Caso Júlio César: Polícia Civil fará reprodução simulada dos fatos hoje na Zona Rural

Peritos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, de Belém, farão a reconstituição do crime

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As investigações sobre o suposto atentado sofrido por Júlio César, candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) à prefeitura de Parauapebas, terão novos episódios a partir desta quinta-feira (29). Logo mais a noite peritos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, de Belém, farão a reconstituição do crime (Art. 7º do CPP).

Todos os que estavam com o candidato no momento do atentado participarão individualmente da “reprodução simulada dos fatos”, ocorrido no dia 14 de outubro na estrada do povoado Carimã, por volta das 21 horas, quando o candidato voltava de uma agenda política na Zona Rural de Parauapebas e teve seu veículo interceptado e alvo de vários tiros, tendo o candidato sido acertado por um deles.

Imediatamente após o atentado, ainda na noite da quarta-feira, enquanto o candidato era atendido em um hospital do município e ainda não se sabia a gravidade dos ferimentos, apoiadores da candidatura de Júlio César iniciaram forte campanha publicitária ao fato, insistindo tratar-se de um atentado eleitoral, fato que não é confirmado pelo Polícia Civil que investiga o caso. O certo é que a ação de marketing em cima do atentado rendeu frutos ao candidato, que já aparece melhor colocado nas últimas pesquisas de intenção de votos registradas junto à Justiça Eleitoral.

Outras versões?

A Polícia Civil investiga a gravação de uma conversa entre Júlio Cesar e um fazendeiro da região divulgada nas redes sociais que mostra um outro lado do episódio, já que esta aponta que supostamente Júlio Cesar estaria envolvido em um quiproquó entre militantes de um grupo de invasores de terras com o objetivo de estimular a reforma agrária no município e um fazendeiro da região.

Outra versão que circula com certa regularidade nas redes sociais e bastante divulgada por aqueles que fazem oposição a Júlio César é a de que tudo não passou de uma grande armação visando sensibilizar os eleitores. Fontes ligadas ao Blog na Polícia Civil do Pará preferem não comentar essa versão, informando apenas que todas as possibilidades estão sendo consideradas e investigadas.

Amanhã, após a reprodução simulada dos fatos ocorridos em 14 de outubro com o candidato do PRTB, haverá uma coletiva de imprensa com as presenças do delegado-geral do Pará e do responsável pela Diretoria de Polícia do Interior. Peritos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves também deverão participar da coletiva.

É preciso agilidade, rapidez da Polícia Civil para elucidar esse fato para que este não interfira ou macule o processo político eleitoral em Parauapebas. Se JC ganhou pontos com o atentado alegando ser ato político, pode inevitavelmente perder se ficar provado o contrário. Daí, sabe-se lá quem tem mais pressa na conclusão das investigações, se o candidato que recebeu o atentado ou quem mandou fazer, ou, ainda, as autoridades judiciárias e eleitorais.

Violência política

A Região Norte registrou 18 assassinatos e atentados políticos nos últimos quatro anos. De acordo com a pesquisa “Violência Política e Eleitoral no Brasil” lançado recentemente pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global, o Pará é o Estado com maior número de ocorrências na região, tendo 11 registros. Nacionalmente, o Pará divide a segunda colocação entre os Estados com maior número de assassinatos e atentados a políticos com Minas Gerais, Maranhão e Ceará. Na região, Tocantins tem três casos registrados e Roraima, Acre, Amazonas e Rondônia, um caso cada.

No total, o estudo mapeou em todo o país, entre janeiro de 2016 e agosto de 2020, 125 atos violentos contra a vida. Uma média de, pelo menos, 27 casos de ataque à vida de mandatários eleitos e pré-candidatos por ano. Cerca de 63% dos crimes permanece sem solução. Entre as principais vítimas, vereadores eleitos e pré-candidatos a vereadores (61%) e prefeitos e vice-prefeitos eleitos e pré-candidatos (26%). Nos exemplos mapeados, 83% dos atentados e assassinatos aconteceram em cidades do interior do país.

A violência política ganhou destaque no país com a polarização evidenciada nas eleições de 2018 e com o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, em março do mesmo ano, crime que, como a maioria dos pesquisados, permanece sem solução. Os atos de violência política são um fenômeno que o Brasil não via com tanta intensidade desde o fim da ditadura militar.