

A Vale e a Prefeitura desenvolveram uma série de ações visando minimizar os impactos sociais gerados pela implantação do projeto. Dentre elas, o apoio financeiro para os trabalhadores que vieram de outras regiões retornarem para suas cidades de origem. Essas ações integram um Plano de Desmobilização do projeto e, segundo informações apuradas, o valor de R$ 200 mil foi repassado pela mineradora para a Prefeitura utilizar exclusivamente neste Programa.

No pico da implantação do S11D, atingido em outubro de 2015, foram gerados 15.770 postos de trabalho no Pará, envolvendo as obras de construção da mina e usina, em Canaã dos Carajás, e as do Ramal Ferroviário e da duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), que passa por outros municípios, conforme dados repassados pela empresa.

Quando o S11D entrar em plena operação vai gerar cerca de 2.700 empregos diretos e 10 mil indiretos, vagas que serão ofertadas gradativamente a medida com que a exploração for evoluindo e o ramp-up, fase inicial de produção, for concluído. A fase inicial de produção está programada para durar quatro anos. Neste período, as vagas ofertadas, em sua maioria, serão para profissionais de áreas técnicas e com capacitações e formações específicas.

A mineradora diz ter preparado a mão-de-obra local para atender parte de sua demanda e elenca as seguintes ações neste sentido: “além das atividades de capacitação, a Vale executa os programas Portas de Entrada, como o Jovem Aprendiz, Programa de Formação Profissional e de Estágio. Atualmente, por exemplo, cerca de 500 jovens selecionados em Canaã estão em treinamento nas operações da empresa. Os critérios para seleção foram ser maior de 18 anos, ter ensino médio completo e residir em Canaã”.

Projeto de Desmobilização

“Foi criado um grupo de trabalho multissetorial, com participação da Vale, da prefeitura e de outras instituições, com o objetivo de planejar e elaborar um plano de desmobilização, além de monitorar as ações propostas. Uma das ações conta também com o apoio das principais empresas contratadas que realizam periodicamente o monitoramento, por amostragem, do destino do seu efetivo desmobilizado. Essa ação aponta, por exemplo, que entre 70% a 80% dos trabalhadores da montagem eletromecânica optaram por voltar para suas regiões de origem”, informou a Vale em nota.

“A maior parte dos trabalhadores da implantação ficou alojada, com o objetivo de não criarem laços profundos com o município e assim, estimular que eles retornem aos seus locais de origem”, é o que diz um trecho do material informativo, disponível no site da Prefeitura de Canaã, que contém diversas orientações para quem está desempregado, dentre elas, a de buscar a Secretaria de Desenvolvimento Social para quem não é da cidade e tem interesse de retornar para seu lugar de origem.

S11D e o crescimento populacional em Canaã dos Carajás

O S11D gerou um grande impacto social na cidade de Canaã dos Carajás, que viu sua população sair de 10.922 habitantes, no ano 2000, para 34.853 em 2016, conforme estimativa do IBGE. Porém, esse número é muito maior. Nas eleições deste ano, o município contou com quase 40 mil eleitores, um aumento de 69% comparado com os dados de quatro anos atrás. Foi a cidade que teve o maior aumento do número de eleitores em todo o Brasil.

É comum empreendimentos desse porte gerarem forte demanda de migração para as cidades sedes dos projetos, aumentando em proporções gigantescas as demandas da população por serviços públicos de saúde, educação e saneamento básico, por exemplo.

Diante de todo esse contexto, a mineradora diz ter impulsionado o desenvolvimento da cidade. “Em 12 anos a Vale destinou mais de um bilhão de reais em impostos e investimentos sociais no município, que abriga a mina de cobre Sossego e, agora, o S11D”, informa um release da empresa.

A pujança de Canaã dos Carajás é destacada pelos números. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita passou a ser 26 vezes maior do que em 2000. Neste mesmo ano, a cidade era classificada como de baixo desenvolvimento humano. Em 2010 passou a ser considerada como município de médio desenvolvimento, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

Além disso, a cidade lidera o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) no Pará, que é referência para o acompanhamento do desenvolvimento socioeconômico brasileiro desde 2005 e, de acordo com o Anuário Multicidades, publicado pela Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Canaã é o primeiro colocado em todo o Brasil no Ranking de Imposto Sobre Serviço (ISS) Per Capita, com arrecadação de R$ 4.894,00 por habitante. Só neste imposto a Prefeitura da cidade arrecadou mais que a vizinha Parauapebas. Em 2015, entraram na conta de Canaã R$ 164.595.052,13 de ISS.

É muito dinheiro decorrente da exploração mineral e a grande pergunta é: esse potencial econômico tem sido utilizado eficientemente pelo governo em favor do verdadeiro desenvolvimento da cidade?

Recentemente Canaã foi alvo da Operação Timóteo, da Polícia Federal (PF), que investiga irregularidades relacionadas à Compensação Financeira por Exploração Mineral (CFEM), outro grande responsável pela receita do município. A Prefeitura emitiu nota informando que os documentos que foram levados pelos agentes da PF eram relacionados ao ano de 2009.