Alta nos preços dos combustíveis derruba mais um da Petrobras

O executivo Adriano Pires substituirá Silva e Luna na presidência da estatal. Com experiência de quase 40 anos na área de energia, ele é considerado pelo mercado um executivo de alto nível e altamente preparado
O executivo Adriano Pires é especialista em petróleo, gás e logística

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Brasília – A “caneta Bic” do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi uma das protagonistas do tumultuado início da semana em Brasília. Numa segunda-feira (28) atípica, o objeto assinou a exoneração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e a indicação do novo presidente da Petrobras, o executivo Adriano Pires, que deve substituir o general Joaquim Silva e Luna no comando da maior empresa da América Latina. Após tanta agitação, o presidente passou mal e foi internado para exames. Recebeu alta médica na manhã desta terça-feira (29), após passar a noite no Hospital das Forças Armadas (HFA).

Antes de ser internado, Bolsonaro acionou o Ministério de Minas e Energia (MME), que, através de um informe oficial anunciou que o economista e consultor Adriano Pires, 64 anos, será o novo presidente da Petrobras. A notícia impactou a Bolsa de Valores, uma vez que as ações da petroleira puxam, para cima ou para baixo, o índice da Ibovespa.

No fim do pregão da segunda-feira (28), as ações da Petrobras caíram quase 3%. Os papéis PETR4 recuaram 2,41%, acumulando uma queda de -7,29% ao longo do mês. Já os papéis PETR3 caíram em 2,97%, acumulando -6,63% ao longo do mesmo período.

Na nota do MME, o ministério informa a relação de indicados da União, que é o acionista controlador da companhia, para compor o Conselho de Administração da Petrobras. Os nomes serão apresentados na Assembleia-Geral Ordinária da empresa, que ocorrerá no dia 13 de abril.

A relação indica Adriano Pires para o exercício da presidência da empresa e o engenheiro Rodolfo Landim (Presidente do Clube de Regatas do Flamengo) para presidir o Conselho de Administração. O novo presidente da Petrobras precisa necessariamente compor o conselho, de acordo com o estatuto. Outros seis membros também foram indicados.

“O Governo renova o seu compromisso de respeito a sólida governança da Petrobras, mantendo a observância dos preceitos normativos e legais que regem a Empresa”, conclui o ministério no comunicado.

General Joaquim Silva e Luna presidiu a Petrobras por um ano

Bastidores

O general Silva e Luna será recebido no Palácio do Planalto pelo presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (29), e vai ouvir que deve continuar no exercício do cargo até a realização da assembleia. Até as colunas do prédio projetado por Oscar Niemeyer sabem que o militar será substituído devido os sucessivos aumentos do preço do combustível, causando enorme desgaste político a um presidente que vai tentar a reeleição.

Silva e Luna estava no cargo de presidente da companhia desde abril de 2021, quando substituiu Roberto Castello Branco. Na época, Bolsonaro argumentou que a troca era motivada pela alta do preço do combustível, o que torna o emprego de presidente da Petrobras um cargo de risco máximo.

Quase um ano depois da posse de Silva e Luna, a situação se repetiu. Com os recentes reajustes no preço do combustível realizados pela Petrobras, em função da alta dos preços do petróleo no mercado internacional agravados com o início da guerra no Leste Europeu, os boatos de uma nova substituição para a presidência da companhia começaram a ventilar em Brasília após o último aumento.

Pires terá no comando da Petrobras o desafio de gerir as sucessivas altas nos preços dos combustíveis, que custaram o cargo de Silva e Luna, que deixa a estatal bastante criticado pelo Congresso e pelo próprio chefe do Planalto. O Mercado teme intervenção na política de preços da Petrobras e os ânimos dos investidores serão testados ao longo da semana.

Quem é Adriano Pires

Com experiência de quase 40 anos na área de energia, Adriano Pires é considerado pelo mercado um executivo de alto nível e altamente preparado. Dirige o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), do qual é sócio-fundador. Ele é consultor na área de petróleo e gás e já foi membro da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), em 2001.

Pires é doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII e mestre em Planejamento Energético pela COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O economista também acumula experiências como consultor do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Recentemente, escreveu um artigo em que se posiciona de forma contrária a uma intervenção na política de preços da Petrobras, que usa o modelo de preço de paridade de importação (PPI), segundo o qual a companhia reajusta os valores dos derivados do petróleo com base na cotação da commodity no mercado internacional.

“Não podemos, e não devemos, ceder à tentação de intervir nos preços da Petrobras, algo que só trouxe prejuízos para toda a sociedade brasileira e que significa o atraso do atraso. Precisamos respeitar a legislação de preços livres em toda a cadeia da refinaria até o posto de revenda”, escreveu, ao comentar os impactos da guerra na Ucrânia sobre os preços dos combustíveis e no bolso dos consumidores.

A solução, para ele, é a criação de um fundo de estabilização para subsidiar os preços dos combustíveis quando a cotação internacional do petróleo atingir um determinado gatilho. O dinheiro sairia, sugere Pires, dos dividendos pagos pela Petrobras à União ou recursos vindos de royalties, participações especiais ou mesmo da comercialização de óleo feita pela estatal PPSA.

A criação do fundo de amortecimento consta em projeto de lei aprovado pelo Senado e relatado pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN). A proposta tramita agora na Câmara dos Deputados.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.