Usina Hidrelétrica de Tucuruí – Um Marco da Engenharia Nacional

Em seus mais de 50 anos de existência, estrutura impulsionou o desenvolvimento econômico, social e cultural da região

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A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHE Tucuruí), localizada no rio Tocantins, no município de Tucuruí, a 325 km de Belém (PA), é um dos maiores símbolos da engenharia civil brasileira. Com capacidade instalada de 8.370 megawatts (MW), está entre as maiores hidrelétricas do mundo e desempenha papel estratégico no Sistema Interligado Nacional (SIN), garantindo energia para estados como Pará, Maranhão e Tocantins.

Uma obra monumental

Iniciada em 1974, a construção mobilizou milhares de trabalhadores vindos de diversas regiões do Brasil, sobretudo do Nordeste e especialmente do Maranhão. O projeto foi desenvolvido pelo consórcio Themag-Engevix e executado pela Construtora Camargo Corrêa, então a maior do país. A obra era de responsabilidade do governo federal, por meio da Eletronorte.

A barragem, erguida em aterro compactado, possui 11 quilômetros de extensão e 78 metros de altura, representando um desafio logístico e tecnológico para a época. Sua primeira etapa entrou em operação em 1984 e, anos depois, novas unidades geradoras foram incorporadas, ampliando a capacidade do complexo.

Além de garantir energia, o lago artificial formado pela barragem impulsionou a navegação no rio Tocantins, fortalecendo a hidrovia e facilitando o transporte de pessoas e mercadorias na Amazônia.

A transformação de Tucuruí

Antes da obra, Tucuruí era uma cidade com infraestrutura limitada. Com a chegada da hidrelétrica, surgiram novos bairros, vilas residenciais, ruas asfaltadas, escolas e abastecimento regular de água e energia – fornecida inicialmente pela Hidrelétrica de Boa Esperança (PI).

Foram construídas as Vilas Temporárias I e II, além da Vila Permanente, destinadas a abrigar trabalhadores e técnicos. Porém, essas vilas criaram um contraste social: nelas havia conforto e infraestrutura raros para o interior amazônico, enquanto a cidade sofria com a sobrecarga nos serviços de saúde, educação e assistência social.

Apesar disso, a obra trouxe intensa integração cultural. Grandes nomes da música brasileira, como Gilberto Gil e Luiz Gonzaga, se apresentaram para os operários. O futebol também teve destaque: Garrincha, ídolo eterno da seleção brasileira, jogou no campo da Vila Temporária I. Atores da TV Globo, como Lima Duarte, Edson Celulari, João Carlos Barroso e Romeu Evaristo (o Saci do Sítio do Pica-Pau Amarelo), participaram de amistosos no campo do Paraíso Futebol Clube, na Rodovia Transcametá.

Naquela época, os principais clubes de futebol da cidade – todos amadores – eram o Paraíso Futebol Clube, o Ferroviário Esporte Clube e o Boa Esperança Futebol Clube. Entre os jogadores mais talentosos estavam Paulo Iran, Charão, Zé Manela, Tatu-Bola, Bira e Deley, craques com habilidade para atuar em qualquer grande time do Brasil, mas que permaneceram como amadores.

Economia e vida social

O jornalista Carlos Magno, morador de Tucuruí naquele período, relembra que antes da hidrelétrica a cidade sequer possuía emissoras de rádio ou televisão. Com a obra, chegou o primeiro canal de TV e foi inaugurada a Rádio Floresta FM – a segunda emissora FM do interior Pará, criada antes mesmo de emissoras de Marabá, a maior cidade da região.

Os dias de pagamento da Camargo Corrêa, especialmente o famoso dia 10, transformavam as ruas em um verdadeiro formigueiro humano. Milhares de trabalhadores saíam das vilas rumo ao comércio local, lotando bares, lojas e, sobretudo, a Avenida Assis de Vasconcelos, conhecida como Escorre Água, epicentro da boemia tucuruiense.

Os principais pontos de encontro da juventude eram o Clube da Jaqueira, o Minha Deusa, o Paulo Barroso e as discotecas do Zezé e Star, sempre movimentadas nos fins de semana. Com a expansão urbana, a cidade ganhou ainda um quartel da Polícia Militar, novas escolas e a implantação do ensino de segundo grau, que antes inexistia.

Importância e desafios

A UHE Tucuruí não apenas assegurou energia para a Amazônia e outras regiões do país, mas também impulsionou o desenvolvimento econômico, social e cultural da região. Contudo, ao longo dos anos, a usina enfrentou desafios, como a explosão de um transformador em 2023, que evidenciou a necessidade de investimentos constantes em manutenção e modernização do sistema elétrico.

Apesar dos impactos sociais e ambientais, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí permanece como um marco da engenharia nacional – símbolo de uma época de grandes obras que transformaram a Amazônia e mudaram para sempre a história de Tucuruí.

Por Carlos Magno
Jornalista – DRT/PA 2627

2 comentários em “Usina Hidrelétrica de Tucuruí – Um Marco da Engenharia Nacional

  1. Antonio Pádua Responder

    Cheguei lá em 28 de janeiro de 1981 e acompanhei todo desenvolvimento da construção, até a inauguração em novembro de 1984.

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