Com novo presidente, União Brasil prepara federação com PP

Por unanimidade, Antonio Rueda é eleito presidente da legenda
Rueda (centro), é cumprimentado por correligionários pela vitória na eleição para a direção dia União Brasil

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Se os militantes do União Brasil ainda tinham alguma dúvida sobre o futuro da legenda sob o comando do então presidente nacional, deputado federal Luciano Bivar (PE), isso foi dissipado na quinta-feira (29), em Brasília, com a eleição, por unanimidade, de Antonio Rueda, para substituí-lo prometendo o “exercício diário do diálogo e da democracia” e projeto robusto para as eleições municipais.

Além de Rueda na presidência, ACM Neto ocupará a vice-presidência e o senador Davi Alcolumbre (União-AP) será o secretário-geral. A chapa vencedora recebeu todos os 30 votos dos filiados presentes que estavam aptos a votar.

Em seu discurso, Rueda agradeceu o apoio maciço que recebeu do ministro do Turismo, Celso Sabino, governadores, deputados federais, senadores, prefeitos, vereadores e demais lideranças da sigla.

“Hoje foi um exemplo de democracia. Democracia é o pilar de tudo. Assim será esse partido, o exercício diário do diálogo e da democracia, porque é assim que as coisas funcionam. Temos projeto para 2024, nosso partido será um dos que mais vai fazer prefeitos. Tenho a clareza que esse time nunca esteve tão unido, vamos entregar o melhor para o Brasil. Estou vivendo um sonho”, resumiu.

Vice-presidente eleito, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto ressaltou que o novo diretório é marcado pela “presença de representantes com voto e densidade político-eleitoral”.

“Passamos a oferecer ao Brasil um partido mais fortalecido, que começará a pensar nas eleições de 2024, para que a gente tenha o maior número de candidatos a prefeito e vereador. Nascemos para ser não somente um dos partidos com maior representatividade parlamentar, mas um partido que de fato seja protagonista da construção do futuro do nosso país”, afirmou.

Lideranças do União Brasil discutem destino da legenda

Comunicado oficial divulgado por Antonio Rueda

“A nova diretoria do União Brasil, eleita democraticamente nesta quinta-feira (29/2), vem a público agradecer o apoio dos filiados e delegados do partido. A realização do pleito foi uma demonstração do compromisso democrático e republicano da legenda, que está comprometida com o desenvolvimento econômico e social do país dentro de uma ótica liberal, transparente e pautada na ética e na legalidade.

As eleições para a executiva nacional do União Brasil seguiram rigorosamente as diretrizes do estatuto do partido. A chapa eleita teve a totalidade dos votos apurados, o apoio dos filiados e dos mais de 50 deputados, oito senadores e os quatro governadores do partido, demonstrando a unidade e a firmeza de propósitos do União Brasil.

O partido vai se manter na busca por soluções concretas para a vida dos brasileiros, defendendo a população, o Estado, a democracia e a liberdade. Além disso, a nova diretoria vai dedicar esforços incansáveis na promoção do livre debate de ideias no âmbito dos Três Poderes.

O Brasil livre, próspero e justo é um objetivo real por meio do esforço de todos. A democracia foi fundamental para nossa evolução, permitindo avanços econômicos e sociais. O União Brasil é uma força coletiva formada para promover o diálogo construtivo e trabalhar em prol de um Brasil melhor. Juntos unidos, vamos alcançar a nação que sonhamos para as futuras gerações”.

Antônio de Rueda
Presidente eleito do União Brasil

Planos

Bivar perdeu o posto não sem antes criar problemas. Ao sentir que seria derrotado pelo advogado Antônio Eduardo Gonçalves de Rueda, então 1° Vice-Presidente Nacional da legenda, o candidato à reeleição tentou uma “virada de mesa” e tentou cancelar a convenção, manobra que foi rechaçada no voto.

O União Brasil sob Bivar rachou. O partido foi criado em 2022 como resultado da fusão entre o DEM e o PSL, mas as duas alas nunca se acertaram.

Na sede da sigla, em Brasília, Rueda estava rodeado por egressos do antigo DEM, como o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, o líder do legenda na Câmara, Elmar Nascimento (BA), o líder no Senado, Efraim Filho (PB), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Todos farão parte da nova Executiva. Bivar, que era do PSL antes da fusão, ficou de fora.

“Hoje a gente renasce, de uma forma absolutamente positiva. Até hoje, o partido vinha sendo construído de uma forma cartorial”, disse Elmar, em crítica velada à gestão de Bivar. ACM Neto, por sua vez, brincou que o partido não poderá mais ser chamado de “Desunião Brasil”.

De acordo com Efraim, a legenda não terá mais alas divergentes. “Rueda, você é a expressão daquilo que se pensou na fusão. A partir desse momento, essa sinergia, essa simbiose de dois partidos que se fundiram vai criar uma verdadeira união”, afirmou o senador.

Rueda e seus aliados falaram em unidade e pacificação, mas Bivar disse ao que a eleição foi “viciada” e “está nula de pleno direito”. “Como a convenção foi viciada, ela não surte nenhum efeito, nem bancário, nem administrativo, nem coisa nenhuma. Esse é o fato”, disse o deputado. Ele não confirmou, contudo, se levará a disputa ao Judiciário.

ACM Neto rebateu as acusações de Bivar. “É bom lembrar que foi o próprio presidente Bivar que convocou essa convenção. Ela foi homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral e respeitou, rigorosamente, todas as exigências do nosso Estatuto”, disse o ex-prefeito de Salvador. “O produto do respaldo jurídico com a força política é o que a gente pode oferecer”, emendou.

