Cidades paraenses entre as 10 piores do Brasil em saneamento

Santarém é última em índice de fornecimento de esgoto à população e Ananindeua, penúltima em água encanada. Belém é pior das 3 em tratamento do esgoto e penúltima entre as capitais.

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No crédito, no débito e no PIX. Esse é o conjunto de vergonha que as três maiores cidades paraenses acabam de passar por não ofertarem plenamente serviços de saneamento básico a sua população. Na verdade, Belém, Ananindeua e Santarém têm indicadores de distribuição de água potável e rede de esgoto tão pífios que estão praticamente eternizadas entre as últimas — e piores — posições dos estudos anuais divulgados pelo Instituto Trata Brasil, o guru do setor, em parceria com a consultoria GO Associados.

As informações lamentáveis e vexatórias foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu, que analisou os dados do recém-lançado “Ranking do Saneamento 2022”, estudo que abrange e compara a situação dos serviços de saneamento básico dos 100 municípios mais populosos do Brasil. Desde o primeiro levantamento, divulgado em 2009, as cidades paraenses jamais saíram de entre as 20 piores.

O panorama atual é o seguinte: Santarém é a 3ª pior cidade brasileira em saneamento, considerando-se o conjunto de indicadores analisados; Belém é a 5ª pior; e Ananindeua, 6ª pior. Há 13 anos, quando, pela primeira vez, o Trata Brasil investigou a situação dos 79 mais populosos municípios, Belém já era a 6ª pior e Ananindeua, a 13ª. Santarém ainda não havia entrado no radar.

O levantamento divulgado agora se vale de dados oficiais do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) coletados em 2020. O SNIS é gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e ao qual os próprios municípios precisam prestar informações sobre fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, investimentos em saneamento, perdas de água no sistema e população atendida com água encanada e esgotamento sanitário.

Cidades afogadas na fossa

Santarém é, entre as 100 maiores cidades do país, a que menos oferta rede de esgoto a sua população. Lá, de acordo com o Instituto Trata Brasil, apenas 4,14% da população têm acesso a esse serviço básico que mais parece ser de luxo. É totalmente o oposto das cidades paulistas Piracicaba e Bauru, onde 100% dos moradores têm esgoto coletado pela rede geral. Outras 34 cidades brasileiras têm índice de coleta de mais de 90% e, por isso, podem se gabar de já terem o serviço universalizado, conforme a legislação vigente.

Não muito diferente da realidade de Santarém, em Belém apenas 17,14% da população têm acesso à rede de esgoto, 4º menor percentual do pais. Em Ananindeua, a taxa é de 30,18%, 9º menor índice.

Para piorar, as três cidades paraenses são as únicas representantes de um mesmo estado em que menos de 10% do esgoto coletado é tratado. Em Santarém, trata-se apenas 7,8%; em Ananindeua, 4,5%; e em Belém, 3,61%. Esses números revelam a falência completa do serviço de saneamento no Pará, uma vez que as cidades não conseguem tratar em percentuais mínimos o pouco esgoto que elas dizem coletar.

As mazelas não param por aí. Mesmo cercado por muita água, cortado por alguns dos maiores rios do país e sendo o estado onde mais chove, o Pará tem as cidades com menos água farta nas torneiras por meio de rede geral de abastecimento. Enquanto em 46 das maiores cidades brasileiras 99% da população tem água encanada, em Ananindeua o percentual não passa de 33,8% e é a 2ª pior situação do país.

Em Santarém, só metade da população, precisamente 50,9%, tem abastecimento de água potável, mesmo morando vizinha aos gigantescos rios Tapajós e Amazonas. Na capital paraense, Belém, a situação é um pouco melhor, mas só um pouco: 73,41% da população têm água encanada, o que ainda assim é muito inferior à média das cidades brasileiras, onde 94,38% dos habitantes têm acesso ao líquido preciso.

Por sorte, o estudo se limitou apenas aos 100 municípios mais populosos. A partir da edição de 2024 do Ranking de Saneamento, e diante da atualização população por ocasião do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), novos representantes paraenses devem entrar no grupo, como Marabá e Parauapebas. Mas se em mais de dez anos não houve revolução no saneamento básico pelo estado, dificilmente em dois, e com novos membros, a forma de passar vergonha mudará.