Delegada Maria Regina, da Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Data) de Parauapebas fala ao CT sobre violência juvenil

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Violência aumenta entre os jovens em Parauapebas. Mudanças culturais podem ter causado esse efeito nos menores

Por Luciana Marschall – Correio do Tocantins

O grande número de adolescentes apreendidos por diversos crimes e sendo vítimas de homicídios vêm chamando a atenção em todo o país e no Pará não é diferente. Em Parauapebas cresce a olho nu o número de menores de 18 anos envolvidos em situações de violência, seja praticando-as ou sendo vítimas. Tanto para os especialistas quanto para os pais o motivo é a criação com poucos limites que é dada às crianças hoje em dia, além da falta de atenção do Poder Público.

delegada maria reginaSegundo a delegada Maria Regina, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Data) de Parauapebas a falta de estrutura familiar tem contribuindo para que, a cada dia mais, adolescentes cheguem apreendidos à delegacia ou sejam alvo de crimes.

“Hoje, infelizmente, estamos vendo um monte de jovens sendo perdidos para as drogas e para o mundo dos crimes. Acreditamos que isso se dá pela falta de orientação da família, que está perdida. Além disso, a escola também está perdida porque os pais querem transferir a responsabilidade deles para os professores, o que não está correto”, comenta.

Para ela a falta de orientação ainda na infância faz com quem a autoridade se perca e “quem não tem limites nunca irá obedecer regras sociais, morais ou legais”, define. A mudança no comportamento geral da sociedade, segundo a delegada acredita, pode ser uma das causas dessas mudanças. “Há uma dificuldade porque a mulher precisa trabalhar e nem sempre tem com quem deixar essas crianças, soma-se a isso a falta de retaguarda do Governo em não fornecer creches e escolas em tempo integral”, diz, acrescentando que a babá da criança acaba sendo a televisão ou mesmo as ruas.

“Automaticamente, uma criança que se cria nas ruas não tem freios, não tem autoridade e fica sem direção. Isso faz com que, depois, os reflexos apareçam e surjam problemas com drogas e gangues”. A delegada acredita que a violência é um fator humano e aparece dentro dos lados bons e ruins que temos, mas deve ser trabalhada. “Quando não há estrutura, não há quem ajude a trabalhar isso, temos problemas sérios”.

carolineA psicóloga Caroline Vilaça Matos avalia a situação de maneira bem semelhante à delegada. Segundo ela, hoje em dia mudaram não apenas a relação familiar como também os valores da sociedade. “Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho mudou-se a relação de a mulher ficar em casa cuidando dos filhos. Essas crianças não têm mais a figura materna cuidando delas em casa e são criadas mais soltas. As crianças vêm sendo criadas de maneira muito livre”, declarou.

Ela diz, ainda, que os hábitos mudaram dentro da família. “Ninguém nasce sabendo as coisas e se desde quando a criança é pequena ela não é ensinada sobre o que é certo, não é colocada castigo quando desobedece, ela será uma criança que não tem hábitos cultivados e quem não recebe limites desde a infância não vai sabê-los na adolescência”, diz, destacando que criar um filho exige responsabilidades que vão além das financeiras. “Os pais têm a obrigação de financiá-los, mas também de educá-los e de dar limites, além de demonstrar amor e afeto”.

biraciO policial aposentado Biraci Pereira de Oliveira observa as mudanças que percebeu com o passar dos anos na forma como as crianças eram criadas antigamente e como o são nos dias de hoje. “A minha criação no passado foi rígida e não éramos mantidos sob leis que protegem os adolescentes. No passado eu pagava pelos meus erros, meus pais me colocavam de castigo quando necessário e nem por isso eu deixei de ser um bom filho”, diz, condenando as leis que, segundo ele, defendem os menores de 18 anos quando praticam crimes.

“Meu pai faleceu quando eu tinha 13 anos e eu fui trabalhar pra sustentar a minha mãe, mas hoje em dia a lei não permite o trabalho e um pai não pode, sequer, repreender um filho por que a lei fala até em processo”, reclama. Ele diz perceber que não há respeito por parte dos adolescentes para com pais, professores e idosos. “Essas leis maltratam a juventude e o jovem não pode carregar nem 50 quilos porque não aguenta. Não pode fazer nenhum esforço físico. Na minha época o trabalho, desde a adolescência, criava a força e a lei era a criação dos pais. Não havia tanto bandido novo como tem hoje”.

elaneJá Elane Mara Modesto Pereira, de 38 anos, que tem três filhos com menos de 20 anos diz ter dificuldade com os dois que ainda são adolescentes, de 16 e 14 anos. “Criei eles sozinha, mas é meio bagunçado. A mais velha casou e está quieta, mas meu adolescente de 16 não quer estudar e a de 14 anos desaparece, some no mundo”, conta. Ela diz que costuma exigir que os filhos estudem, mas não há resultado. “Eu explico que ela tem que estudar, mas ela só quer saber de festa. Quando eu digo que vou entregá-la para o Conselho Tutelar ela desaparece por até dois meses e se eu bater acho que ela não volta nunca mais”, afirmou.

