Com 500 mil mortes por Covid-19, Brasil caminha para ser o país mais mortal do mundo durante a pandemia

No ritmo atual, alcançado 51 dias depois de o país ter atingido 400 mil vítimas, em breve, país vai superar os Estados Unidos em número de mortos
Erros na condução da pandemia custarão a reeleição de vários governantes

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Brasília – O Brasil encerra a semana em luto pelos mais de 500 mil brasileiros mortos devido à pandemia da Covid-19, marca atingida neste sábado (19). O número pode ser maior, segundo pesquisadores que estão acompanhando a evolução da doença; ele estimam que a subnotificação dos casos seja de 20% a maior, já que nem todos os infectados fazem o exame para detectar a presença do novo coronavírus.

No ritmo atual, alcançado 51 dias depois de ter atingido 400 mil vítimas, em breve, o país vai superar os Estados Unidos em número de mortos, alcançando o macabro pódio de nação mais mortal do mundo durante a pandemia.

O Brasil torna-se o segundo país a ultrapassar os 500 mil mortos e, nessa semana, segundo registros oficiais das secretarias de Saúde dos estados, reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa, apenas os Estados Unidos superaram essa cifra, passando de 600 mil óbitos no dia 15 de junho. A diferença é que, por lá, mais de 148 milhões de norte-americanos (45% da população) estão totalmente imunizados; por aqui, apenas 24.243.552 milhões de brasileiros (11,45% da população) já tomaram as duas doses.

Com a vacinação ainda lenta, o vírus se alastra por todas as regiões do Brasil. Na última semana, houve média de cerca de 2 mil mortos por dia pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). A média diária de novos casos está em torno de 70 mil, o que deixa o atual momento entre os piores da pandemia.

Desde o primeiro registro da doença no país, em fevereiro de 2020, mais de 17,8 milhões de pessoas já foram infectadas pelo Sars-CoV-2 no Brasil – número que provavelmente também está subdimensionado.

Os dados comparativos mostram que as autoridades brasileiras erraram na condução do país em meio à pandemia, quando se considera a taxa de mortos. Entre as maiores economias do mundo, o Brasil é o país que acumula mais mortes por 100 mil habitantes.

Apesar de todas as evidências científicas disponíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mantém o negacionismo que expressou desde o primeiro momento. Ele já subestimou o perigo que a doença representa quando a chamou de gripezinha, lançou desconfiança sobre as vacinas que comprovadamente podem diminuir os riscos de morte e não segue as medidas de proteção contra o vírus, como uso de máscara e distanciamento social.

Pressionado pelo número elevado de mortes, Bolsonaro até apareceu em rede nacional para celebrar a distribuição de 100 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 aos estados e municípios, mas ao mesmo tempo não dá sinais de que ele mesmo deve se vacinar. Outros líderes mundiais tomaram a injeção no braço em público como maneira de estimular a população e dissipar qualquer receio provocado por notícias falsas.

As vacinas contra a Covid-19, desenvolvidas em tempo recorde e algumas delas com eficácia extraordinária, têm seus dados de segurança continuamente revisados por autoridades sanitárias, como a Anvisa. Países que escolheram o caminho da vacinação em massa, como os Estados Unidos e Israel, agora colhem os bons frutos dos imunizantes.

No Brasil, mesmo com uma vacinação abaixo do desejado, os imunizantes já teriam evitado a morte de 43 mil pessoas acima de 70 anos, segundo estudo do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a Universidade Harvard e o Ministério da Saúde.

Já o uso de máscara é uma medida simples e barata para conter a disseminação do Sars-CoV-2 e outros vírus respiratórios. Sabiam disso desde o início os médicos e os países asiáticos que melhor lidaram com a pandemia. Elas ainda são necessárias e devem seguir essenciais por um período sem data limite, onde o vírus tem alta circulação, a vacinação anda lentamente, o transporte público continua promovendo a maior aglomeração diária sem providências dos governantes, e isso tudo terá um custo em 2022, quando vários disputarão a reeleição.

Por Val-André Mutran – de Brasília