Twitter vai para a gaiola do homem mais rico do mundo por US$ 44 bilhões

Negócio foi concluído ao longo deste final de semana
Após anunciar como pagaria pelo aplicativo, os acionistas resolveram embolsar os lucros e vender o controle do Twitter

Continua depois da publicidade

Brasília – Após recusar, há duas semanas, uma oferta de compra de Elon Musk, o homem mais rico do mundo insistiu e o negócio foi aprovado por unanimidade pelo conselho da empresa em reuniões ao longo do final de semana e deve ser concluído até o final de 2022. O custo ao bilionário para controlar o aplicativo de mensagens será de US$ 44 bilhões.

O passarinho azul está oficialmente na gaiola do dono da Tesla e da SpaceX. A rede social fez um comunicado oficial nesta segunda-feira (25), confirmando que aceitou a oferta do bilionário americano no valor de R$ 215 bilhões na cotação atual do real, com cada ação avaliada a US$ 54,20. Ao final da transação prevista para o final deste ano, a empresa terá o seu capital fechado, tornando-se uma empresa privada do portfólio de Elen Musk.

O negócio é o maior da história envolvendo redes sociais (o Facebook comprou Instagram e WhatsApp por, respectivamente, US$ 1 bilhão e US$ 19 bilhões) e um dos maiores da história da tecnologia (o recorde pertence à Microsoft, que comprou a Activision por US$ 67 bilhões).

Segundo Bret Taylor, presidente do conselho independente do Twitter, um dos pontos considerados para a venda da empresa foi o impacto nas ações para os acionistas. “O conselho do Twitter conduziu um processo cuidadoso e abrangente para avaliar a proposta de Elon com foco deliberado em valor, certeza e financiamento. A transação proposta proporcionará um prêmio em dinheiro substancial e acreditamos que é o melhor caminho a seguir para os acionistas do Twitter”. A empresa nasceu em 21 de março de 2006, quando Jack Dorsey, cofundador e CEO, publicou o primeiro tuíte.

Com o anúncio do negócio, Musk se manifestou oficialmente e repetiu o refrão sobre liberdade de expressão. “Liberdade de expressão é o seio de qualquer democracia funcional, e o Twitter é a praça digital em que tudo que importa para a humanidade é debatido”, disse Musk. “Eu também quero transformar o Twitter em algo melhor do que nunca ao melhorar os produtos com novos recursos, tornando os algoritmos em código aberto para melhorar confiança, atacando robôs de spam e autenticando todos os humanos. O Twitter tem imenso potencial — e eu estou ansioso para trabalhar com a companhia e a comunidade usuários para destravar isso.”

Musk tuitou hoje que: “Espero que mesmo as minhas piores críticas continuem no Twitter, porque isso é o que liberdade de expressão significa.”

Após o anúncio, com o pregão da Bolsa de Valores americana em plena atividade, as ações do Twitter deram um salto de cerca de 6,3%, chegando a custar US$ 52 cada. Na compra de Musk, cada papel foi negociado por US$ 54,20, valor que o Twitter não conseguia alcançar desde novembro de 2021. O negócio representa um “premium” de 38% nos papeis em relação ao dia 1 de abril, quando Musk revelou que havia comprado 9% da companhia, semana atrás.

Segundo o documento publicado pelo Twitter, a transação deve ser financiada por meio de empréstimos e dívidas, totalizando US$ 25,5 bilhões. Além disso, Musk deve bancar US$ 21 bilhões do próprio bolso.

Negociações

O avanço das negociações aconteceu nos últimos dias, após Musk detalhar como ele irá pagar pela aquisição do Twitter. O plano do homem mais rico do mundo para comprar a rede social, de acordo com o jornal New York Times, envolveria o desembolso de aproximadamente US$ 21 bilhões da sua própria fortuna, cartas de compromisso do banco Morgan Stanley e de um grupo de credores avaliados em cerca de US$ 13 bilhões, além de outros US$ 12 bilhões provenientes de empréstimos a partir de ações do próprio Musk na Tesla, montadora de carros elétricos da qual ele fundou após a venda do aplicativo de pagamentos PayPal.

Segundo especialistas, foi um ataque voraz do bilionário. “Não houve outros interessados nem cavaleiros brancos neste processo de aquisição. O conselho do Twitter foi colocado contra a parede quando Musk detalhou, na semana passada, como faria a compra”, afirmou Dan Ives, analista da consultoria Wedbush, em nota a investidores na terça-feira (19), logo após a divulgação da notícia.

Porém, os investidores da Tesla, empresa de carros elétricos de Musk, mostraram preocupação com o negócio. Os papéis da montadora apontavam queda de quase 1,5% após o anúncio. Atualmente a Tesla é a montado mais valorizada do mundo. Suas ações valem US$ 1,031 trilhões de dólares na cotação da Bolsa Nasdak, desta segunda-feira (25).

