Começam romarias oficiais do Círio de Nazaré

Início é pelo caminho mais longo, de Belém a Ananindeua, num percurso de 50 quilômetros. E a cada hora chega mais gente na cidade, que nessa época é invadida pela fé e cheira à maniçoba.

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Eram 8h20 de hoje (11) quando a rajada de fogos de artifícios anunciou: começaram as romarias oficiais do Círio de Nazaré. E começaram pelo caminho mais longo, da Basílica de Nazaré, em Belém, até a Igreja Nossa Senhora das Graças, matriz de Ananindeua, num percurso de 50 quilômetros, com previsão de chegada no município vizinho somente no início da noite.

A coordenação da festa estima que mais de um milhão de fiéis acompanha a romaria, num desafio cansativo de mais de 10 horas de caminhada, movido pela fé e devoção à Virgem que, neste momento, arranca emoção não apenas dos católicos, mas de gente de praticamente todas as religiões, como evangélicos e espíritas.

Há quem prefira ir de bicicleta, formando assim uma multidão que se rende às homenagens à mãe de Jesus. Ao longo dos 50 quilômetros, são 45 as homenagens, com muitos fogos, balões, flores e papel picado pelo caminho. Em Ananindeua, a imagem da Virgem ficará em um palanque, em vigília, aguardando pela segunda romaria que começará às 5h30 de amanhã (12), a dos rodoviários.

Serão mais 24 quilômetros de homenagens até o trapiche do Distrito de Icoaraci, quando será a vez das embarcações entrarem em cena. Será a romaria fluvial realizada há 34 anos pela Companhia Paraense de Turismo e que, neste ano, irá movimentar cerca de 400 embarcações, de todos os tamanhos e que oferecem um belíssimo visual.

Dentro dos pequenos e grandes barcos, espera-se que 50 mil fiéis acompanhem o trajeto sobre as águas até a escadinha da Estação das Docas, um dos principais pontos turísticos de Belém, onde a imagem é recebida com honras de chefe de Estado pela Polícia Militar.

E assim, com muitas romarias e homenagens, a capital paraense seguirá se rendendo ao poder amoroso e milagroso de Maria de Nazaré até o final deste mês, com 12 romarias e marcada pela grande procissão no segundo domingo de outubro, quando dois milhões de pessoas são aguardadas.

Sacrifícios e sabores

Não faltam histórias de milagres, de gratidão, de fé de pessoas que vêm de todo o Pará, de outros Estados e até de outros países para se emocionar sob o olhar da Virgem e pagar promessa, como o autônomo Nerivan Costa, que juntamente com um grupo de moradores do município de Magalhães Barata percorreu 162 quilômetros até Belém, para agradecer.

Nas mãos do romeiro, a imagem da Santinha dá força e coragem para seguir a longa viagem. “Há três anos que eu não participava mais dessa caminhada e, na última hora, Jesus me iluminou, quer dizer, a nossa Santa intercedeu pelos meus pedidos, Jesus ouviu e estou nessa caminhada de fé”, conta Nerivan.

No Círio deste ano, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo sSocioeconômicos (Dieese) calcula a presença de cerca de 80 mil turistas, sendo a maioria ( 14%) do Maranhão, seguido por São Paulo (11%), Ceará (9%) e Rio de Janeiro (8%). E se há um cheiro que eles vão sentir por toda cidade é o da maniçoba, que fica no fogo por quase uma semana para o tradicional almoço do Círio.

Como diria a cantora Fafá de Belém, que todo ano prepara uma varanda com artistas convidados para homenagear Nossa Senhora na grande procissão, “é mergulhar na maniçoba e distribuir esse amor imenso”.

Apesar de viver o Círio todos os anos, Fafá sempre se mostra ansiosa, assim como o músico e professor de informática Denilson Marques, do grupo cultural Retumbá, de Parauapebas, cidade que ele escolheu para morar há 20 anos. Mas quando chega outubro, nada mais irresistível que viver o clima da capital paraense.

“Nos últimos dez anos tomei como propósito ir para esse dia tão importante para a fé em Cristo, para a fé dos paraenses, que é prestar essa pequena homenagem e cumprir promessas e pactos firmados com Nossa Senhora”, diz Denilson. “É um momento também de renovação dos votos, de buscar novas energias, novas forças. É um momento único em que todos nós podemos também nos confraternizar e encontrar familiares”.

Por Hanny Amoras – Correspondente do Blog em Belém