A mãe admite que não tem controle sobre as atitudes da filha. “Não sei com quem ela anda e o que faz. Ela aparece com tatuagens e se vira na rua. Na minha casa era diferente porque quando papai ou mamãe falavam algo aquilo era certo e pra gente ter dinheiro vendíamos verduras e frutas do fundo do quintal. Os filhos hoje em dia se pedirem dinheiro a gente tem que dar. Só querem do bom e do melhor, mas trabalhar e estudar não”.

ivonide1O conselheiro tutelar Ivonildo Braga argumenta, no entanto, que os adolescentes não estão tão livres assim para fazerem o que quiserem sob a luz do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Em relação ao trabalho em si a lei diz que o adolescente a partir dos 14 anos pode trabalhar como menor aprendiz. O problema é que há lei, mas elas não são cumpridas como devem ser”.

Ele diz, ainda, que é mentira dizer que o adolescente não é punido por atos ilegais. ”Dependendo do crime que ele pratica pode passar até três anos internado e imagine um adolescente de 15 anos perder três anos dentro de uma casa que não é chamada de prisão, mas que é uma prisão sim”. Ivonildo trata, ainda, da facilidade que os jovens encontram para entrar no mundo do crime pelas mãos dos adultos. “A gente ouve que é muito grande o índice de envolvimento deles no mundo do crime, mas quem os leva para este mundo são os adultos. Os menores são criados em meio a uma sociedade hipócrita que, em vez de proteger crianças e adolescentes, os usam para cometer crimes”. (Com informações e fotos de Ronaldo Modesto, o Vela Preta)

7 comentários em “Delegada Maria Regina, da Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Data) de Parauapebas fala ao CT sobre violência juvenil

  1. Lazaro da Silva Responder

    Bom! Há vários pontos que eu poderia escolher para fazer algum tipo de comentário na matéria, mas vou ficar com um, somente. Interessante como as entrevistadas (Psicóloga e Delegada)falam sobre o papel da mulher na educação dos filho(a)s. Com as tranformações econômicas motivadas pela primeira revolução industrial que consolidou o capitalismo, a massa assalariada se diversificou – crianças, mulher e homem. Escuto muitos especialistas de plantão dizerem que estas mudanças econômicas e principalmente a inserção da mulher no mercado de trabalho refletiu sobremaneira no comportamento dos filhos. Entendo que cuidar da educação dos filhos(as) é papel do pai e da mãe. Senti na entrevista que esta tarefa está a cargo da mãe. Que pena! Precisamos pensar diferente, chamar o pai para a discussão e também responsabilizá-lo pela educação. Duas especialistas, infelizmente, contribuindo para a reprodução do machismo na família ou com o status quo familiar – mãe cuida dos filhos e do lar, o pai sai para trabalhar para buscar o sustento da família!!! As crianças buscam como referência a família (aqui inclui-se pai e mãe)ou outros tipos de família (homoafetivas) por exemplo. Nesta discussão há muito mais mistério do que imagina a nossa vã filosofia. Só para contribuir no debate. Abraços!

  2. Leonardo Soares Responder

    Darei meu ponto de vista. Quando uma mãe diz que sua filha sai de casa e fica dois meses sem aparecer,algo está errado com essa família. Tenho dois filhos (casal) 19 e 21 anos, e posso dizer que não é fácil educar filhos. Quando minha filha tinha 15 anos, certo dia ao retornar da escola com uma historia de namorado em casa,prontamente me posicionei contra e acabei logo com essa idiotice, quanto ao meu filho quando tinha 16 queria ir para baladinhas de final de semana com amiguinhos, também cortei logo.

    Os pais são 100% responsáveis pela educação dos seus filhos, não é a escola, se um pai e uma mãe nunca tiveram educação, tão pouco poderão educar os seus.

    Desde criança, é preciso educar através do exemplo, do dialogo, do amor, da compreensão, da leitura e isso não vemos dentro dos lares das famílias brasileiras.