Nas últimas semanas, quando Musk tuitou sobre possíveis mudanças na rede social, a Tesla também registrou perda nos papéis de 16%. Segundo especialistas, o valor pode continuar caindo com o aumento da desconfiança de investidores da montadora elétrica. Isso porque existe o temor em relação a como Musk vai lidar com o trabalho no Twitter e com a Tesla — o medo é que a empresa de carros não seja mais a prioridade do bilionário.

Um CEO do Vale do Silício próximo a Musk, diz que as pessoas realmente não conhecem Elon Musk, um gênio hiperativo que além da Tesla, também comanda a SpaceX, a empresa espacial mais valorizada da iniciativa privada. Ele dá conta da Tesla, da SpaceX, do Twitter e o que mais aparecer”, concluiu.

Primeiras medidas

No documento, Musk detalhou quais devem ser os primeiros passos da empresa sob seu comando. O bilionário quer transformar os algoritmos do Twitter em código aberto, tornando possível que a sociedade entenda como opera a plataforma — a medida é defendida por especialistas como uma maneira de entender como operam as plataformas e, principalmente, como frear a desinformação, que é impulsionada pelos mecanismos de engajamento das redes.

Outra medida é acabar com todas as contas de robôs de spam, ou seja, que seguem padrões de postagem repetitivos e de importunamento. A promessa provavelmente ignora os ditos robôs autênticos, criados com o intuito de informar a sociedade — recentemente, o Twitter permitiu que esses perfis na plataforma, desde que se apresentassem como robôs.

Por fim, Musk pretende autenticar todas as contas de humanos no Twitter, onde hoje é permitido criar contas falsas. A mudança tornaria o Twitter mais similar ao Facebook, onde cada usuário é autenticado pela empresa.

Repercussão

O futuro, porém, guarda muitas perguntas e preocupações de especialistas. A depender da manutenção dos times e das políticas construídas na última década, podemos ter mudanças profundas no modo como a plataforma se regula e influencia nossas vidas. Fazendo um paralelo simplificador, é como se um novo governo fosse eleito, com a possibilidade de mudança de todos os ministérios. Evidente que o Twitter é uma empresa privada e não um Estado, mas o paralelo nos ajuda a pensar o modo como empresas exercem grandes poderes e influência em nossa vida cívica”, explica Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil.

A investida de Musk

No início de abril, o bilionário Elon Musk, dono da montadora de carros elétricos Tesla e da empresa de turismo especial SpaceX, anunciou a compra de 9% do Twitter, tornando-se o maior acionista individual da companhia, fundada em 2006 e famosa pela rede social de mensagens curtas e em tempo real.

Apesar de Musk ser conhecido como um feroz crítico da moderação de conteúdo, o movimento animou o mercado financeiro, que viu na entrada de Musk um jeito de tornar a plataforma monetizável — ao contrário do rival Facebook, que conseguiu construir um império desde 2005 e, hoje, é a maior companhia do ramo do mundo.

A notícia foi comemorada pelo atual presidente executivo da empresa, Parag Agrawal, e pelo fundador e CEO antecessor, Jack Dorsey. No dia seguinte, o conselho do Twitter convidou Elon Musk a integrar a mesa de decisões da plataforma para trabalhar em medidas para o futuro da empresa.

Uma semana depois, porém, Musk recusou o convite e formalizou uma proposta para comprar o Twitter por US$ 43 bilhões, ou US$ 54,20 por ação, e tornar a companhia privada. Atualmente, a companhia é avaliada em US$ 37 bilhões.

Desde então, a rede social precisa responder aos investidores se deve aceitar a proposta do bilionário, cujo patrimônio é de US$ 255 bilhões, ou recusar para vendê-lo a outro grupo. Nos últimos dias, porém, novos compradores não foram a público demonstrar interesse na plataforma, tornando a proposta do CEO da Tesla a mais atrativa.

Pílula venenosa

Após Musk recusar participar do conselho e tornar pública sua oferta de compra, o Twitter colocou em prática uma manobra corporativa conhecida como “poison pill” (pílula venenosa).

A estratégia consiste em inundar o mercado com novas ações ou deixar que acionistas as comprem com desconto. A tática serve para desencorajar e evitar que o controle acionário seja transferido para um grande investidor ou corporação de forma hostil.

Para Musk continuar sua empreitada, seria preciso convencer os investidores do Twitter a venderem suas ações diretamente para ele.

A manobra foi a última tentativa para conter o bilionário. O que não deu certo. Após apresentar seu plano de financiamento para pagar a oferta, Musk conseguiu pressionar o conselho da empresa para negociar com ele.

Alguns acionistas com grande quantidade de ações do Twitter embolsarão grandes lucros, uma vez que o mercado jamais precificou o preço do valor de uma ação do aplicativo pelo alor ofertado pelo excêntrico bilionário.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.