“Lamentamos que o presidente Bivar não tenha compreendido que passara a hora da passagem do bastão para que essa nova geração pudesse assumir o comando e o destino do partido”, disse Efraim.

Na manhã da convenção, Bivar publicou um edital que cancelava a convenção, mas seus adversários aprovaram um recurso para garantir a realização do encontro. O dirigente foi ao local do encontro, chamou Rueda de “covarde” e depois foi embora.

O mandato de Bivar à frente do União termina somente em 31 de maio. A mudança no comando da sigla foi definida no final do ano passado, após uma série de embates internos.

Durante uma entrevista coletiva na sede do partido na quarta-feira (28), véspera da convenção, Bivar carregava uma pasta com a inscrição “denúncias”. O deputado disse que não poderia revelar o conteúdo dos documentos, mas afirmou que pode levá-los ao Ministério Público. De acordo com ele, há uma investigação interna sobre integrantes da sigla.

Embora não tenha dito com todas as letras que as supostas denúncias que carregava eram contra Rueda, nem apresentado provas, o presidente do União deu a entender que seu possível sucessor estaria envolvido nos supostos esquemas ilícitos.

“Essas denúncias são de toda a sorte, são incríveis. São denúncias de que o partido não pode estar na mão de alguém que queira usá-lo a título de fazer negócios”, disse o deputado. “Denúncias têm aqui. Eu não posso colocar uma denúncia sem antes ver a procedência dela. Certamente eu vou abrir uma investigação sobre isso. Como as denúncias são graves, eu posso até levar ao Ministério Público”, ameaçou Bivar.

Bivar e Rueda conversaram por telefone na segunda-feira (26). Segundo a coluna do jornalista Lauro Jardim, em O Globo, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), relatou a deputados que Bivar teria ameaçado de morte familiares de Rueda. “Sou um cara pacífico”, respondeu Bivar na entrevista coletiva. “Foi picotado um estado emocional de parte a parte”, emendou, em referência a um suposto áudio da conversa mostrado por Elmar.

O presidente do União também atacou Elmar. “Eu não sei de que lado está o líder Elmar (líder do União na Câmara dos Deputados). Eu só fico preocupado porque ele é um candidato nosso para uma sucessão do (Arthur Lira). Mas, tendo um comportamento desse, dúbio, nos deixa preocupados em o partido apoiá-lo ou não”, disse.

Bivar e Elmar divergem internamente com frequência, e o presidente da sigla já havia tentado tirar o deputado baiano da liderança na Câmara em novembro de 2022. Naquele mês, a sigla decidiu declarar apoio à candidatura de Lira à reeleição na presidência da Casa, em acordo costurado por Elmar, contra a vontade de Bivar, que pretendia lançar seu próprio nome ao posto.

Na campanha eleitoral de 2022, houve reclamações no União sobre a destinação de recursos dos fundos eleitoral e partidário, o que desgastou Bivar. Vários diretórios regionais do partido também racharam nos últimos meses.

Há um plano para sacramentar uma Federação que voltaria a ser ocupada com os Republicanos e com o PP, a maior bancada no Congresso Nacional

Fusão

A futura troca no comando da União Brasil pode facilitar o caminho para que o partido faça uma federação com o PP, avaliam integrantes da própria legenda.

Na prática, isso significa que as duas siglas andariam como uma só nas eleições tanto municipais como nacionais. Dirigentes partidários favoráveis a essa ideia ponderam, no entanto, que o assunto não deve ser resolvido no curto prazo.

O principal entusiasta dessa ideia é o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), para quem fazer a junção das siglas —mas num formato diferente de uma fusão — facilitará a eleição de parlamentares no Congresso e gerará economia de dinheiro.

O plano dos dirigentes partidários é ainda mais ambicioso e prevê juntar ao grupo da federação o Republicanos.

Uma união dessas siglas colocaria no mesmo barco para 2026 o governador paulista, Tarcísio de Freitas (hoje no Republicanos e que pode disputar tanto a reeleição em SP como sair candidato ao Planalto), e o governador goiano, Ronaldo Caiado (hoje na União Brasil e pré-candidato à Presidência), além do atual presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), que deixa o comanda da Casa em fevereiro de 2025.

Maior bancada

Caso a federação entre PP e União Brasil seja sacramentada, a aliança teria a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 109 parlamentares (ultrapassando o PL, hoje com 97) e alcançaria a marca de 13 senadores.

Apesar disso, há membros do PP que dizem que é preciso cautela nesse movimento, diante das brigas internas do União Brasil. Há uma avaliação de que a decisão nesse sentido só será tomada se houver uma pacificação na legenda.

O PP indicou ao União Brasil que poderá apoiar a candidatura de Davi Alcolumbre à presidência do Senado em 2025 como parte da costura da aliança. Esse movimento diminuiu a resistência de Alcolumbre à federação, segundo esses interlocutores.

Dificilmente a decisão será tomada antes das eleições municipais de outubro, avaliam dirigentes da União Brasil.

Por outro lado, há conversas também para uma eventual federação entre PP e Republicanos. De acordo com membros do PP, isso estaria praticamente sacramentado — restando apenas decidir se há disposição para que isso ocorra já para as eleições municipais de outubro ou se ficará para depois.

Caso PP e Republicanos se unam em uma aliança, o caminho estaria pavimentado para, no futuro, se aliarem à União Brasil, formando assim uma bancada robusta no Congresso Nacional.

O objetivo dos dirigentes é formar a federação ao menos antes das eleições de 2026. O cálculo de presidentes de partidos é que hoje é gasto um volume muito grande de dinheiro com candidaturas frágeis. Ao formar federações, eles dizem que esse problema seria minimizado.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.