    A criança precisa de referencias, e como pode ter se o pai no final de semana enche a cara de cachaça, enche a geladeira de cerveja, chega em casa tarde da noite, bêbado, etc como pode educar um filho?

    A mãe que deveria dar um exemplo, aceita tudo isso como normalidade, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. E daí vem as brigas, as discussões, os xingamentos,etc. e os filhos são criados dentro dessa cultura do mal exemplo.

    Como pode uma criança gostar de estudar, se nunca viu seus pais pegarem num livro pra ler?

    Como pode uma criança ser socialmente educada, se nunca seus pais a levaram para um teatro, um cinema, um passeio no parque, um almoço de domingo com toda família congregados.

    Nunca foram nas reuniões de professores nas escolas, o pai não leva seu filho para fazer uma caminhada juntos, um passeio de bicicleta, nem sequer assiste um filme juntos.

    O modelo de família que vejo hoje é um dos piores, o que vemos são garotas de 15, 16 grávidas e enchendo as maternidades de filhos e a mãe achando lindo isso.

    O que vemos são garotos da mesma idade, ingerindo álcool e o pai achando lindo por que acredita que seu filho já é um “Homem”. Puro machismo idiota.

    Hoje meus filhos estão na faculdade, minha filha namora porém nem pensa em casar, casamento no meu conceito é quando todos tiverem formados, com sua profissão definida, e financeiramente equilibrados. O meu filho tem o mesmo ponto de vista, dias atras a sua namorada lhe falou em casamento e ele foi taxativo em dizer que ela poderá esperar mais 10 anos, pois tem objetivos na vida, além de um casamento. Objetivos continuar os estudos, comprar um imóvel e empreender. Fiquei orgulhoso do meu filho não querer contribuir com a miséria desse país.

    Lamentavelmente a miséria deste país é que o povo estão parindo filhos como ratos, e deixando para o governo criar,vivem cobrando creches e mais creches. Não se ver um programa de planejamento familiar, o que mais vemos são jovens com dois filhos, e morando em barrados no quintal de casas dos pais, e/ou da sogra. Trabalham como peões e o que ganham só dar pra comprar umas miseras compras no supermercado, e o que sobra pra beber de cerveja. Enquanto essas parideiras, meninas ” mães” igual a filha desta senhora que diz que sua filha fica dois meses fora de
    casa, é o tipo que vemos nas maternidades, o sonho destas meninas é parir, e ficar em casa vendo televisão, enquanto o marido fica o dia inteiro trabalhando no minério, ao chegar em casa o cenário continua o mesmo, e isso vira uma cultura, a cultura da miséria do Brasil.

  3. Anônimo Responder

    À Sra Delegada,

    A criança de 15 anos que foi estuprada recentemente e está numa foto TOTALMENTE nua no blog do Vela Preta, como notícia policial, para mim está sendo estuprada uma 2ª vez. O fato do referido blogueiro ser fotógrafo da Polícia Civil não lhe dá o direito de expor qualquer pessoa, muito menos uma menor da forma como está, inclusive identificando a menor, o que é crime no Brasil inteiro, menos em Parauapebas. É um absurdo.

    • Prefeito Marcha Lenta Responder

      Com nossa imprensa sem noção de nada, que vive apenas de desgraçar pessoas ou a política, só pode é dar nisso: violação de direitos fundamentais.

      • Zé Dudu Autor do postResponder

        Rapaz, tá difícil! O blogueiro coloca uma foto e a imprensa é que é a culpada? Cabe a família protestar, na justiça se possível, se achar que foi prejudicada ou a teve a imagem de seu ente querido divulgada de forma irregular, Eu pessoalmente sou totalmente contra a divulgação desse tipo de imagem, que, acredito, nada contribui ao debate.

        • EDILSON Responder

          Pois é Zé, eu discordo da prática de expor dessa forma. Pra isso existe a ferramenta de “DENUNCIAR ABUSO” no canto superior esquerdo do blog. Eu pessoalmente fiz minha parte de denunciar.

          Abraço.

    • Leonardo Soares Responder

      CRIANÇA? Pelo que li ela já estava gravida, vai saber… pra mim não passa de mais uma sem ter o que fazer que fica nas baladas e nos botecos da vida. Se tivesse em casa, estudando,sem duvida estaria menos vulnerável. E os pais? Uma menina de 15 anos gravida? É por isso que eu digo,pobre é uma desgraça mesmo…

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