A viagem de trem entre São Luís (MA) e Parauapebas (PA), num trecho ferroviário de 892 quilômetros, é feita hoje quase que integralmente sem conexão de internet às margens dos trilhos da Estrada de Ferro Carajás (EFC).
Somente 14% da rota conta com conectividade, a exemplo do que acontece na maior parte da zona rural brasileira. Essa realidade, porém, deve mudar em 2026 graças a uma parceria entre a Vale, que opera a ferrovia de transporte de cargas e passageiros, e a empresa de telefonia móvel Vivo.
O investimento, que contempla a instalação de 49 torres no trecho da EFC, será de R$ 250 milhões e contará com a abertura de parte da banda de 4G para os vizinhos da ferrovia, incluindo não só moradores da zona rural, mas também prédios públicos como escolas e unidades de saúde.
A EFC completou 40 anos de sua viagem inaugural, feita em 1985, no último dia 28 de fevereiro, em um momento de recorde no total de passageiros transportados em um ano – 423 mil, em 2024.
Importante corredor ferroviário para as regiões Norte e Nordeste, a ferrovia transportou no ano passado 176,47 milhões de toneladas de minério de ferro, além de 10,9 milhões de toneladas de grãos e 2,1 bilhões de litros de combustível cortando 28 municípios do Pará e do Maranhão.
“Nós vamos abrir parte dessa banda para a população mais carente que está ao longo do trecho da EFC e que são os nossos vizinhos. Inclusive permitindo que escolas não assistidas por locais com infraestrutura de conectividade possam fazer a inclusão digital de mais pessoas, de mais alunos,” afirmou João Silva Júnior, diretor de operações da EFC em recente entrevista à Folha Press.
Segundo ele, com a conexão, será possível ter o comportamento não só estático, mas dinâmico de qualquer ativo em tempo real na ferrovia. “Isso muda a lógica. Hoje a gente tem locais específicos em que a gente captura esse dado e faz a análise. Com a conectividade, a gente vai ter em tempo real. Estamos nos preparando nessa evolução da inteligência artificial para dar outro passo na nossa gestão de manutenção.”
Ao abrir o sinal para o entorno da linha férrea, a Vale segue o que fez nos últimos seis anos a ConectarAgro, associação que envolve fabricantes de máquinas agrícolas como Case, Massey Ferguson e New Holland e empresas como Bayer e a operadora TIM. Já há 20 milhões de hectares conectados, o que inclui uma população de 1,7 milhão de pessoas em 983 municípios.
Também no sistema ferroviário, até 2022 o trecho de 41 quilômetros da Serra do Mar que leva ao porto de Santos, o mais importante do país, tinha conexão só em 50% do percurso, mas a instalação de 41 antenas 4G permitiu mais autonomia e ganho de tempo na comunicação entre maquinistas e o Centro de Controle Operacional (CCO) da concessionária Rumo.
Informações que demoravam até sete minutos para serem recebidas passaram a chegar em três segundos após parceria com a Embratel, que faz parte da Claro e desenvolveu o projeto.
Na Estrada de Ferro Carajás, para um passageiro pagar seus pedidos no vagão restaurante, por exemplo, a Vale utiliza atualmente a conexão via Starlink, de Elon Musk, já que a maior parte da viagem, que dura 16 horas de ponta a ponta, é feita sem conexão.
Ela é limitada principalmente ao entorno de cidades que estão entre as mais importantes da rota São Luís, Santa Inês, Açailândia, Marabá e Parauapebas. No total, há 15 pontos de parada no Pará e no Maranhão.
DESERTO FERROVIÁRIO
Além do trem de passageiros da Estrada de Ferro Carajás, só há mais um que faz o transporte regular no país, o da Estrada de Ferro Vitória a Minas, também operado pela Vale e que percorre diariamente a rota entre Cariacica (ES) e Belo Horizonte (MG).
O transporte de passageiros na EFC, que tem três partidas semanais da capital do Maranhão e outras três de Parauapebas (às quartas-feiras, ele passa por manutenção), passará a ser diário em 2027, medida que é parte do contrato de antecipação das concessões firmado entre a Vale e o governo federal em 2020.
Ao oferecer a conectividade completa na ferrovia até o final de 2026, o diretor da concessionária espera que seja um alavancador também para atrair mais clientes para o trem, que transporta passageiros desde março de 1986.
Ao longo do trecho, o trem de passageiros da Estrada de Ferro Carajás faz parada em 15 pontos entre São Luís e Parauapebas. São eles: Anjo da Guarda (São Luís); Arari; Vitória do Mearim; Santa Inês; Alto Alegre do Pindaré; Mineirinho; Auzilândia; Altamira, Presa de Porco; Nova Vida; Açailândia; São Pedro da Água Branca (no Estado do Maranhão); Marabá; Itainópolis; finalizando a viagem em Parauapebas, no Pará.